A 50ª edição do Festival de Cinema de Gramado começou nesta sexta-feira, 12/08, com a exibição do filme A Mãe, dirigido por Cristiano Burlan e protagonizado por Marcélia Cartaxo, com a abertura da mostra competitiva de longas-metragens brasileiros.
Os curtas-metragens O Fim da Imagem, de Gil Baroni, e Deus Não Deixa, de Marçal Vianna, também foram exibidos no primeiro dia, assim como o longa estrangeiro La Pampa, de Dorian Fernández Moris, uma coprodução entre Peru, Chile e Espanha. A noite também foi marcada pela entrega do Troféu Cidade de Gramado para Araci Esteves, consagrada atriz gaúcha.
No palco do Palácio dos Festivais, o diretor de A Mãe, ao lado da equipe, fez um discurso de agradecimento: “Mesmo morando em São Paulo, eu sou um gaúcho. Estou muito emocionado por estar aqui pela primeira vez no Festival de Gramado. É difícil falar sobre esse filme. Queria dedicar para todas as mães, entre elas, a minha. Essas mães que sofreram pelo terrorismo de Estado na mão da Polícia Militar brasileira, uma das mais letais e violentas do mundo. Quero muito agradecer Marcélia Cartaxo, essa pessoa incrível, e Debora Silva Maria [do Movimento Mães de Maio], uma grande parceira”.
No filme, Marcélia, que foi consagrada no festival em 2019 com Pacarrete, dá voz a questões como das mães da periferia que perdem filhos para a brutalidade social: “É uma honra estar aqui de volta! Estou muito feliz por vencermos essa resistência. Seguimos em luta, mas também estamos começando a vivenciar um pouco de paz e de harmonia. Estou muito feliz em fazer parte dessa equipe. Em 2019, Pacarrete foi uma pegada, agora estamos em outra pegada, de resistência. Viva a democracia! Viva o cinema brasileiro!”.
Debora Silva Maria, que faz parte do Movimento Mães de Maio [uma rede de mães, familiares e amigos de vítimas da violência do Estado, situado em São Paulo, sobretudo na capital e na Baixada Santista], e participa do filme, fez um discurso emocionante ao lado do ator Dunstin Farias: “Eu agradeço imensamente pela oportunidade de estar aqui. Eu acredito que 50 anos do festival também são anos de resistência. Amor pela cultura e pelo cinema brasileiro! Nós precisamos valorizar o que temos de melhor, que é o ser humano. O ódio jamais vai vencer. Quando parimos um filho, não é para ele ser assassinado. E também não é para uma mãe enterrar um filho. Mas, o amor vai vencer. Nós parimos seres humanos e não monstros”.
Roteirizado por Burlan e Ana Carolina Marino, o longa tem ao centro Maria, uma mulher que procura seu filho que pode ter sido assassinado por policiais militares durante uma ação na vila onde moram. Maria embarca, então, numa jornada em busca desse filho, e precisa enfrentar a burocracia opressora das grandes metrópoles para poder vê-lo uma última vez. Assim, A Mãe coloca o foco em outro elemento afetado pelo genocídio sistemático nas periferias brasileiras: como ficam as matriarcas que perdem seus filhos e filhas?
O filme, que fez sua estreia no Festival de Málaga e rendeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Debora Silva Maria, dá continuidade ao trabalho desenvolvido pelo diretor com documentários e ficções que visam trazer humanidade para as populações periféricas. A produção é assinada pela Bela Filmes, e tem coprodução da Filmes da Garoa e Cup Filmes.
Além de Cartaxo, Debora e Dunstin, o elenco conta com Helena Ignez, Rubinho, Carlos Meceni, Hélio Cícero, Henrique Zanoni, Ana Carolina Marinho, Dinho Lima Flor, Mawusi Tulani, Gabriela Rabelo, Che Moais, André Luis Patrício, Walter Figueiredo, Eduardo Acaiabe, Kiko Marques, Gustavo Canovas, Tuna Dwek, Anna Zêpa, Badu Morais, Rodrigo Sanches, Esther Hwuang, Jordan Brigadeirão, entre outros.
No dia seguinte à exibição, Burlan participou de uma coletiva de imprensa, no Recreio Gramadense, ao lado de diversos integrantes da equipe.
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Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto.