A Viagem de Pedro, de Laís Bodanzky, abre o 16º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro

por: Cinevitor
Rita Wainer e Laís Bodanzky na abertura do festival.

A 16ª edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro começou nesta quinta-feira, 09/12, em João Pessoa, no Cinépolis do Manaíra Shopping. Em formato híbrido, o evento conta com sessões presenciais e exibições virtuais na plataforma Aruanda Play.

Além da presença de autoridades, a cerimônia de abertura foi marcada por diversas homenagens. O primeiro nome destacado foi o do maestro, regente e compositor paraibano José Siqueira (in memorian). Na sequência, o ator e escritor W. J. Solha, uma referência do cinema paraibano, também foi honrado.

Em comemoração aos 20 anos do premiado curta-metragem A Canga, dirigido por Marcus Vilar e protagonizado por W.J. Solha, a produção ganhou uma sessão especial na abertura com a presença do diretor e alguns integrantes da equipe, entre eles, a atriz Zezita Matos: “Eu estou com a sensação de estar exibindo o curta pela primeira vez. Ainda tenho uma força muito grande quando eu revejo esse filme. Aproveito para lançar aqui, em primeira mão, a ideia de fazer um longa-metragem de A Canga com o romance todo”, disse Vilar.

Depois do curta, foi a vez do longa de abertura: A Viagem de Pedro, da cineasta Laís Bodanzky, que apresentou o filme ao lado da atriz e artista plástica Rita Wainer: “É a primeira vez que estou no festival e é uma honra. Dezesseis anos depois que ele começou, fiquei fazendo a conta de como que eu não estive aqui antes. Que bom que agora deu certo e tenho um filme para justificar minha presença”, disse a diretora.

Ainda no palco, Laís comentou: “Estamos vivendo a retomada do presencial e a tomada de consciência que a cultura nos pertence; quem faz somos nós. O que é público, é nosso. Então, vamos cuidar, pois a cultura está sobrevivendo e o audiovisual também. É uma indústria que não pode parar. Eu fiquei muito feliz de ouvir que a produção da Paraíba está viajando o mundo. Eu acredito nisso. Nosso país é grande, até um pouco por conta desse personagem que vamos ver daqui a pouco, esse tal de Dom Pedro I e sua mania de grandeza. Se tem uma vantagem nisso é porque somos muitos com muitas histórias e nomes. Essa diversidade é a nossa grande beleza e nossa grande força. O audiovisual precisa colocar essa diversidade na tela”.

Protagonizado por Cauã Reymond, A Viagem de Pedro é o primeiro longa histórico da diretora dos premiados Bicho de Sete Cabeças e Como Nossos Pais. A produção, exibida na Mostra de São Paulo, aborda a vida privada de Dom Pedro I, responsável por escrever em 1824 a primeira Constituição do Brasil imperial, considerada liberal e progressista para a época. O filme compreende o momento em que o ex-imperador retorna para Portugal, em 1831, fugindo de ser apedrejado pela população brasileira, nove anos depois de proclamar a Independência do país.

Em cena: Cauã Reymond vive Dom Pedro I.

O elenco conta também com Luise Heyer, Francis Magee, Welket Bungué, Victória Guerra, Luísa Cruz, João Lagarto, Isac Graça, Isabél Zuaa, Celso Frateschi, Gustavo Machado, Luisa Gattai, Dirce Thomas, Marcial Mancome e Sergio Laurentino. O diretor de arte inglês Adrian Cooper e o diretor de fotografia espanhol Pedro J. Márquez foram os responsáveis pelo trabalho de reconstrução de época.

No dia seguinte à exibição, realizadores participaram de um debate que foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube do festival. Sobre A Viagem de Pedro, Laís Bodanzky comentou: “Eu tinha a intenção de fazer uma viagem no tempo, como se a gente caísse naquele barco de repente, naquela noite. O que será que enxergaríamos? O filme não tinha a pretensão de contar todos os fatos históricos, mas simplesmente mergulhar em um recorte específico. Para isso, eu tinha que falar dos escravizados porque eram pessoas que viviam onde o próprio D. Pedro gostaria de estar. Mas de que forma ele gostava? Até onde?”.

A artista plástica Rita Wainer, que fez sua estreia como atriz no filme, falou sobre o convite: “Eu estava na dúvida se aceitava e logo me apaixonei pela Laís e pelo jeito que ela convence as pessoas. Depois disso, eu quis muito fazer. Quando eu aceitei eu já era a Domitila e queria fazer a Domitila que estava na cabeça dela”.

A historiadora Mary Del Priore também participou do debate e falou sobre o longa de abertura: “O que eu acho interessante no filme da Laís é que ela mostra essa diversidade de negros; livres e escravos. Ela mostra uma questão muito importante que é o letramento dessas pessoas. Eu achei o filme maravilhoso”.

A cineasta finalizou: “Estamos construindo e revisando nossa história. Escrevendo as próximas linhas dos livros ao vivo. De quatro anos para cá, o Brasil mudou em vários aspectos. E mudou em algo muito interessante, que é a tomada de consciência das pessoas pretas. O audiovisual talvez antecipe essa postura, esse questionamento, essa forma indignada. E não começou agora. Eu não sou uma pessoa preta, então, como falar e, ao mesmo tempo, sem impor o que é o meu imaginário? Para ter a consciência de como contar essa história, esse pé atrás foi importante. Como avançar? Com leituras, tanto contemporâneas ou históricas, buscando também registros da época”.

*O CINEVITOR está em João Pessoa e você acompanha a cobertura do 16º Fest Aruanda por aqui, pelo canal no YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Mano de Carvalho (festival) e Fabio Braga (filme).

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