O protagonista Laéssio Rodrigues de Oliveira: dez anos em penitenciárias.
Dirigido por Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, o documentário Cartas Para um Ladrão de Livros conta a história de Laéssio Rodrigues de Oliveira, considerado o principal ladrão de obras raras do país pelas autoridades brasileiras. Ele é acusado de furtar bibliotecas em pelo menos cinco estados, à procura de obras de elevado valor histórico, artístico e econômico: fotos da corte brasileira do século 19, passando pelos primeiros mapas do país feitos à mão e gravuras assinadas por artistas europeus, como o alemão Johann Moritz Rugendas.
O documentário tem como ponto de partida as correspondências trocadas entre um dos diretores do filme e o próprio Laéssio, nos períodos em que ele estava preso. Ao todo, Laéssio já passou mais de dez anos detido em penitenciárias de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde se encontra atualmente recolhido.
Resultado de um projeto de cinco anos, o longa-metragem, exibido no Festival do Rio do ano passado e na 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, traça um perfil da polêmica figura de Laéssio a partir de depoimentos reveladores e levanta também um debate sobre a preservação da memória do país.
Para falar mais sobre Cartas Para um Ladrão de Livros, conversamos com os diretores sobre o começo do projeto, a relação com Laéssio e expectativas para o lançamento do filme, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 1º de março. Confira:
O PRIMEIRO CONTATO COM LAÉSSIO:
“Eu sou jornalista e escrevo para várias revistas, além de trabalhar com documentários, principalmente em parceria com o Caio. O editor de uma de uma das revistas me propôs um perfil sobre o Laéssio, então, tentei entrar em contato pelas vias protocolares, como: Secretaria da Administração Penitenciária e advogados, mas não consegui. Como último recurso, resolvi mandar uma carta pra ele. Depois de alguns meses, recebi uma ligação do Laéssio, de dentro de Bangu, dizendo que conversaria comigo e que tinha gostado da minha carta. Ele me pediu uma biografia da Carmen Miranda, do Ruy Castro, que foi onde toda a história começou. Depois disso, ele mandou a primeira carta e eu comentei com o Caio, que achou sensacional e disse que essa história tinha que virar filme”, disse Carlos Juliano Barros.
Laéssio em uma das entrevistas para o documentário: na prisão.
O PROTAGONISTA:
“Esse filme, sobretudo, é sobre vaidade, sobre existência. Pouco importa se o Laéssio é um ladrão de livros, de carros ou de bancos. É um filme sobre um personagem que é completamente amoral, que fala abertamente sobre os crimes que cometeu com cinismo e com um humor que incomoda. Algumas pessoas acham engraçado, outras ficam completamente ofendidas com a maneira como ele fala. Mas, essa é a função do filme. Trazer esse personagem totalmente contraditório e estranho para provocar”, revelou Carlos.
“O barato de fazer um documentário é deixar você se surpreender um pouco, porém, esse nos surpreendeu muito mais. Além disso, o Laéssio tem um lado cativante com as pessoas e o filme ganha com essa característica dele”, completou Caio Cavechini.
PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA BRASILEIRA:
“Há muitas instituições que cuidam muito bem dos seus acervos, com muita responsabilidade e gestores muito preocupados. Mas, ao mesmo tempo, também sabemos que muitas instituições sofrem com a falta de recursos humanos, materiais, problemas de segurança e organização, que, aliás, não é uma avaliação só minha, mas também do próprio delegado da Polícia Federal que aparece no filme. O Laéssio se aproveitou dessas fragilidades para cometer os crimes”, analisa Carlos.
Homenagem para Carmen Miranda no carro alegórico da Paraíso do Tuiuti: ídolo de Laéssio.
NAS TELONAS:
“Queremos mostrar esse filme para o Laéssio porque ainda não conseguimos. Ele só viu um trailer e queremos muito trocar uma ideia com ele pra saber sua opinião. E também, é um momento em que as pessoas estão polarizadas, defendendo isso ou aquilo, e assim, queremos levar esse filme para plateias que possam enxergar o ser humano complexo que é o Laéssio, com seus defeitos, suas graças e suas falhas”, revela Caio.
“É mostrar a vida como ela é. Nada é tão preto e tão branco. Existe uma zona cinzenta. O Laéssio é um personagem muito fascinante, com uma história de vida muito curiosa e isso precisava ser contado”, finaliza Carlos.
Cartas Para um Ladrão de Livros é o quarto longa-metragem dirigido pela dupla Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, que assinam juntos: Entre os Homens de Bem, Jaci: Sete Pecados de Uma Obra Amazônica e Carne Osso.
*Clique aqui e confira nossa matéria realizada no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade sobre o documentário Entre os Homens de Bem.
Fotos: Divulgação.