O descaso e o preconceito sentidos pelas operárias do sexo no bairro Alto do Louvor em Mossoró, no Rio Grande do Norte, é o tema principal do curta-metragem, em processo de pós produção, chamado Casa do Louvor, que originalmente era um espetáculo encenado nos palcos entre 2015 e 2019 pela Cia Bagana de Teatro, com a direção dramatúrgica de Carla Pires Martins.
Porém, com a pandemia de Covid-19 e a inviabilidade de estar nos palcos, o coletivo decidiu adaptar a peça teatral para a linguagem do audiovisual. Essa adaptação para o cinema se tornou realidade em 2021 após o projeto ser contemplado pela Lei Aldir Blanc com apoios do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através da FJA, Fundação José Augusto, e também da Prefeitura Municipal de Mossoró, através da Secretaria Municipal de Cultura.
O curta-metragem que conta a história das mulheres do Alto do Louvor, do poder masculino sobre a mulher em uma sociedade machista e patriarcal do interior nordestino, já nasce sob o comando de mulheres: Ana Carla Azevedo e Joriana Pontes, primeiras roteiristas da obra, que compreenderam a importância de ter outra mulher à frente do projeto e convidaram a consagrada Marcélia Cartaxo para a direção geral do filme: “O nome de Marcélia Cartaxo veio automaticamente devido a algumas oficinas de cinema e encontros com a atriz e diretora dando início a uma longa jornada de sonhos, que aos poucos se tornaram realidade”, ressalta a corroteirista que também é atriz e produtora executiva do filme, Joriana Pontes.
Marcélia, atriz paraibana com 40 anos de carreira profissional, possui em sua trajetória artística o Urso de Prata do Festival de Berlim por sua atuação em A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, e um kikito de melhor atriz por Pacarrete, de Allan Deberton, no Festival de Gramado; além de inúmeros outros prêmios ao longo da carreira.
Casa do Louvor será o quarto trabalho de Marcélia como diretora cinematográfica, que realizou também os curtas: Tempo de Ira, que recebeu os prêmios de melhor filme e melhor roteiro no Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba, em 2003, e Redemunho, agraciado em 2016 com quatro prêmios no Cine PE, entre eles, melhor filme, ambos adaptações de contos do escritor Ronaldo Correia de Brito; e De Lua (2013).
Bastidores das filmagens.
Sobre o novo projeto, Marcélia disse: “Aceitamos esse convite e percebemos a importância desse trabalho da Cia Bagana, que cria esse movimento partindo do teatro para ao audiovisual na cidade. Sabemos que é o começo de muitos outros trabalhos que virão”.
Logo que firmou a parceria com a Cia Bagana, Marcélia também convidou os cineastas paraibanos Bertrand Lira para realizar a consultoria de roteiro e Cristiane Fragoso para atuar como diretora assistente. Durante a pré-produção, sob a tutela de Bertrand, o roteiro passou por novos tratamentos para adaptá-lo ainda mais à linguagem cinematográfica. A partir do quinto tratamento, as diretoras Marcélia e Cristiane, que já vinham indicando algumas diretrizes durante esse processo, se aliaram a Ana Carla Azevedo e Joriana Pontes e passaram a integrar o time de roteiristas do filme. A partir dessa parceria entre as quatro roteiristas, novos elementos foram incorporados ao roteiro e também foram realizadas algumas alterações basilares (na sua linha de ação, estrutura e narrativa), modificando assim o rumo da história e das personagens.
Assim, com uma equipe que carrega o histórico do cinema e do teatro na veia e nos frames, a obra foi filmada na última quinzena de julho, com locações em Mossoró, Florânia e Currais Novos. Todo o processo foi desenvolvido pelos artistas da Cia Bagana e das localidades para também potencializar e valorizar os artistas locais. A equipe de produção foi feita pelos artistas da própria companhia e agregaram-se outros profissionais como Marcos Leonardo e Damásio Costa, que assinam a direção de arte. A fotografia e a captação de som ficaram a cargo da equipe feminina da Ribeiro Produções: Wigna Ribeiro e Samya Alves, respectivamente.
“As filmagens tiveram também uma dinâmica pedagógica de preparar os artistas da Cia Bagana de Teatro para futuros projetos dentro do audiovisual, assim como também uma parceria de alunos de teatro do NAC-PROEC da UFERSA e nas cidades onde gravamos o curta. Esse é um trabalho visceral e com muitos desdobramentos. Será uma emoção pra quem participou e outra para o público que irá degustar a nossa história no cinema”, concluiu Joriana Pontes.
Fotos: Bertrand Lira.