Homenagem: Daniel Filho se emociona em Gramado.
O Troféu Cidade de Gramado, dedicado a um convidado de honra que se destaca no cinema nacional ou internacional, foi entregue, na noite de sábado, 08/08, ao diretor, produtor, ator e roteirista Daniel Filho. Com mais de 40 longas no currículo, alternando papéis como intérprete, diretor e produtor, Daniel segue produzindo e dirigindo filmes, conciliando-os com sua consolidada carreira na TV.
Emocionado, o homenageado subiu ao palco e fez um discurso destacando alguns de seus colegas de trabalho: “Lembrei de todos os meu colegas que tive ao longo desses 63 anos de profissão. É difícil chegar nesse momento e não lembrar disso. E a gente aprendeu com os colegas e eles são os grandes professores. Desde Jacy Campos a todos que cruzaram comigo, inclusive com a Bete Mendes que está aqui. Tudo colega, tudo amigo. Até com Oscarito, Zé Trindade. Todos professores. Walter D’Ávila, Chico Anysio”.
E completou: “Mas dizem que o importante não é o quanto bom você é, e sim quanto tempo você dura. É difícil durar muito tempo nessa profissão. É difícil e sempre louvado. E nisso também coloco os 43 anos deste festival. Não lembro de outra coisa que tenha, junto à cultura, perdurado tanto tempo. Não conheço, não vi, e eu acho que aí é que está a emoção de estar aqui. Porque eu sinto que meu nome entrou nessa galeria de colegas fantásticos que estiveram aqui e que vão continuar. Estou muito agradecido”.
Discurso: Daniel Filho no palco do Festival de Gramado.
Algumas horas antes da homenagem, que aconteceu no Palácio dos Festivais, Daniel Filho participou de uma coletiva de imprensa e falou sobre sua carreira, suas inspirações e sobre o futuro. Confira os melhores momentos da entrevista:
ATOR
“Percebi que se eu não me produzisse, eu não conseguia dirigir direito. Então foi articulando tudo. Mas, o que eu gosto mesmo, o que eu sempre sonhei é que eu gostaria de terminar minha vida ou continuar como ator”.
HERÓI
“Eu acho que o herói brasileiro vai ser o homem que vai falar a verdade. Chegou a hora do povo, sem ser demagogo, mas já sendo. Agora é o momento que a gente tem que dizer que não precisamos de heróis. Precisamos de bons governantes, de pessoas com intenção e que nos respeitem. Acho que é isso. Como vai ser essa virada? Eu acho que já está sendo”.
QUE REI SOU EU?
“[Na novela] Que Rei Sou Eu?, meu personagem era tão bonitinho, tão bom, que eu fazia uma voz de dublagem, uma voz de mocinho que dubla filme. Era uma brincadeira com o grande herói. Me lembro que todos fizeram muitas aulas de esgrima. Eu falei que não ia aprender em dois meses, então colocaram dublês, tanto andando a cavalo quanto lutando. Até meu pai, que não sabia que eram dublês, achou que era eu”.
Daniel Filho durante a coletiva.
HOMENAGEM
“Depois que a gente vai ficando um pouco velho, a gente recebe muitas homenagens. A homenagem é uma lembrança, você se sente lembrado, você se sente respeitado, você sente que contribuiu para algo que você gosta e ama muito que é o cinema. E eu também tenho muito respeito e admiração. Se você for pensar no Brasil, quem é que consegue fazer 43 anos seguidos de qualquer evento? Que eu me lembre só Gramado. Lembro da época do Prêmio Air France, do Prêmio Molière, do Premio Saci. Tantos prêmios e tantos festivais que aconteceram e sumiram. E o de Gramado está lá! Eu sei que tenho uma história, não posso ficar aqui fingindo. Tenho uma história longa no cinema. Quando eu olho a lista de filmes, de programas de TV, eu mesmo fico admirado de como que eu fiz tudo. A sensação que eu tenho é de emoção por estar participando, por estar colocando meu nome como um homenageado nesta festa, neste prêmio, que é tão respeitado e tão querido”.
TELEVISÃO E ERA DIGITAL
“No fundo, eu sou um cara da televisão. E lá no meu período imenso da televisão, eu trabalhei com tudo de novo que vinha. O primeiro programa colorido brasileiro, que é o Meu Primeiro Baile, é dirigido por mim. E várias pessoas, na época, foram fazer curso de TV colorida e eu não fui. Todo mundo que fez o primeiro programa colorido foi para a Alemanha para aprender”.
“Eu sempre acompanhei a tecnologia, por causa da televisão. No cinema, eu fui notando que algumas coisas ainda ficavam muito artesanais diante do que já era a televisão. Tempos de Paz foi o primeiro filme digital brasileiro. Eu lembro que quando eu fui fazer, as pessoas diziam que era uma loucura. O digital veio para o bem e para o mal. E outras coisas vão acontecer”.
FILME PREFERIDO
“O filme que eu mais gosto é Cantando na Chuva, porque representa uma brincadeira com cinema. É talvez o filme mais alegre que já foi feito. Quando eu estou tenso coloco Cantando na Chuva e vou ficando calmo. Eu sei de cor e pior de tudo, eu choro sempre no final”.
Coletiva: Daniel Filho ao lado de Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho, curadores do festival.
INSPIRAÇÃO
“A minha inspiração vem de todas as pessoas, de todos os bons e maus atores que coroaram minha vida nos anos 40, nos anos 50. O cinema italiano pra mim é extraordinário. Ladrões de Bicicletas, por exemplo. Sem contar as comédias italianas, o Vittorio De Sica como ator. O cinema italiano chega mais perto de nós. A minha inspiração está em tudo isso”.
CIDADÃO KANE
“Agora é mais fácil ir ao cinema. Na minha época era mais difícil. Eu acho que só vi o Cidadão Kane quando tinha 12, 14 anos, muito tempo depois. Atualmente todo mundo pode ver todos os filmes na hora que quiser, no momento que quiser, tornando-se muito mais fácil a convivência com o cinema”.
MARGARET O’BRIEN
“A minha primeira paixão americana de cinema chama-se Margaret O’Brien, que tem a minha idade. Eu ficava na janela achando que possivelmente, quem sabe, ela passaria e me olharia. Mas, o filme que eu mais lembro dela era O Fantasma de Canterville, com Robert Young, dirigido por Jules Dassin”.
DIRETORES
Devo dizer que atualmente estou apaixonado por diretores que não são americanos. Um deles é Asghar Farhadi. E o outro, sem dúvida nenhuma, que eu acho um dos melhores atualmente é Michael Haneke. São três pessoas que eu acompanho com grande emoção atualmente. E logicamente tem dois americanos: Wes Anderson e o Paul Thomas Anderson”.
COMÉDIA
“Eu sempre me achei um palhaço porque eu venho do circo. Talvez seja isso que me faça correr mais pra fazer comédia, talvez seja por isso que eu não me ache tão sério, não me leve muito a sério e não queira fazer um grande drama. Apesar de ter feito dramas, como Primo Basílio, Chico Xavier e produzido Cazuza – O Tempo Não Pára”.
Confira trechos da coletiva e da homenagem a Daniel Filho:
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Texto e fotos: Vitor Búrigo.