A nona edição do Festival de Cinema de Caruaru aconteceu entre os dias 21 e 27 de agosto, na região do Agreste Pernambucano, no Teatro João Lyra Filho. Depois de dois anos de realização on-line, o festival retomou sua versão presencial com oito mostras competitivas, além de atividades educativas voltadas para o audiovisual.
A curadoria selecionou 74 obras, sendo 5 longas e 69 curtas; e foi assinada por: Edvaldo Santos, realizador e professor; Luciano Torres, ator e diretor; Priscila Urpia, jornalista, fotógrafa e produtora; e Stephanie Sá, jornalista.
Neste ano, a atriz, produtora, diretora, educadora e formada em Direito e Contabilidade, Arary Marrocos, um dos principais símbolos das Artes Cênicas em Caruaru, foi a grande homenageada. Natural de Belo Jardim, mudou-se para a capital do Agreste ainda no início da adolescência, quando, em 1952, iniciou suas atividades artísticas, fundando, junto aos amigos da época, o grupo Teatro Estudantil do Colégio Estadual de Caruaru.
Depois de atuar como professora, fundou o MTR, Movimento Teatral Renovador, que, depois de um tempo, recebeu uma nova nomenclatura que carrega até hoje: TEA, Teatro Experimental de Arte. A entidade, que é a segunda mais antiga em atividades ininterruptas no Brasil, é voltada para o desenvolvimento das Artes Cênicas entre a juventude caruaruense, principalmente para estudantes do Ensino Fundamental e Médio e já formou mais de mil atores em seus 60 anos de existência.
Para além do teatro, Arary também tem uma participação no cinema caruaruense, atuando em filmes independentes como o Dia do Caçador, exibido no Festival de Cinema de Caruaru, e contribuindo para a formação de atores que figuram diversas outras obras cinematográficas a nível regional e nacional.
O júri desta edição foi formado por: Amanda Mansur, Bertrand Lira e Juliana Leitão na mostra de longa-metragem; Carlos Kamara, Adelina Pontual e Maria Alves nas mostras de curtas-metragens; e Dayane Jeniffer, Gabriel Jeneci, Joane Isabel, Katherine Soares e Maria Ferreira no Júri Jovem, formado a partir da oficina de Introdução à Crítica Cinematográfica.
O prêmio de melhor longa-metragem brasileiro, segundo o Júri Oficial, foi para Ursa, de William de Oliveira. A justificativa diz: “O filme emociona do início ao fim. O roteiro parte de uma história que vemos diariamente nos jornais, mas com uma singularidade muito própria. O cuidado ao contar a trajetória de uma mãe que sofre uma realidade com a qual muitos podem se identificar é digno de todos os aplausos”.
Já o prêmio de melhor filme da Mostra Agreste foi para Cabocolino, de João Marcelo, com a seguinte justificativa: “O filme tem a retórica de manter viva a cultura popular, através de uma tradição popular que repassa a ancestralidade, que dá destaque a arte popular e a fé de um povo”.
O júri da Mostra Brasil concedeu o prêmio principal para o curta-metragem Sideral, de Carlos Segundo. A justificativa diz: “O filme tratou o tema da relação familiar com bastante originalidade. A narrativa seguiu em um ritmo conciso e seguro, chegando ao clímax do inusitado, o que foi abordado de maneira trangicômica na narrativa do filme”.
Conheça os vencedores do 9º Festival de Cinema de Caruaru:
MOSTRA BRASIL | LONGA-METRAGEM
Melhor Filme: Ursa, de William de Oliveira (PR)
Melhor Direção: William de Oliveira, por Ursa
Melhor Roteiro: Ursa, escrito por William de Oliveira
Melhor Ator: Enzo Gabriel, por Onde Fica a Nova Esperança?
Melhor Atriz: Adriana Sottomaior, por Ursa
Melhor Fotografia: Onde Fica a Nova Esperança?, por Alan Schvarsberg
Melhor Direção de Arte: Onde Fica a Nova Esperança?, por Marcus Takatsuka
Melhor Desenho de Som: Ursa, por Henrique Bertol
Melhor Pôster: Achados Não Procurados
Menção Honrosa: trilha sonora de Achados Não Procurados, por Zeca Baleiro
MOSTRA BRASIL | CURTA-METRAGEM
Melhor Filme: Sideral, de Carlos Segundo (RN)
Melhor Direção: Arthur Gonzaga, por Filhos da Periferia
Melhor Roteiro: Memória de Quem (Não) Fui, escrito por Thiago Kistenmacker
Melhor Ator: Wesley Guimarães, por Quantos Mais?
Melhor Atriz: Estela Nunes, por Lado a Lado
Melhor Fotografia: Jamary, por Reginaldo Tyson
Melhor Direção de Arte: Neila Albertina, por Desejo
Melhor Desenho de Som: Lado a Lado, por Rafael Laurenti
Melhor Pôster: Filhos da Noite
MOSTRA AGRESTE
Melhor Filme: Cabocolino, de João Marcelo (Surubim, PE)
Melhor Direção: Fabi Melo, por Nem Todas as Manhãs São Iguais
Melhor Roteiro: Essa Saudade, escrito por Samy Sah
Melhor Fotografia: Cabocolino, por Marlom Meirelles
Melhor Direção de Arte: O Peso do Ser, por Iomana Rocha
Melhor Desenho de Som: Chiquinho da Rata, por Giancarlo Galdino
Melhor Ator: Icaro Limeira, por Chiquinho da Rata
Melhor Atriz: Maria Alice Santos, por Nem Todas as Manhãs São Iguais
Melhor Pôster: Alto das Flores
Menção Honrosa: Cine Aurélio, de Kennel Rógis; através da metalinguagem, o filme aborda o personagem principal para mostrar a força do cinema e sua resistência no interior do estado de Pernambuco. O protagonista personifica a luta de manter as portas abertas dos poucos cinemas de rua que ainda persistem e insistem em mostrar à população o cinema que, inclusive, é feito por pernambucanos.
MOSTRA LATINO-AMERICANA | CURTA-METRAGEM
Melhor Filme: Latente, de Clara Eva Faccioli (Argentina)
MOSTRA FANTÁSTICOS
Melhor Filme: Mamãe, de Hilda Lopes Pontes (BA)
MOSTRA ADOLESCINE
Melhor Filme: Miado, de Victória Silvestre (SP)
MOSTRA INFANTIL
Melhor Filme: A Menina Atrás do Espelho, de Iuri Moreno (GO)
MOSTRA VIDEOCLIPE
Chorar, de Karola Nunes, Pacha Ana e Curumin; dirigido por Juliana Segóvia (MT)
JÚRI JOVEM | MELHOR FILME
Mostra Brasil (longas): Achados Não Procurados, de Fabi Penna (SC)
Justificativa: com uma construção narrativa excelente e subversiva, o filme satiriza mostrando possíveis e palpáveis absurdos. Esse passeio é conduzido com excelência por uma direção apaixonada, que faz um ótimo uso de seus planos sequência. Um dos protagonistas, interpretado por Roney Villela, tem uma presença marcante, que traz ainda mais dinamismo para o filme e potencializa o humor em diversas cenas, reforçando esse lado satírico retratado no longa. Sutilmente agressivo, o filme consegue ser extremamente provocativo, o que é consolidado a partir dos cenários criados por Carlos Mosca. Achados Não Procurados é um título que funciona para a excelente experiência de assisti-lo, já que Fabi Penna entrega um verdadeiro achado que não estávamos procurando.
Mostra Brasil (curtas): Sideral, de Carlos Segundo (RN)
Justificativa: Sideral constrói sua narrativa distópica com uma brilhante sobriedade estética. Ao utilizar a fotografia em preto e branco, a obra consegue nos surpreender combinando a tensão sóbria das imagens e a comicidade dos diálogos construídos. O curta também nos apresenta a condição da mulher naquele ambiente e como isso está atrelado a realidade brasileira. O filme nos encanta pelo seu roteiro bem trabalhado, pelo uso da câmera estática e pela incrível atuação que consegue transpassar de forma espontânea o objetivo da obra. Ao destacar esses pontos, consideramos Sideral um filme impressionante.
Mostra Agreste: Cine Aurélio, de Kennel Rógis (Toritama, PE)
Justificativa: com uma história bonita e singela, nos mostra como é se apaixonar genuinamente pelo cinema. Com esse recorte, Cine Aurélio demonstra não apenas como contar uma história, mas também como mostrá-la. A câmera intimista que passa pelo documentário, a narração pontual e a montagem básica, clara e precisa, passa a quem assiste toda a grandiosidade da história. A última cena, espetacular, fecha bem o curta, nos fazendo entender como o cinema, além de ser algo coletivo, é uma atividade individual. Diante disso, podemos observar a importância dessa obra para o cinema do agreste.
Foto: Marlom Meirelles.