Cannes 2023: A Flor do Buriti é premiado na mostra Un Certain Regard

por: Cinevitor
A equipe de A Flor do Buriti no tapete vermelho do festival

Foram anunciados nesta sexta-feira, 26/05, os vencedores da mostra Un Certain Regard, também conhecida como Um Certo Olhar, que coloca em evidência filmes artísticos e artisticamente ousados dirigidos por novos cineastas, porém mais atípicos aos que disputam a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

O cinema brasileiro se destacou com A Flor do Buriti, que recebeu o Prix d’Ensemble (algo como melhor equipe e/ou elenco, na tradução). O longa é dirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora, de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, que recebeu o Prêmio Especial do Júri nesta mesma mostra, em 2018. Novamente com os Krahô, no norte do Tocantins, o filme traz um dos temas mais urgentes da atualidade: a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca.

O longa, produzido por Ricardo Alves Jr. e Julia Alves, por meio da produtora mineira Entre Filmes, que será distribuído no Brasil pela Embaúba Filmes, atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela um massacre ocorrido em 1940, onde morreram dezenas de pessoas. Perpetrado por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a ecoar na memória das novas gerações. O elenco conta com Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Sonia Guajajara, entre outros.

A Flor do Buriti foi rodado durante quinze meses em quatro aldeias diferentes, dentro da Terra Indígena Kraholândia, e assim como em Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, a equipe era muito pequena e se dividia entre indígenas e não indígenas. As manifestações em Brasília durante a votação do Marco Temporal e as ameaças que a Terra Indígena vem sofrendo nos últimos anos, como roubo de animais silvestres, extração de madeira e reativação de uma barragem ilegal, são absorvidas pelo filme, em uma narrativa onde passado e presente coexistem e formam um corpo só.

A estreia mundial do filme aconteceu na terça-feira, 23/05, e ao final da emocionante sessão foi ovacionado por mais de dez minutos. Vale destacar que em toda a história da Un Certain Regard, o Prix d’Ensemble só foi concedido em outras duas edições: em 2014, para Party Girl, de Marie Amachoukeli-Barsacq, Claire Burger e Samuel Theis; e em 2021, para A Boa Mãe, de Hafsia Herzi.

Neste ano, o júri foi presidido pelo ator norte-americano John C. Reilly, e contou também com: Alice Winocour, cineasta francesa que passou por Cannes com o curta-metragem Kitchen e com os longas Augustine e Transtorno; Paula Beer, atriz alemã de Undine e Frantz; o cineasta cambojano-francês Davy Chou, que exibiu Retour à Séoul na Un Certain Regard e foi premiado na Semana da Crítica com Diamond Island; e a atriz belga Émilie Dequenne, do premiado Close, de Lukas Dhont, e vencedora dos prêmios de melhor atriz por Rosetta, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, que também levou a Palma de Ouro, e por Perder a Razão, na mostra Un Certain Regard.

Conheça os vencedores da mostra Un Certain Regard 2023:

PRÊMIO UN CERTAIN REGARD
How to Have Sex, de Molly Manning Walker (Reino Unido)

PRÊMIO DO JÚRI
Les meutes, de Kamal Lazraq (França)

PRIX DE LA NOUVELLE VOIX
Augure, de Baloji Tshiani (Bélgica/Holanda/Congo/Alemanha/África do Sul)

PRIX D’ENSEMBLE
A Flor do Buriti (Crowrã), de João Salaviza e Renée Nader Messora (Brasil/Portugal)

PRIX DE LA LIBERTÉ
Goodbye Julia, de Mohamed Kordofani (Sudão/Suécia)

MELHOR DIREÇÃO | PRIX DE LA MISE EN SCÈNE
Asmae El Moudir, por Kadib Abyad (Marrocos)

Foto: Pascal le Segretain/Getty Images.

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