Protagonista: boxeador na ficção.
Protagonizado por Edilson Silva e dirigido por Bruno Costa, o longa paranaense Mirador, integra a Mostra Praça da 24ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. Diante dos desafios impostos pela pandemia, o encontro ao vivo e as calorosas trocas na praça tiveram que ser adaptados para a esfera virtual. Mesmo que o presencial não seja possível, a essência permanece com sessões de longas e curtas que trazem um apelo popular e a mobilização de importantes debates em relação ao contemporâneo.
No filme, também selecionado para o Festival de Havana, Maycon é um boxeador que treina para retornar aos ringues enquanto divide seu tempo com dois subempregos. Pai de Malu, fruto de uma relação casual que teve com Michele, ele tem sua vida revirada quando se vê na situação de ter que cuidar da filha sozinho. Entre a rotina exaustiva de treinos e bicos para sobreviver, a maior luta de Maycon ainda está por ser vencida: tornar-se pai.
O elenco conta também com Stephanie Fernandes, Luiz Pazello, Léa Albuquerque, Victor Haygert, Jordan Machado, Rafaelle Becker, Giovana Soar e Sandro Tueros.
Para falar mais sobre Mirador, entrevistamos o protagonista Edilson Silva por e-mail. Confira:
Sua carreira traz trabalhos bem marcantes em filmes como O Porteiro do Dia, Bacurau, Divino Amor, Azougue Nazaré, entre outros. Como surgiu o convite para interpretar o Maycon em Mirador?
O Bruno [Costa, diretor] entrou em contato comigo via Facebook. Primeiramente, ele se apresentou, falou que era amigo da Nathália Tereza, que eles foram da mesma turma de cinema na faculdade e que tinha assistido ao filme dela [De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos] no qual eu participei e protagonizei junto com a atriz Maria Eny; e que tinha visto o filme através da indicação do William [Biagioli, roteirista], que tinha assistido no Curta Brasília, e que estava com um projeto de longa-metragem e gostaria de me apresentar. Se possível, gostaria muito que eu fizesse o personagem principal. Então, fomos conversando e ele foi me falando do Mirador.
Como foi sua preparação para esse protagonista? Você já tinha alguma experiência com boxe?
Minha preparação para o Maycon foi através de muitos treinos na academia, vendo referências que o Bruno me mandava e assistindo lutas de boxe para ir me preparando com o que eu ia encontrar quando chegasse em Curitiba. Até então, eu nunca havia praticado nenhum tipo de esporte de luta. Meu único esporte era o futebol.
Impossível não perguntar: como foi atuar ao lado da carismática Maria Luiza da Costa, que encanta qualquer espectador?
Rapaz… trabalhar com a Malu foi um grande presente que ganhei! A Maria Luiza é um ser maravilhoso! Sabemos que trabalhar com crianças em set nunca é fácil. Já tinha atuado antes com uma outra criança e já tinha passado pela experiência de que crianças são imprevisíveis. Com a Malu não foi diferente. Tinha horas que ela não queria ficar na posição em que a direção gostaria e fazia umas birrinhas (risos). Mas, a gente ia se adequando ao momento dela e, muitas vezes, aproveitando as reações e as expressões que ela fazia, as coisas aconteciam magicamente. Ela é muito talentosa!
Seu personagem retrata a vida real de diversos brasileiros. Você se inspirou em alguma situação ou em alguém para criar o universo de Maycon?
Eu me inspirei na minha própria história de vida, que desde muito jovem tive que batalhar bastante para ajudar minha mãe nas obrigações de casa, assim que meu pai faleceu. Na época, eu tinha apenas 12 anos de idade. E minha história tem um pouco a ver com a de Maycon. Eu tenho uma filha de 14 anos de idade, fruto de um primeiro relacionamento que eu tive (aos 20 anos de idade), e quando eu me separei da mãe da minha filha, ela tinha quase dois anos. Até hoje ela mora comigo e com minha mãe.
É interessante ver em Mirador esse encontro entre os diversos cinemas que o Brasil nos proporciona com obras tão marcantes e elogiáveis; seja na escolha do gênero, locações, sotaques, histórias. Na equipe, por exemplo, temos uma diversidade que soma ainda mais para o resultado final. Como você enxerga a produção audiovisual no Brasil nos dias de hoje, mesmo sendo ameaçada constantemente?
É inegável que a demanda de projetos cinematográficos caíram muito e, mesmo com tantas ameaças que o setor vem sofrendo, eu vejo o mercado do audiovisual como um mercado sólido, que diante das dificuldades, e de tudo que estamos vivendo, como a falta de incentivos, redução de investimentos na área artística, um governo que é contra a cultura, etc…. ainda se produz muitos filmes e séries. E isso se dá porque temos uma vasta diversidade de ótimos profissionais espalhados por esse Brasil inteiro.
Como você espera que Mirador chegue no espectador e de que maneira o filme pode tocá-lo?
Eu espero que Mirador chegue da melhor forma e possa ser acessado e assistido pelo máximo de pessoas possíveis; que o espectador possa ver e se identificar com a trama. Tenho certeza que muitas mulheres vão se identificar com a história do Maycon e Malu.
Para encerrar, como está sendo participar da Mostra Tiradentes? Como você avalia a repercussão do filme nessa edição on-line (que possibilita uma abrangência maior de público)?
Participar da mostra Tiradentes é sempre uma honra. Acho que essa é a terceira vez que estou participando e quero parabenizar a todos os envolvidos(as) nessa super produção que organizam tão bem essa grande janela que é a Mostra. E o feedback sobre o filme está incrível. Tenho recebido várias mensagens falando muito bem. E esse ano, já que a Mostra não está acontecendo presencialmente por conta da pandemia de Covid-19, teve um ponto positivo: mais pessoas estão tendo a oportunidade de assistir aos filmes em primeira mão, algo que normalmente levaria mais tempo.
Mirador fica disponível até às 23h59 do dia 30 de janeiro no site do festival. Clique aqui.
Entrevista e edição: Vitor Búrigo
Fotos: Ana Málaga/Divulgação.