Bingo: O Rei das Manhãs: Vladimir Brichta e Daniel Rezende falam sobre o filme, bastidores e referências

por: Cinevitor

bingoespecial2Vladimir Brichta: o palhaço protagonista.

Dirigido por Daniel Rezende, premiado montador indicado ao Oscar por Cidade de Deus, com roteiro de Luiz Bolognesi, de Bicho de Sete Cabeças, e fotografia de Lula Carvalho, de Tropa de Elite, Bingo: O Rei das Manhãs é estrelado por Vladimir Brichta, Leandra Leal, Emanuelle Araújo e Tainá Müller e traz um retrato da efervescente televisão nacional nos anos 1980.

Inspirado na vida de Arlindo Barreto, conhecido por ter interpretado o palhaço Bozo, o filme, que já está em cartaz nos cinemas, conta a história de Augusto, um artista que sonha com seu lugar sob os holofotes. A grande chance surge ao se tornar Bingo, um palhaço apresentador de um programa infantil na televisão que é sucesso absoluto. Porém, uma cláusula no contrato não permite revelar quem é o homem por trás da máscara. Augusto, o “Rei das Manhãs”, é o anônimo mais famoso do Brasil.

Nesta semana, o CINEVITOR participou de uma mesa redonda, em São Paulo, que contou com a presença do diretor e do protagonista, Vladimir Brichta. Confira os melhores momentos do bate-papo:

MOTIVAÇÃO:

“Três coisas me motivaram a fazer o filme: a relação com o filho e com a mãe; a questão de lutar pelo sucesso, que é um desejo de todo mundo, ter o reconhecimento público e essa busca pelo sucesso sob o ponto de vista do ator; e o terceiro elemento foi a história desse palhaço triste, o cara que faz a alegria das pessoas, mas que tem um lado sofrido e desajustado. Na mesma proporção que ele vive essa alegria, ele também pode se afundar na tristeza, na amargura, nos seus dilemas”, disse Vladimir.

“Além disso, o roteiro incrível também me motivou pelo fato de trazer esses elementos trágicos e cômicos, que fazem o personagem ser mais abrangente. Na minha carreira, eu estava mais próximo de um determinado gênero e esse papel é mais amplo”, completou.

bingoespecial6

O INÍCIO DO PROJETO:

“Eu estava procurando algo para ser meu primeiro filme e essa história do Arlindo [Barreto] me chamou a atenção. Eu vi uma história surreal, absurda, de um cara que viveu muitas vidas numa só. Eu queria entender quem era esse cara atrás daquela máscara, como é essa pessoa? Também me chamou atenção a questão de alguém que apresenta um programa infantil, que tá convivendo com crianças e começa a se desconectar do filho”, revela o diretor.

REFERÊNCIAS:

“Eu vivi os anos 1980. A televisão era algo mágico pra mim. E me interessava o que tava atrás do que a câmera estava mostrando. Tudo isso me interessou. Eu tinha uma excelente história e precisava achar um grande filme aqui dentro. Eu queria encontrar algo que conectasse com as pessoas, que ao mesmo tempo não fosse raso, e principalmente poder olhar para a nossa cultura pop. Acho que o nosso cinema olha pouco para a nossa cultura pop, que é pouco explorada. Eu trouxe muito da minha vivência pessoal nos detalhes, mas eu sempre soube que estávamos contando a vida de um grande personagem”, disse Daniel Rezende.

bingoespecial4

ATUAÇÃO:

“A energia, comparada ao que eu fiz em cinema e na TV, é diferente. É uma voltagem maior. Na verdade é uma voltagem que já experimentei muito em teatro. Me dava essa sensação de algo ininterrupto, como uma peça teatral, e isso desgasta, mas em outro lugar, não só no físico. Mas, emocionalmente, a cabeça cansa. Essa é uma voltagem que eu conheço, mesmo desconhecendo o personagem antes de fazer. Aqui, eu resgatei uma forma que eu tinha no teatro”, revela Vladimir.

“Originalmente, o filme era pra ser feito com o Wagner [Moura]. O Daniel [Rezende] conta que na época do Tropa de Elite eles já falavam em fazer algo juntos, baseado em fatos reais, mas não era esse projeto ainda. Até que um dos produtores viu uma entrevista do Arlindo, achou interessante e foi atrás para comprar os direitos e chamou o Daniel Rezende para fazer o filme. Durante essa caminhada toda, o Wagner se interessou, decidiu fazer, mas precisou deixar o projeto. Certo dia, estávamos eu e Lázaro [Ramos] com Wagner quando ele falou que tinha um filme que não ia conseguir fazer, com um roteiro incrível e disse que deveríamos fazer. Eu já sabia que se tratava de algo interessante. Logo, o Dani [diretor] entrou em contato comigo e me chamou para conversar. Ele disse que já conhecia meu trabalho, mas queria bater um papo para entender como eu enxergaria essa história. Pintou uma série na TV, que eu já estava super comprometido, e eu quase não fiz o Bingo. Mas deu certo”, conta o protagonista.

BASEADO EM FATOS REAIS:

“O Arlindo [Barreto] foi incrível. Ele foi muito aberto durante o período de pesquisa, contou tudo, foi muito disponível e parceiro, mesmo sabendo que não faríamos um documentário sobre a sua vida. Ele assistiu ao filme há pouco tempo e eu estava apavorado para saber a reação dele, mas ele amou o filme. Eu espero que o filme seja visto pela história, que é universal.”, disse Daniel.

bingo18trailer

GRETCHEN:

“Desde o começo, escolhemos fazer uma ficção para ter total controle criativo. O filme é completamente baseado na vida do Arlindo, por isso não queríamos estar tão atrelado a algo para fazer a nossa história. Muitas coisas que estão ali realmente aconteceram na vida real, outras não. Mas eu queria que tivesse algo, pelo menos uma coisa, que jogasse o espectador lá para trás. Então, eu pensei que se tivesse que ter alguma coisa seria a Gretchen, já que ela e o Arlindo namoraram. Essa decisão foi tomada há seis anos. Então é como se fosse a cereja do bolo e também porque eu acho Conga Conga Conga uma música extraordinária”, conta o diretor.

OS PALHAÇOS:

“O Domingos [Montagner] e o Fernando Sampaio tiveram uma participação muito importante. O Domingos, por exemplo, foi consultado pelo Luiz Bolognesi [roteirista] e pelo Daniel para falar sobre o palhaço. Naquela cena em que ele aparece, tem muito dele por sua experiência. E o Fernando foi quem me preparou para fazer o palhaço, me ajudou a desvendar esse mistério do personagem, a desmistificar, se jogar naquilo e entender aquele ambiente. Fora isso, ver o Domingos em cena é emocionante, tocante. Uma morte lamentável”, revelou Vladimir.

bingoespecial5

QUALIDADE:

“Eu queria fazer um filme que tivesse profundidade, que fosse sobre um personagem e não fosse raso. Busquei trabalhar com a melhor equipe para que tivéssemos qualidade. A dramaturgia brasileira, muitas vezes preza por outras coisas, mas esquece da qualidade técnica. Esse filme foi muito pensado na direção de arte, na fotografia, no figurino, no tom da atuação”, disse o diretor.

“A década de 1980 foi uma época de exagero. A chance de errarmos era muito grande e eu sempre falei que queria uma direção de arte estupenda, só que tinha que tomar cuidado para ela não aparecer, tinha que estar nos detalhes, controlada pelas cores. Tudo era exagerado, a televisão era um exagero naquele tempo. A arte não poderia estar na frente dos personagens. Fazer um filme de época é caro e complexo, por isso estudamos muito os cenários e a concepção do palhaço”, completou.

bingoespecial1

A MONTAGEM:

“O diretor é um cara que, teoricamente, tem que saber de tudo. Desde o começo eu decidi que não iria montar nenhum trabalho que eu fizesse. Como montador, eu sempre gostei de proporcionar algo para os filmes, de poder trazer um olhar fresco, contestar o diretor e poder apresentar uma outra visão. E eu não queria perder isso. O Bingo sempre foi concebido com a ideia de ser montado pelo Marcio Hashimoto, que é um excelente montador. Óbvio que eu participei da montagem, mas como diretor. Foi muito prazeroso olhar o material sendo transformado por outra pessoa”, disse Daniel.

FAMA:

“O poder corrompe mais que a fama, pois a fama eventualmente lhe dá poder. O filme reverbera, de alguma forma, nesse discurso. A projeção te afeta quando você causa um certo fascínio sobre as pessoas e administrar isso não é fácil”, finalizou Vladimir.

Fotos: Luiz Maximiano e Alisson Louback.

Comentários