Cena do filme catarinense Oráculo, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn.
Para a 24ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontecerá entre os dias 22 e 30 de janeiro, a Mostra Aurora vai apresentar um recorte absolutamente inédito do cinema brasileiro contemporâneo de invenção. Serão exibidos sete filmes dentro desta seção que integra a programação e, que, pela primeira vez em sua história, reúne três títulos da Bahia. A seleção ficou a cargo da dupla de curadoria Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
Todas as produções serão avaliadas pelo Júri Oficial e concorrem ao Troféu Barroco e a prêmios de parceiros da Mostra: “Considerando a circunstância histórica tão complicada para o cinema brasileiro atualmente, foi muito importante chegarmos a esse recorte tão expressivo e inédito”, destaca Francis Vogner. Para o curador, os títulos têm singularidades que os tornam experiências distintas entre si e representam um instantâneo do atual cenário de realização no país, com produções modestas, de baixo orçamento, sem editais e de possibilidade reduzida de circulação devido a efeitos da pandemia.
Por sua vez, Lila Foster diz ter sido inevitável, para a Aurora em 2021, pensar no atravessamento do tempo no cinema brasileiro, já há alguns anos sofrendo uma série de arrochos, de mudança no financiamento e na circulação dos filmes. A situação se agravou em 2020, por conta do esvaziamento das políticas de fomento em âmbito federal e por quase um ano de isolamento devido à pandemia, o que afetou diretamente toda a cadeia profissional do setor. “A relação espectatorial com os filmes se tornou muito diferente também, diante de um público que está em quarentena e das salas que ficaram fechadas por tanto tempo. Alguns filmes deste ano na Aurora, de formas muito interessantes, fazem uma espécie de dobra no tempo em relação a esse tempo acelerado que a gente tem vivido”, comentou Lila.
Um time diversificado de profissionais foi convidado para avaliar os filmes da Mostra Aurora e é formado por: Mariana Souto, professora de cinema de Universidade de Brasília/DF); Graciela Guarani, comunicadora, produtora cultural e cineasta/MS; Ivone Margulies, professora da Hunter College em NY/EUA; Leonardo Bomfim, crítico e programador da Cinemateca do Capitólio em Porto Alegre/RS; e Soraya Martins, atriz, crítica e curadora teatral independente/MG.
Caberá ao Júri Oficial escolher o melhor filme da Mostra Aurora, o melhor filme da Mostra Foco e o Destaque Feminino, um prêmio criado e entregue a uma mulher em uma das funções da criação cinematográfica em algum longa ou curta presente nas mostras Aurora e Foco.
Os filmes da Mostra Aurora estarão disponíveis em formato on-line, poderão ser assistidos por um período de 48 horas a partir da abertura do sinal de cada filme e serão debatidos sempre na manhã seguinte à sua estreia, no programa da série Encontro com os Filmes. Toda programação será realizada virtualmente pelo site oficial do evento (clique aqui).
Sobre os filmes selecionados: O Cerco (RJ) já leva ao título a questão do corpo cerceado que tem sido parte da vida durante a pandemia e trata disso atualizando tensões do cotidiano carioca, num ambiente confinado, de movimentos intimistas e cenários limitados. Já Eu, Empresa (BA/MG) promove um jogo entre performance, ficção e documentário para tratar da precarização do mercado audiovisual brasileiro, o que se agrava em tempos são sombrios como os atuais, marcados pelo esvaziamento de órgãos de fomento e marginalização da cultura em âmbito federal.
De natureza mais fabular, A Mesma Parte de um Homem (PR) mostra o isolamento de uma mãe e sua filha em meio a acontecimentos dramáticos que não se mostram de imediato, numa ambiência naturalista e surreal que se apresenta como exercício de dramaturgia a partir de corpos tensionados e de um espaço enclausurado. No caso de Rosa Tirana (BA), a fabulação mítica do sertão baiano é feita pela ótica do olhar infantil, da imaginação, medo e projeção de uma criança a partir de seu entorno e suas relações.
Na chave da observação e da atenção aos corpos retratados em cena, Açucena (BA) olha para sua personagem com um tempo dilatado e uma montagem muito especial, que documenta também o próprio processo de espera que caracteriza o andamento do filme. Kevin (MG) tem caráter similar, ao acompanhar a personagem-título em situações que parecem estar muito próximas do cotidiano, mas com a presença da diretora do filme, que estimula e encena determinados acontecimentos diante da câmera. Por fim, em chave mais experimental, Oráculo (SC) se constitui de planos-sequências cujas densidades dramáticas se modulam com o cenário de natureza, as pessoas, as performances e um trabalho sonoro de invenção.
Conheça os filmes selecionados para a Mostra Aurora da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes:
A Mesma Parte de um Homem, de Ana Johann (PR)
Açucena, de Isaac Donato (BA)
Eu, Empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo (BA/MG)
Kevin, de Joana Oliveira (MG)
O Cerco, de Aurélio Aragão, Gustavo Bragança e Rafael Spíndola (RJ)
Oráculo, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn (SC)
Rosa Tirana, de Rogério Sagui (BA)
Foto: Divulgação.