Direção: Laís Bodanzky
Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, Jorge Mautner, Felipe Rocha, Annalara Prates, Sophia Valverde, Cazé Peçanha, Herson Capri, Gilda Nomacce, Antonia Baudouin.
Ano: 2017
Sinopse: Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de estar errando. Filha de intelectuais dos anos 1970 e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente, uma supermulher sem falhas nem vontades próprias. Rosa vê-se submergindo em culpa e fracassos, até que em um almoço de domingo, recebe uma notícia bombástica de sua mãe. A partir desse episódio, Rosa inicia uma redescoberta de si mesma.
Crítica do CINEVITOR: Desde seu primeiro minuto, Como Nossos Pais soa verdadeiro. Humano. Real. Tudo começa com uma típica situação familiar: parentes reunidos no quintal, esperando o almoço ao redor da mesa, dialogando, enquanto as crianças brincam. Porém, entre risos e descontração, começam os atritos. Em pouco tempo, cada personalidade vai sendo revelada e os laços afetivos vão sendo demonstrados. Uma trovoada causa a dispersão e com ela surgem revelações arrebatadoras que prometem transformar para sempre a vida de cada integrante daquele clã. A partir daqui, embarcamos na vida de Rosa, vivida brilhantemente por Maria Ribeiro. A atriz entrega a melhor atuação de sua carreira ao interpretar uma mulher contemporânea, casada e mãe de duas filhas. Seu casamento não está lá grandes coisas, sua vida profissional não a agrada e, além dessas e outras insatisfações, Rosa se sente pressionada socialmente e emocionalmente. Sente que precisa ser vista como uma Super Mulher, igual àquela da música de Jorge Mautner, que toca nos créditos finais do filme. Mas essa função de super-heroína também não lhe agrada. Há outros desejos e problemas a serem resolvidos. E é nesse turbilhão de emoções que Laís Bodanzky nos conduz. Em meio a tantas angústias e insatisfações, a diretora, que assina o roteiro ao lado de Luiz Bolognesi, apresenta dramas cotidianos com sutileza, sem apelar para o exagero melodramático. Laís retrata com naturalidade a vida como ela é, com personagens reais. Em Como Nossos Pais nada é forçado. Tudo que está em cena é crível e isso transporta o espectador para dentro daquela família. Mérito esse também estendido ao elenco: Maria Ribeiro imprime segurança e talento. Seu olhar muitas vezes fala mais do que qualquer palavra. Suas atitudes nos revelam uma mulher firme e determinada, ainda que atordoada por angústias. Suas lágrimas nos comovem e nos convencem. Sua fala muda de tom em segundos e seus diálogos ecoam por todos os lados e nos levam a devaneios profundos sobre nossas relações pessoais. Há também Clarisse Abujamra no elenco, um furacão em cena. No papel de mãe da protagonista, ela apresenta uma mulher com personalidade forte, sem papas na língua, que vive uma relação conflituosa com a filha. Entre elas, há faíscas por todos os cantos e também um amor velado, coberto por mágoas. E é desse relacionamento que Laís abre um leque de emoções e estrutura sua narrativa. Os homens do filme também merecem elogios: Paulo Vilhena se revela mais maduro em cena e Jorge Mautner diverte com seu carisma. Felipe Rocha, Herson Capri e até mesmo Cazé Peçanha, ex-VJ da MTV em uma pequena participação, completam esse entrosamento alinhado. Porém, Como Nossos Pais é das mulheres, sem desmerecer o trabalho deles. Mas, é o poder feminino que toma conta da telona com um discurso atual e empoderado. Aqui, fala-se de personagens contemporâneas, cúmplices e viscerais. Laís passa segurança e traz emoção com sensibilidade. Deixa claro que sabe o que está fazendo (e o faz muito bem), sabe o que quer mostrar, onde emocionar e conecta tudo com competência. É um filme de mulheres fortes, com diversas personas, que erram e acertam, com anseios, com desejos em ebulição prestes a explodirem e descarregarem todos os seus sentimentos com verdade, paixão e tesão. Há lágrimas, dúvidas, dedo na ferida, atritos, sorrisos, amor. Como Nossos Pais retrata conflitos cotidianos com uma linguagem universal. Fale-se de família, de trabalho, de amores, de filhos. Da vida: da minha, da sua, da Rosa, do seu vizinho. E é isso que lhe torna um filme tão comovente, tão precioso e tão afetuoso. (Vitor Búrigo)
*Filme assistido no 45º Festival de Cinema de Gramado.
Nota do CINEVITOR: