Equipe do filme reunida antes da exibição.
O cinema catarinense marcou presença na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Dirigido por Chico Faganello, Oração do Amor Selvagem foi exibido na noite de sábado, 24/10, no Cine Caixa Belas Artes. O longa, que é baseado em fatos reais, conta a história de um homem e sua filha que desafiam os representantes das leis divinas no vilarejo onde vivem e partem em busca de liberdade. Mas o que poderia ser uma vida abençoada pela felicidade, torna-se um labirinto de ciúmes e violência. Chico Diaz, Sandra Corveloni, Ivo Müller, Georgina Castro e Camila Hubner integram o elenco do longa.
“Essa é uma produção 100% catarinense. Não é sempre que tem um filme catarinense rolando por aí. Apesar do cinema no Brasil ter tido uma produção cada vez maior, em Santa Catarina ainda é muito difícil. Dependemos muito de poucos recursos e esse trabalho foi feito com muito suor pela equipe. Eu acredito que esse filme vai encontrar seu público, acho que a discussão é válida. Tem muita gente que quer saber mais sobre o assunto e quer ver realmente esse tipo de história. Nada mais justo do que levar para mais pessoas possíveis um filme como esse, que vem de uma região que teve dificuldade de produção. Foi feito com um baixíssimo orçamento para os padrões dele”, disse o coprodutor André Gevaerd antes do início da sessão.
A atriz Georgina Castro em cena do filme.
Após a exibição, o diretor participou de um debate com o público e falou de como surgiu a ideia de fazer o filme, que é baseado em uma história real e trágica, que aconteceu em uma cidade do interior de Santa Catarina: “Quando eu dava aula na faculdade de Cinema , durante um exercício de roteiro, teve um aluno que me mostrou a história. Eu nasci lá perto de onde aconteceu e eu não sabia disso. Conversei com algumas pessoas da cidade e todo mundo lembrava, mas ninguém queria falar, porque a ferida ainda está aberta”.
Chico também falou sobre a pesquisa que foi feita antes das filmagens e de como algumas ideias surgiram para o roteiro: “Depois do que aconteceu no vilarejo, criou-se uma série de lendas. Quando eu fui lá fazer as pesquisas, as pessoas diziam que o cara voava. Imaginem o interior do Brasil, período militar: não tinha telefone, não tinha nada. As coisas demoravam e a história ainda está viva. Depois eu achei uma parte interessante e bonita de se potencializar. Talvez porque na época eu estava lendo um livro muito bonito que se chama Kafka à beira-mar, do autor Haruki Murakami, que tem um gato que fala. A literatura está cheia de humanos que dialogam com animais. Não só de maneira irônica, como de maneira séria, profunda e poética. Então eu achei que poderia ficar interessante”.
Diretor: Chico Faganello durante o debate.
Questionado sobre o roteiro, Chico revelou que teve que cortar algumas partes da história real: “Mudamos algumas coisas porque se fosse mexer a gente teria problemas, não só de direitos autorais. É muito dolorido. Eu fui eliminando e fantasiando algumas coisas, porque não dá pra mostrar a história real. É horrível. Era um banho de sangue e fomos suavizando porque a gente ia entrar num universo muito específico e tornar o filme mais difícil ainda”.
Ao final do debate, o diretor falou sobre o que espera da repercussão do filme: “Eu não tenho grandes ilusões sobre o potencial do filme, mas eu acho que ele vai provocar uma reflexão. Vai dizer certas coisas afirmativamente boas, sobretudo pra nós lá no sul é muito importante. E a questão da distribuição, eu espero que a gente tenha uma carreira boa em televisão e espero que ocupe um espaço em cinemas de arte. Sabemos que é difícil. Temos quarenta filmes brasileiros para lançar até o fim do ano e temos também Jogos Vorazes e milhões de dólares por aí. A gente precisa ter altivez e um certo orgulho e uma capacidade de se aceitar quanto origem”, finalizou.
Aperte o play e confira outros momentos do debate:
Oração do Amor Selvagem terá mais duas sessões na Mostra. Para saber os horários, as datas e os locais das exibições, clique aqui.
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Fotos: Divulgação e Claudio Pedroso/Agência Foto.
Texto e vídeo: Vitor Búrigo.