O ator português Carloto Cotta em cena.
Depois de passar pelo Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, Luz nos Trópicos, de Paula Gaitán, foi exibido na Mostra Competitiva da nona edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
O longa atravessa diferentes épocas galopando como um cavalo selvagem, culminando em uma homenagem às florestas e rios da América do Norte e do Sul e aos povos indígenas que as habitam: “Luz nos Trópicos é um projeto expandido e continua acontecendo. Ele está em movimento, mesmo tendo sido concretizado numa obra. Esse processo do filme abre uma perspectiva não só existencial e filosófica em torno do homem, do estado desse homem no geral, mas nesse momento de tanta violenta e ao mesmo tempo extraordinário porque estamos no combate. O filme, de certa maneira, foi um pouco premonitório”, comentou a diretora em conversa virtual, no canal do YouTube do festival, mediada por Camila Macedo.
Inspirado em uma expedição europeia do século XIX e mobilizado pela busca de Igor, interpretado por Begê Muniz, por sua ancestralidade kuikuro no momento presente, o filme revisita e reinventa, entre Nova York e o Pantanal, imagens, parcerias e procedimentos que atravessam a obra da artista.
O ator Carloto Cotta, em conversa com a equipe do Olhar de Cinema, falou sobre seu trabalho no longa: “Foi a primeira vez que trabalhei com a Paula e não tinha ideia do que ia fazer. Foi realmente um teste de adaptação muito intenso e foi uma experiência de antíteses”. Begê Muniz também comentou: “Foi uma experiência incrível. O filme acabou criando uma linguagem de um lugar onde tudo se encontre e talvez seja o começo de uma nova era ou o fim de tudo. Criou também uma espécie de memória da vida real e um novo sentido a partir dessa nova realidade que vivemos”.
Kanu Kuikuro em Luz nos Trópicos.
Ainda no mesmo bate-papo virtual, a atriz Clara Choveaux destacou sua personagem: “Foi uma experiência muito forte, principalmente ao que se toca em relação ao corpo. A minha personagem é a única mulher da expedição e ela traduz uma certa emancipação da mulher. Ela tem essa representação. A Paula me indicou muita coisa de filosofia para estudar e eu me inspirei na mulher do Lévi-Strauss, nas falas dela. Sinto que a minha personagem tem uma transformação visceral. Esse filme foi um grande presente para mim”.
Paula Gaitán, que é artista plástica, fotógrafa, poeta e cineasta franco-colombiana, mudou-se para o Brasil em 1977 e logo ingressou na sétima arte. Começou como figurinista de A Idade da Terra, de Glauber Rocha, com quem foi casada e teve dois filhos: o cineasta Eryk Rocha e a cantora Ava Rocha. Com o então marido, também assinou o pôster de seu filme Cabeças Cortadas.
Seu primeiro longa-metragem, Uaka, foi lançado em 1988. Desde então, Paula realizou diversas obras, como: Diário de Sintra, Vida, Exilados do Vulcão (grande vencedor do Festival de Brasília, em 2013), Agreste, Sutis Interferências e É Rocha e Rio, Negro Leo, exibido recentemente na Mostra de Cinema de Tiradentes e no Festival ECRÃ. Além dos curtas Kogi, exibido no Festival de Tribeca; e Elza Soares: A Mulher do Fim do Mundo.
A cineasta na Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro.
Em entrevista ao CINEVITOR, por e-mail, Paula Gaitán falou sobre a participação de Luz nos Trópicos em competição: “Sempre desejei participar do Olhar de Cinema porque considero uma das melhores curadorias atualmente no circuito de festivais: criteriosa e criativa. Porque a seleção de um grupo de filmes específicos do panorama mundial e brasileiro, permeada por um conceito estético intelectual e político, determina o quanto esses filmes/constelações irão dialogar entre si por afinidade e contraste; e, finalmente, um filme sempre ilumina um outro permitindo essa conexão sensível do espectador com aquilo que irá assistir”, declarou. E completou: “Assistir filmes é como ler e estudar. Também é prazeroso ou sofrido. Tem filmes que são mais difíceis, portanto, vão exigir um pouco mais do espectador. Provavelmente, é o que eu mais gosto do cinema: encontrar essas dificuldades para depois aderir totalmente ao filme. Ou ao contrário: ficar à deriva”.
Sobre esse novo formato virtual do festival, a cineasta também comentou: “Sinto muito interesse por novas possibilidades de circulação dos filmes. No caso de É Rocha e Rio, Negro Leo foi uma experiência positiva no Festival ECRÃ. O filme abrangeu um público variado e foi maravilhosa a repercussão; lembrando que o filme tinha estreado no começo do ano na Mostra Tiradentes, na tenda, em uma sessão especialíssima. No caso de Luz nos Trópicos, até agora tem sido muito bom também, porém, acredito que esse filme trabalha com a escala do cinema e não de qualquer cinema porque tem um tom épico e intimista. A composição dos planos, o ritmo, texturas, luz e som… tudo fica muito mais potente no ritual de assistir esse filme em sala. Em Berlim, foi exibido em salas deslumbrantes com som e imagem perfeitos. Foram cinco sessões impecáveis tecnicamente e um público respeitoso e concentrado. Foi emocionante”, finalizou.
Luz nos Trópicos reprisa na programação do Olhar de Cinema nesta terça-feira, 13/10.
Fotos: Divulgação/Netun Lima/Universo Produção.