A Última Floresta, de Luiz Bolognesi, é selecionado para a mostra Panorama do Festival de Berlim 2021

por: Cinevitor

ultimaflorestaberlim2021Cinema brasileiro: A Última Floresta, de Luiz Bolognesi.

A 71ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que acontecerá em duas etapas por conta da pandemia de Covid-19, divulgou nesta quarta-feira, 10/02, os filmes selecionados para a mostra Panorama, que destaca títulos estreantes e de diretores renomados.

Em comunicado oficial, Michael Stütz, chefe da seção, disse: “O ano de 2021 é caracterizado por um cinema político combativo. Os olhares cinematográficos de cineastas fortes, o novo cinema crítico do Oriente Médio, bem como narrativas indígenas e queer estão definindo pontos claros e focados na Panorama. Os cineastas estão se posicionando com suas observações, refletindo sobre os conflitos individuais e traumas coletivos, ao mesmo tempo em que questionam as relações de poder político e interpessoal e desafiam os outros a responder”.

Neste ano, o cinema brasileiro está representado com A Última Floresta, de Luiz Bolognesi. Em imagens poderosas, alternando entre observação documental e sequências encenadas, além de paisagens sonoras densas, o diretor documenta a comunidade indígena dos Yanomami e retrata seu ambiente natural ameaçado na floresta amazônica.

O filme retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado, que vive em um território ao norte do Brasil e ao sul da Venezuela há mais de mil anos. O xamã Davi Kopenawa Yanomami busca proteger as tradições de sua comunidade e contá-las para o homem branco que, segundo ele, nunca os viu, nem os ouviu. Enquanto Kopenawa tenta manter vivos os espíritos da floresta, ele e os demais indígenas lutam para que a lei seja cumprida e os invasores do garimpo retirados do território legalmente demarcado. Mais de dez mil garimpeiros ilegais, que invadiram o local em 2020, derrubam a floresta, envenenam os rios e espalham Covid-19 e outras doenças entre os indígenas.

“Acredito que o mais interessante foi construir a história com o xamã Davi e fazer as escolhas narrativas com os Yanomami, incorporando o ponto de vista mágico deles sobre os acontecimentos. Um rico encontro entre o povo do cinema e o povo Yanomami”, afirma o diretor Luiz Bolognesi, que se apaixonou pela história de Kopenawa ao ler seu livro A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, e que o fez convidá-lo a escrever com ele o roteiro original do longa-metragem.

“É com imensa alegria e orgulho que recebemos a notícia da seleção oficial de A Última Floresta para o Festival de Berlim 2021. A situação dos povos indígenas no Brasil é gravíssima e a visibilidade internacional que a Berlinale trará ao filme e ao tema dos povos da floresta é a ação mais importante que poderíamos fazer neste momento. Seguimos avançando, em mais uma parceria com o Luiz Bolognesi, e nesse filme, de mãos dadas com Davi Kopenawa, contribuindo com esse lindo projeto cinematográfico para que o público em todo mundo conheça um pouco mais das raízes do Brasil”, disseram os produtores Fabiano Gullane e Caio Gullane.

Bolognesi, que foi premiado em Berlim com Ex-Pajé, em 2018, assina o roteiro com Davi Kopenawa Yanomami, escritor, xamã e líder político yanomami. O filme é produzido pela Gullane (dos irmãos Caio e Fabiano Gullane) e Buriti Filmes (Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi), e tem distribuição da Gullane. A estreia no Brasil está prevista para o segundo semestre deste ano.

A Berlinale também revelou os selecionados da mostra Encounters, criada no ano passado, que tem como objetivo apoiar novas vozes no cinema e dar mais espaço a diversas formas narrativas e documentais na seleção oficial. Os vencedores serão anunciados no Industry Event, em março, e a cerimônia de premiação acontecerá durante o Especial de Verão da Berlinale, em junho.

Entre 225 filmes inscritos, a mostra Perspektive Deutsches Kino também divulgou os selecionados para esta 71ª edição. A seleção deste ano reflete a crescente indefinição das fronteiras nacionais e a livre circulação de cineastas e suas histórias através das fronteiras geográficas. Embora todos os filmes tenham sido produzidos principalmente na Alemanha, as histórias e biografias dos diretores, suas equipes e protagonistas criam redes transnacionais que conectam o respectivo local com o global.

Conheça os novos filmes selecionados para o Festival de Berlim 2021:

PANORAMA

Censor, de Prano Bailey-Bond (Reino Unido)
Death of a Virgin, and the Sin of Not Living, de George Peter Barbari (Líbano)
Dirty Feathers, de Carlos Alfonso Corral (EUA/México)
Genderation, de Monika Treut (Alemanha)
Glück (Bliss), de Henrika Kull (Alemanha)
Kelti (Celts), de Milica Tomović (Sérvia)
Der menschliche Faktor (Human Factors), de Ronny Trocker (Alemanha/Itália/Dinamarca)
Miguel’s War, de Eliane Raheb (Líbano/Alemanha/Espanha)
Mishehu Yohav Mishehu (All Eyes Off Me), de Hadas Ben Aroya (Israel)
Le monde après nous (The World After Us), de Louda Ben Salah-Cazanas (França)
Night Raiders, de Danis Goulet (Canadá/Nova Zelândia)
North By Current, de Angelo Madsen Minax (EUA)
Okul Tıraşı (Brother’s Keeper), de Ferit Karahan (Turquia/Romênia)
Souad, de Ayten Amin (Egito/Tunísia/Alemanha)
Ted K, de Tony Stone (EUA)
Théo et les métamorphoses (Theo and the Metamorphosis), de Damien Odoul (França)
A Última Floresta (The Last Forest), de Luiz Bolognesi (Brasil)
Die Welt wird eine andere sein (Copilot), de Anne Zohra Berrached (Alemanha/França)
Yuko No Tenbin (A Balance), de Yujiro Harumoto (Japão)

ENCOUNTERS

As I Want, de Samaher Alqadi (Egito/França/Noruega/Palestina)
Azor, de Andreas Fontana (Suíça/França/Argentina)
The Beta Test, de Jim Cummings e PJ McCabe (EUA/Reino Unido)
Blutsauger (Bloodsuckers), de Julian Radlmaier (Alemanha)
Hygiène sociale (Social Hygiene), de Denis Côté (Canadá)
Das Mädchen und die Spinne (The Girl and the Spider), de Ramon Zürcher e Silvan Zürcher (Suíça)
Mantagheye payani (District Terminal), de Bardia Yadegari e Ehsan Mirhosseini (Irã/Alemanha)
Moon, 66 Questions, de Jacqueline Lentzou (Grécia/França)
Nous (We), de Alice Diop (França)
Rock Bottom Riser, de Fern Silva (EUA)
The Scary of Sixty-First, de Dasha Nekrasova (EUA)
Vị (Taste), de Lê Bảo (Vietnã/Singapura/França/Tailândia/Alemanha/Taiwan)

PERSPEKTIVE DEUTSCHES KINO

Instructions for Survival, de Yana Ugrekhelidze (Alemanha)
Jesus Egon Christus (Jesus Egon Christ), de David Vajda e Saša Vajda (Alemanha)
In Bewegung bleiben (Keep Moving), de Salar Ghazi (Alemanha)
Die Saat (The Seed), de Mia Maariel Meyer (Alemanha)
When a farm goes aflame, de Jide Tom Akinleminu (Alemanha)
Wood and Water, de Jonas Bak (Alemanha/França)

Foto: Pedro J. Márquez.

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