25ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibe mais de 160 filmes em formato on-line

por: Cinevitor
Renata Carvalho em Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira.

A 25ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontecerá entre os dias 21 e 29 de janeiro, alterou mudanças em seu formato presencial por conta da pandemia de Covid-19.

O comunicado oficial, divulgado na sexta-feira, 14/01, diz: “Mesmo seguindo todos os protocolos sanitários, em conformidade com o Programa Minas Consciente, as taxas de transmissibilidade inesperadamente altas da variante Ômicron estão exigindo um cuidado ainda maior. Salvar vidas é o mais importante. Sendo assim, a Universo Produção, em diálogo com o Governo de Minas Gerais, com a Prefeitura Municipal de Tiradentes, patrocinadores, parceiros, profissionais do audiovisual, fornecedores, equipes e curadores, conclui que o melhor a ser feito neste momento é transferir as atividades presenciais da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes para o formato on-line, mantendo o mesmo propósito conceitual do evento e de programação”.

Em 2022, a Mostra de Cinema de Tiradentes comemora 25 anos de existência; uma trajetória rica em propósitos, realizações, descobertas, invenções, reflexões, formação, promoção, exibição e difusão do cinema brasileiro. A programação abrangente e gratuita exibirá 169 filmes, de 21 estados brasileiros (64 longas, 3 médias e 102 curtas-metragens), em pré-estreias e mostras temáticas.

A abertura da Mostra acontece na noite de 21 de janeiro com homenagem ao cineasta Adirley Queirós, apresentação da temática Cinema em Transição e exibição, em pré-estreia, de Fragmentos de 2016 em dois episódios, mais novo projeto de Adirley, codirigido por Cássio Oliveira. “A renovação é uma das marcas mais significativas que estampou o Brasil nas telas da Mostra Tiradentes e celebrar todas as conquistas revigora nossa alma”, ressalta Raquel Hallak, coordenadora geral do evento.

Proposta para a 25ª edição da Mostra, a temática Cinema em Transição parte da percepção de que o cinema brasileiro atravessa um período complexo e delicado em diversos setores: do desenvolvimento de projetos à produção, das filmagens à finalização, da distribuição à exibição, toda a cadeia de realização tem sido reestruturada, reconfigurada e, muitas vezes, revolucionada. “Estamos num período histórico de aceleração dos processos, que passa pela economia e pela criatividade no audiovisual, desde as formas de financiamento até a efervescência das plataformas de streaming e a crise das salas físicas”, destaca o coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis.

Analisando mudanças técnicas, estéticas e econômicas, o cinema brasileiro contemporâneo será investigado, durante a Mostra, a partir de seus novos arranjos profissionais e artísticos em andamento, diante de uma realidade econômica e criativa que segue institucionalmente negando a cultura (em âmbito de Governo Federal) e uma movimentação cultural que não pode mais se restringir aos antigos modelos de produção e circulação de obras, sob risco de sua própria sobrevivência e a dos profissionais envolvidos: “Ninguém quer e nem pode parar. Se existe muita constrição, precarização e recuos nesse processo, no aspecto criativo lidamos num cenário em que os intentos, as ideias e as práticas a partir do audiovisual são fortes em outros territórios de experimentação”, afirma Francis.

A forte presença de filmes dirigidos por pessoas negras, trans e indígenas, a proliferação de coletivos criativos vindos de outras áreas artísticas para além do cinema e a experimentação de formatos, linguagens e espaços de exibição serão fundamentais para se compreender a amplitude dos conceitos tratados na Mostra em 2022.

Sob esse recorte, cinco sessões vão apresentar e refletir os processos de transição (entre formas, plataformas, temas e artistas) pelos quais passa a produção audiovisual nos últimos anos. Diário Dentro da Noite, de Chico Diaz, ator homenageado pela 16ª CineOP em 2021, lida com as angústias da pandemia durante confinamentos realizados em meio à montagem de uma peça a partir do livro A Lua Vem da Ásia, de Campos de Carvalho. Outro título desse recorte é Hit Parade, série de TV dirigida por Marcelo Caetano que terá dois episódios exibidos na Mostra. No enredo, após levar um golpe do produtor Missiê Jack, o compositor Simão abre uma gravadora para enfrentar seu rival. Em pouco tempo, uma guerra entre eles domina a música pop dos anos 80.

Uma reunião de curtas-metragens também vai tratar desse cenário de transições, com os filmes Rua Ataleia, de André Novais Oliveira; Voz na Escuridão, de José Hélio Neto; Qual é a Grandeza?, de Marcus Curvelo; 521 Anos, de adanilo; e YÃY TU NŨNÃHÃ PAYEXOP: Encontro de Pajés, de Sueli Maxakali; assim como o média-metragem Ficções Sônicas #2 – Feitiço, de Grace Passô e Aline Vila Real.

Desde a histórica e apoteótica sessão de A Cidade é uma Só?, em 2012, quando inclusive saiu com o Troféu Barroco de melhor filme da Mostra Aurora, Adirley Queirós, cineasta de Ceilândia, no Distrito Federal, vem apresentando seus novos e instigantes trabalhos no evento. Junto ao Ceicine (Coletivo de Cinema da Ceilândia), ele toma parte historicamente em um panorama contemporâneo que, nos últimos 16 anos, se fez entre a independência radical dos coletivos e o estímulo das políticas públicas para o audiovisual em nível federal, estadual e municipal, com o fomento a pequenas produções.

Cena de O Dia da Posse, de Allan Ribeiro: selecionado.

A seleção de 169 filmes (entre longas e curtas-metragens), de 21 estados brasileiros, vai apresentar a força da cinematografia brasileira contemporânea, mesmo num momento de crise provocado pelos efeitos devastadores da pandemia e da inexistência ou paralisia de políticas públicas culturais. A coordenação curatorial do evento é assinada pelo crítico Francis Vogner dos Reis, que divide com a pesquisadora Lila Foster a seleção de longas-metragens. A curadoria de curtas-metragens foi feita por Camila Vieira, Tatiana Carvalho Costa e Felipe André Silva. Os filmes estarão distribuídos nas seguintes mostras: Aurora, Olhos Livres, Temática, Homenagem, Autorias, Foco, Panorama, Foco Minas, Praça, Formação, À Meia-noite Levarei sua Alma, Sessão Debate, Jovem, Valores, 25 anos, Regional e Mostrinha.

A Mostra Aurora, dedicada a filmes de realizadores com até três longas-metragens, tem produções inéditas em circuitos de festival, com expressões e abordagens arrojadas no atual cenário de realização. Clique aqui e confira os sete selecionados desse ano.

Nomeada em tributo ao cineasta Carlos Reichenbach, a Mostra Olhos Livres é um recorte da programação que se caracteriza pela diversidade de formas e conceitos, sem critérios uniformizantes ou regulamento prévio. Ao longo dos anos, consolidou-se como panorama amplo de algumas das proposições mais instigantes do cinema contemporâneo brasileiro, muitas vezes vindas de realizadores já com trajetória significativa nos circuitos de exibição nacional e estrangeiro. Em 2022, os títulos selecionado são:

Ava – Até que os Ventos Aterrem, de Camila Mota (SP)
Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz e Julio Matos (SP)
Manguebit, de Jura Capela (PE/SP/RJ)
O Dia da Posse, de Allan Ribeiro (RJ)
Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira (ES)
Você nos Queima, de Caetano Gotardo (SP)

Em filmes de diálogo imediato com o público, mas nem por isso mais simples ou menos complexos, os títulos da Mostra Praça em 2022 apresentam desafios estéticos estimulantes em várias possibilidades de impacto. Além de três sessões de curtas-metragens, a praça será espaço de diversos longas-metragens em pré-estreia. O selecionados são:

A Felicidade das Coisas, de Thais Fujinaga (SP)
As Faces do Mao, de Dellani Lima e Lucas Barbi (SP)
Carro Rei, de Renata Pinheiro (PE)
Lavra, de Lucas Bambozzi (MG)
Lutar, Lutar, Lutar, de Helvécio Marins Jr e Sérgio Borges (MG)

Seguindo a tradição dos chamados midnight movies, com filmes de gênero que encerram as exibições dos fins de semana da Mostra, em 2022 surge À Meia-noite Levarei sua Alma, com uma seleção de filmes perturbadores “amaldiçoada” pelo grande José Mojica Marins (1936-2020), cujo mais famoso filme de terror batiza a sessão. E é justamente de Mojica o primeiro título desse ano, A Praga, pré-estreia nacional de um projeto póstumo do criador do Zé do Caixão que ficou décadas desaparecido e foi recentemente recuperado e finalizado pelo produtor Eugênio Puppo. Também na madrugada será exibido Extremo Ocidente, de João Pedro Faro.

Na Mostra Autorias, o mais novo filme do cineasta Julio Bressane, Capitu e o Capítulo retoma o clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis, numa dança ensaística ritmada por uma singularidade de estilo: a brevidade de capítulos que expandem a figura do narrador e apresentam, na personalidade incisiva de Capitu e nas respostas titubeantes de Bentinho, uma redefinição dos duos habituais da filmografia do cineasta. Por sua vez, Cafi – Salve o Prazer, de Lírio Ferreira, resgata a vida e obra do fotógrafo e artista plástico pernambucano Carlos da Silva Assunção Filho (1950-2019) e mergulha no trabalho encantador de um artista que participou de criações e momentos-chave da música brasileira no século 20.

Outro grande artista retratado em Tiradentes, na Sessão Debate, é o cineasta Ruy Guerra, hoje aos 90 anos de idade. Tempo Ruy, documentário de Adilson Mendes, mostra o trabalho do cineasta, escritor, ator e dramaturgo moçambicano radicado no Brasil. Um filme-ensaio com materiais diversos para destacar o discurso do cineasta sobre sua obra ao longo do tempo, desde sua primeira experiência cinematográfica até momentos recentes de seu trabalho, apresentando o artista como crítico da sociedade, o cinema em favor da transformação política, a emancipação da mulher e o retorno do reprimido.

Sempre pensando na formação de novos olhares para o cinema brasileiro, as sessões Mostrinha e Jovem se dedicam ao público infantil e juvenil, considerando também a diversidade de formatos e linguagens dessa produção demográfica. Para as crianças, haverá uma sessão de cinco curtas-metragens e de três longas: Poropopó, de Luis Igreja, mostra uma família de palhaços que deixa o circo para morar na cidade e enfrentando dificuldades, preconceitos e autoritarismo com muito humor e magia; Tromba Trem, de Zé Brandão, que o divertido elefante Gajah depois que ele se torna uma celebridade da noite para o dia e se envolve num misterioso desaparecimento; e Pequenos Guerreiros, de Bárbara Cariry, no qual uma família de pescadores do litoral do Ceará decide viajar para o sertão, indo até a cidade de Barbalha, na região do Cariri, com o objetivo de pagar uma promessa durante a Festa do Pau da Bandeira.

A Mostra Jovem conta com o longa Os Dragões, de Gustavo Spolidoro, em que um grupo de cinco amigos da bucólica cidade de Cotiporã está aterrorizado com a ideia de ficarem mais velhos e com as responsabilidades que vêm no processo; e um conjunto de cinco curtas-metragens.

O Seminário do Cinema Brasileiro volta a ser um dos ambientes mais intensos de debates e discussões sobre o cinema no país. Em 2022 serão mais de 150 profissionais, entre críticos, realizadores, produtores, atores, acadêmicos, pesquisadores e jornalistas, atuando em 52 encontros e debates, entre eles a série Encontros com os Filmes, as rodas de conversa e os bate-papos após sessões do Cine-Praça.

A Mostra de Tiradentes tem também o compromisso de investir em novos talentos e promove o Programa de Formação com a oferta de oficinas audiovisuais para o público jovem e adulto, visando à capacitação técnica para o mercado de cinema em diversas frentes possíveis de trabalho. Desde sua primeira edição, em 1998, já foram certificados quase 7.000 alunos, em aproximadamente 260 oficinas ministradas.

Nos curtas-metragens, serão exibidos 102 títulos, de 18 estados. Em 2021, foram exibidos 79 curtas, portanto 2022 contará com acréscimo significativo de títulos. Clique aqui e confira a lista completa com os curtas selecionados para este ano.

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, a Mostra de Cinema de Tiradentes chega a sua 25ª edição em formato on-line. Apresenta, exibe e debate, em edições anuais, o que há de mais inovador e promissor na produção audiovisual brasileira, em pré-estreias mundiais e nacionais.

Fotos: Felipe Amarelo/Divulgação.

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