Direção: Daniel Rezende
Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Augusto Madeira, Cauã Martins, Domingos Montagner, Tainá Müller, Emanuelle Araújo, Fernando Sampaio, Ana Lúcia Torre, Soren Hellerup, Ricardo Ciciliano, Pedro Bial, Raul Barreto.
Ano: 2017
Sinopse: Inspirado na vida do ator e apresentador Arlindo Barreto, o filme narra as desventuras de Augusto, um artista que sonha em encontrar seu lugar sob os holofotes e que se depara com sua grande chance ao se tornar Bingo, um palhaço apresentador de um programa infantil que é sucesso absoluto no Brasil. Porém, uma cláusula no contrato não permite revelar quem é o homem por trás da maquiagem e Augusto, ou o novo Rei das Manhãs, se transforma no anônimo mais famoso do Brasil. Debochado, o ex-astro de pornochanchadas e agora apresentador conquista a garotada e chega a liderança da audiência nas manhãs ao mesmo tempo em que mergulha em uma vida de excessos, que o afasta de seu filho, a única criança que o conhece de verdade.
Crítica do CINEVITOR: Quando os anos 1980 chegaram, o mundo já tinha passado por guerras, crises mundiais, o homem já tinha pisado na Lua, Janis Joplin já era musa, Elvis Presley estava morto e o Brasil já tinha ganhado a Copa do Mundo três vezes. A era da contracultura, da liberdade e do Tropicalismo já era passado quando fomos tomados pelo exagero oitentista que estava surgindo. Vimos Michael Jackson quebrando recordes, o surgimento da AIDS, o começo da MTV, ombreiras nos figurinos, cabelos volumosos, uma apresentadora infantil saindo de uma nave espacial e uma cultura pop que reverberava em todos os cantos. Foi aqui que vimos também um homem vestido de palhaço alegrando as manhãs das crianças brasileiras, que não desgrudavam da TV e queriam brincar, mandar cartas e ligar para aquele apresentador tão carismático. Mas, o que tinha por trás daquele nariz vermelho e daquela roupa colorida? Em Bingo: O Rei das Manhãs deixamos a função espectador de lado para embarcar em um passeio por trás das câmeras. Dirigido por Daniel Rezende, prestigiado montador que foi indicado ao Oscar por seu trabalho em Cidade de Deus, o filme retrata com excelência a década de 1980, mas vai além disso. É um filme de personagem, com profundidade e que se conecta com o público. Na história, conhecemos Augusto, um astro da pornochanchada, que se torna um sucesso absoluto ao interpretar um apresentador vestido de palhaço em um programa infantil. Em alta voltagem, Vladimir Brichta entrega uma atuação intensa e verossímil à história de seu protagonista. Acompanhamos sua busca por reconhecimento, as consequências da fama, suas angústias, seus medos, suas recaídas, suas fugas e sua transformação pessoal. Com roteiro de Luiz Bolognesi, a narrativa traz uma carga dramática que se mistura ao cômico com entrosamento, formando uma tragicomédia cheia de extremos: vamos junto com o personagem da alegria à tristeza e do luxo ao lixo. É nessa transição sentimental do protagonista que enxergamos seus pontos altos e baixos. É interessante a forma como a história é conduzida: se no começo temos um pai presente, ao longo dos acontecimentos percebemos sua ausência perante seu filho, por exemplo. Por trás daquele sorriso maquiado em frente às câmeras, que cativa um público puro e ingênuo, encontramos um ser humano repleto de divergências, que vive, ao mesmo tempo, vidas opostas e distantes daquele palco colorido onde os holofotes refletem alegria, esta que é virada do avesso quando as luzes se apagam. Bingo: O Rei das Manhãs funciona muito bem por diversos motivos: o elenco talentoso, a direção certeira de Daniel Rezende, que sabe o que quer e o que está fazendo, a combinação harmoniosa entre direção de arte, figurino e fotografia e o olhar apurado em relação à nossa cultura pop, que aparece em detalhes que logo remetem à época retratada sem precisar abusar de exageros nas referências. Há também uma liberdade narrativa, ainda que seja baseado em uma história real. Nesse caso, na vida de Arlindo Barreto, que viveu o famoso palhaço Bozo na TV. Neste filme, todos os elementos técnicos se encaixam com a dramaturgia e acompanhamos a trajetória de seu protagonista com começo, meio e fim: passamos por suas dificuldades, pelo sonho em ser reconhecido profissionalmente, o auge da fama, problemas familiares, drogas, sexo, orgias, amigos, solidão, prêmios, Gretchen, decadência. Bingo: O Rei das Manhãs conta a história de um artista, de um homem em busca de acertos e mostra seu protagonista de diversas maneiras com ou sem maquiagem e não esquece de retratá-lo como ser humano, com defeitos e qualidades. É um filme pop, com ritmo, qualidade e que não vai sair da sua cabeça tão cedo. Pontos para o cinema brasileiro! (Vitor Búrigo)
Nota do CINEVITOR: