Cinema brasileiro em 2020: em casa e na telona.
O ano de 2020 daria um filme. Se alguém contasse o que teríamos pela frente, seria quase impossível acreditar. Uma pandemia capaz de transformar, bagunçar e parar a rotina das pessoas em pleno século 21? Jamais. Em janeiro, tudo parecia bem. Tivemos estreias nos cinemas, festivais, entrevistas presenciais. Em fevereiro teve Carnaval, aquele respiro festivo logo no início do ano, mas já com uma certa desconfiança de algo muito estranho no ar. A festa acabou, a ressaca chegou e o tal Covid-19, aquele novo coronavírus descoberto na China, apareceu sem ser convidado.
Os cinemas fecharam, as produções foram interrompidas, os filmes adiaram seus lançamentos e os festivais não tinham ideia de como seriam realizados. Isso só para citar o setor audiovisual, um dos mais afetados nesse ano tão sombrio. Sem contar os números apavorantes de mortes e infectados e a irresponsabilidade de governantes mundiais que duvidaram do perigo. Principalmente por aqui.
Realmente, o ano de 2020 daria um filme. Se fosse brasileiro, sua narrativa contaria também, se já não bastasse um vírus letal para amarrar a trama, com os absurdos esbravejados pelo desalmado governante desta nação, com toda sua arrogância e prepotência. A falta de empatia causou danos imensuráveis nas vidas pessoais e profissionais. O cinema brasileiro, em um vácuo profundo e perdido em meio ao caos, sofreu ainda mais com a ampliação da paralisia do Governo Federal relativa ao setor, que se amplificou pelos impactos da pandemia. Ao longo do turbilhão, o descaso com a Ancine, Agência Nacional do Cinema, e com a Cinemateca Brasileira, só reforçava o desinteresse em relação aos artistas e à história e memória cultural do país. Até que surgiu um respiro: a Lei Aldir Blanc, uma iniciativa da Deputada Federal Benedita da Silva, com a intenção de ajudar os trabalhadores da cultura e os espaços culturais.
Aos poucos, as atividades foram se readaptando, os cinemas reabrindo e as produções retomadas seguindo os protocolos de segurança da OMS, Organização Mundial da Saúde. Os festivais, quase todos realizados em formato virtual, ganharam maior abrangência. Com isso, as obras tiveram uma visibilidade mais democrática e amplificada. O ano de 2020 cravou, de vez, a força das plataformas digitais na rotina dos cinéfilos. Filmes programados para as telonas acabaram estreando diretamente em streaming. Se por um lado o cinema brasileiro perdeu em bilheteria, algo que já se discute há tempos quando bate de frente com um blockbuster gringo, por outro o público teve fácil acesso à obras que antes teriam ficado restritas a um público limitado de poucas salas de cinema.
Ainda que ameaçado, em um ano desesperador, o cinema brasileiro ganhou força. Foi prestigiado, foi notado e também se destacou em festivais internacionais, mesmo em formatos remotos. Não tivemos a alegria dos anos anteriores de sentir a emoção de um aplauso ao final da sessão, de abraçar os amigos e parabenizar os realizadores presencialmente. Ou até mesmo de brindar encontros e reencontros cinematográficos depois daquela sessão eufórica em um festival. Interagimos virtualmente. Fizemos entrevistas pelo computador ou por uma tela de celular. Mas demos um jeito de vibrar e se orgulhar de nossa arte. Mesmo com máscara e álcool em gel.
Sabemos que o nosso cinema sempre foi muito bem representado em diversos gêneros e para todos os públicos; em grandes, pequenas e independentes produções. Fato é que não vivemos o melhor momento da nossa cultura, que diariamente é ameaçada. Mas, por aqui, seguimos na luta e com o compromisso de cativar, emocionar, gerar reflexão e debates, fazer sorrir, chorar e eternizar momentos únicos. O cinema brasileiro leva nossa identidade para todos os cantos do país e do mundo. Com sotaques, histórias, personagens inesquecíveis e profissionais competentes. Gera empregos, exporta talento e criatividade.
Como de costume, fazer uma lista com os melhores do ano não é uma tarefa fácil. Ainda mais quando nos deparamos com obras tão impressionantes e relevantes. Nosso passado, presente e futuro foram retratados brilhantemente em diversos curtas e longas. Fomos surpreendidos, mas também cruzamos com decepções. Choramos, sorrimos, aplaudimos. Mas também cansamos. Vimos o mesmo filme algumas vezes, outros sem vontade. Descobrimos atores, atrizes, realizadores. Percebemos uma preocupação necessária em escancarar nossos traumas nas telonas (ou telinhas) e também sentimos orgulho daquilo que é nosso, feito com amor e dedicação. Sim, o ano de 2020 daria um filme. De qualquer gênero, brasileiro e premiado.
Sendo assim, para encerrar esse ano tão atípico, porém repleto de produções elogiáveis, fizemos uma lista com os melhores longas-metragens brasileiros de 2020 que estrearam em circuito comercial nas salas de cinema e nas plataformas digitais. Confira:
15º: MARIA LUIZA
Dirigido por Marcelo Díaz
Vencedor do prêmio de melhor documentário no Merlinka Festival, Maria Luiza retrata a história de Maria Luiza da Silva, cabo da FAB durante 22 anos e aposentada por invalidez, após assumir sua condição de transexual. O filme aborda os conflitos, as desilusões e as conquistas da cabo em seu processo de busca de identidade; investiga os motivos pelos quais foi impedida de continuar a exercer sua atividade militar como mecânica de aviação e realizar seu sonho: vestir a farda feminina. Maria Luiza nasceu em Ceres, Goiás, como José Carlos, mas nunca se reconheceu como uma figura masculina. Curiosamente, era o dia de Santos Dumont, patrono da aviação brasileira. Quando completou 18 anos, prestou o serviço militar e entrou para a FAB. Enquanto servia na área de mecânica de aeronaves na Base Aérea de Brasília, revelou seu desejo pela mudança de sexo. Após muitas passagens por médicos e psicólogos da Aeronáutica, em 1998 recebeu o diagnóstico de transexual e em 2000 o comando decidiu que ela deveria se aposentar com a metade do soldo que recebia na época. Pediu ajuda ao Ministério Público e deu início a um longo processo pelo reconhecimento de sua identidade como mulher trans. Em 2005, fez a cirurgia de transgenitalização e em 2007 corrigiu gênero e nome nos documentos civis. Apenas um ano, foi emitida sua nova identidade militar como Cabo Maria Luiza, fato sem precedentes no país. O longa passou por diversos festivais, entre eles: É Tudo Verdade, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, FIDBA – Festival Internacional de Documentários de Buenos Aires, San Diego Latino Film Festival, Amsterdam Transgender Film Festival, Geneva International Queer Film Festival, Amazônia Doc – Festival Pan-Amazônico de Cinema, Seattle Latino Film Festival, International Queer Film Festival Playa del Carmen, entre outros.
*Disponível nas plataformas Now, Vivo Play, Apple TV+, Oi Play, YouTube, iTunes e Google Play.
14º: ALICE JÚNIOR
Dirigido por Gil Baroni
A estreia nacional de Alice Júnior, filme de Gil Baroni, aconteceu em setembro do ano passado na 26ª edição do Festival de Cinema de Vitória. O filme conta a história de Alice, interpretada por Anne Celestino Mota, uma garota transexual que quer dar o primeiro beijo, ser feliz e viver as experiências da adolescência sem ser rotulada e reprimida. O premiado longa fala sobre a adolescência, suas inquietações, seus sonhos e retrata a escola como um ambiente de ensino indispensável, mas que muitas vezes pode ser opressor. O diretor Gil Baroni, o roteirista e criador da ideia original Luiz Bertazzo e o corroteirista Adriel Nizer Silva, desenvolveram a história ao longo de um ano e meio. Alice Júnior integrou a seleção da mostra Generation no Festival de Berlim deste ano; no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro recebeu os prêmios de melhor atriz para Anne Mota, melhor montagem, trilha sonora e atriz coadjuvante para Thaís Schier; no Festival do Rio, foi eleito o melhor filme da Mostra Geração segundo o público; na 27ª edição do Festival Mix Brasil foi consagrado com três estatuetas: melhor interpretação, Menção Honrosa e melhor longa nacional segundo o público. Além disso, o filme circulou com sucesso em festivais internacionais e recebeu o Prêmio do Júri no aGLIFF, Austin Gay and Lesbian International Film Festival, e integrou a seleção do Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival, considerado o maior festival com temática LGBTQIA+ do mundo. Recentemente, apareceu entre os melhores do ano na lista The Best Queer Films of 2020 do site americano IndieWire.
EXTRAS: entrevista com Anne Mota e Gil Baroni no Festival de Vitória + trailer.
*Disponível nas plataformas Netflix, YouTube e Google Play.
13º: DISFORIA
Dirigido por Lucas Cassales
Exibido na mostra de longas-metragens gaúchos da 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado, Disforia estreou nos cinemas em março, mas teve sua carreira interrompida por conta da pandemia. Na trama, Dário, interpretado por Rafael Sieg, sofre pela dificuldade em se recuperar de um acontecimento assustador de seu passado. Ao se aproximar da menina Sofia, vivida por Isabella Lima, as emoções e a culpa tomam conta de sua vida, a partir das sensações estranhas e perturbadoras que a menina causa nas pessoas ao seu redor. Atormentado, ele precisa encarar o passado e o mistério envolvendo a família de Sofia. Trata-se de um thriller de horror psicológico, que aborda alguns temas como estresse pós traumático, transtornos psicológicos, depressão pós parto, solidão e insanidade. Além disso, transgride os limites entre o real e o imaginário. Depois de uma carreira consolidada em curtas-metragens, com filmes como O Corpo e Abismo, Lucas Cassales fez sua estreia em longas com Disforia e levou o prêmio de melhor direção no Rio Fantastik Festival, em 2019. O elenco conta também com Vinícius Ferreira, Juliana Wolkmer, Janaina Kremer e Ida Celina Weber.
*Disponível no Amazon Prime Video, Now, Google Play, iTunes, Vivo Play, Looke e YouTube.
12º: CASA
Dirigido por Letícia Simões
Em uma narrativa pessoal, da própria diretora, o documentário mostra situações corriqueiras, como revisitar os álbuns de família, a infância, as lembranças, a doença, o amor, a profissão, o casamento, conversas à mesa de refeições, livros e poemas. A cineasta Letícia Simões busca extrapolar o caráter íntimo e mostra como que, para cada uma das mulheres de sua família, o cotidiano e a própria vida, ganham contornos diferentes entre si, e que ora se complementam, ora se chocam, revelando suas decisões e suas trajetórias. Letícia, a filha recém-separada, se culpa por ter se distanciado da mãe em dez anos longe de casa; Heliana, a mãe, está encarando uma séria crise depressiva que começou depois da decisão de colocar a sua mãe, Carmelita, num asilo de idosos. Na construção dos espaços de afeto entre essas mulheres, Casa questiona o que é sanidade, o que é memória, o que é o feminino, o que é a solidão, o que é família, o que é casa. O filme recebeu o Prêmio da Crítica no 8º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, foi eleito o melhor longa do 26º Festival de Cinema de Vitória e premiado pelo Júri Jovem do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Além disso, foi exibido na Mostra de São Paulo, XII Janela Internacional de Cinema do Recife, Festival de Havana, Mostra de Cinema de Gostoso, Festival do Rio, entre outros.
EXTRA: entrevista com Letícia Simões no Olhar de Cinema.
*Disponível nas plataformas Now, Vivo Play e Oi Play.
11º: O BARCO
Dirigido por Petrus Cariry
Vencedor de quatro prêmios na 28ª edição do Festival Cine Ceará, entre eles, melhor filme pelo júri Olhar Universitário, O Barco, de Petrus Cariry, estreou nos cinemas em novembro. No filme, Esmerina, papel de Verônica Cavalcanti, é mãe de 26 filhos, cada um chamado por uma letra do alfabeto. A família leva uma vida pacata em uma vila de pescadores até que um barco naufraga trazendo Ana, vivida por Samya de Lavor, uma misteriosa mulher que vai mudar a rotina da família. O mais afetado é o filho A, interpretado por Rômulo Braga, o mais velho da prole, que desperta para a vontade de romper com o lugar onde passou sua vida inteira para, finalmente, conhecer o mundo. O elenco ainda conta com a participação dos atores paraibanos Everaldo Pontes, que interpreta um velho sábio da vila; e Nanego Lira, como o patriarca da família. A história é inspirada no conto homônimo do escritor cearense Carlos Emílio Corrêa Lima, que foi adaptado para o cinema pelo próprio diretor em parceria com Rosemberg Cariry e Firmino Holanda (também montador do filme). Além de diretor, roteirista e montador, Petrus também assina a direção de fotografia, trabalho que foi premiado no Islantilla Cineforum (Espanha), no 3º Rivne International Film Festival (Ucrânia), no Rio Fantastik Festival (Brasil), no Festicini 2018 – Festival Internacional de Cinema Independente (Brasil) e no 13º Encontro Nacional de Cinema dos Sertões. O longa também foi exibido em festivais e mostras dos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Nigéria, México, Chile, Colômbia e Portugal.
EXTRAS: cena exclusiva + trailer + melhores momentos da apresentação do filme e entrevistas com o diretor e com a atriz Veronica Cavalcanti no Cine Ceará.
*Em cartaz nos cinemas e disponível nas plataformas Google Play e YouTube.
10º: PARTIDA
Dirigido por Caco Ciocler
O premiado documentário Partida, de Caco Ciocler, que também dirigiu Esse Viver Ninguém Me Tira, estreou direto nas plataformas de streaming. Antes do lançamento, passou na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e foi escolhido pelo público como um dos finalistas ao Troféu Bandeira Paulista. O filme também foi exibido no Festival do Rio e conquistou quatro prêmios no 14º Fest Aruanda, em João Pessoa: Prêmio Especial do Júri, melhor som para Vasco Pimentel, melhor atriz para Georgette Fadel e melhor montagem para Tiago Marinho. A produção também foi selecionada para o 23º Festival de Málaga. No longa, diante do resultado da última eleição no Brasil, a atriz Georgette promete se candidatar à Presidência da República em 2022 por um partido formado só por mulheres, o Partida. Embarca em uma viagem de ônibus ao Uruguai na tentativa de passar a virada do ano ao lado do ex-presidente Pepe Mujica, sua maior inspiração política viva. Ainda nos primeiros minutos, esbarra em Léo, empresário com posições políticas bem diferentes das suas. O antagonista inesperado, quem diria, torna-se seu maior parceiro de jornada. Sob a paisagem caminhante, as irreconciliáveis brigas entre a esquerda e a direita, que dividiam amigos, famílias e o país, são revisitadas num performático jogo entre ficção e documentário. Na companhia de outros viajantes e de um grande amor, a esperança do encontro guia o sentido utópico de Partida. O elenco conta também com Léo Steinbruch, Paula Cesari, Vasco Pimentel, Sarah Lessa, Jefferson dos Reis, Julia Zakia, Beto Amaral, Manoela Rabinovitch, Ivan Drukier Waintrob e Luiza Zakia.
*Disponível nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Petra Belas Artes à la Carte, Filme Filme, Looke, iTunes e Google Play.
9º: AOS OLHOS DE ERNESTO
Dirigido por Ana Luiza Azevedo
Com estreia programada para abril deste ano, Aos Olhos de Ernesto, de Ana Luiza Azevedo, teve seu lançamento adiado por conta da pandemia de Covid-19. Na trama, a solidão, a amizade, o amor e as redescobertas na terceira idade permeiam a história de Ernesto, vivido pelo ator uruguaio Jorge Bolani, do filme Whisky. Aos 78 anos, o personagem, ex-fotógrafo uruguaio, se depara com uma crescente cegueira e as limitações diversas que acompanham a avançada idade. Viúvo e pai de filho único, Ramiro, papel de Julio Andrade, que vive longe, Ernesto ressignifica sua vida e os padrões da velhice ao conhecer a jovem Bia, interpretada por Gabriela Poester, que o ajuda, até mesmo a reencontrar um grande amor. Também estão no elenco: Jorge d’Elia, como Javier, o vizinho de Ernesto; Glória Demassi, que vive Lucía, o amor uruguaio do protagonista; e as participações de Mirna Spritzer, Áurea Baptista, Janaína Kremer, Celina Alcântara e Marcos Contreras. Escrito por Ana Luiza, em parceria com Jorge Furtado, o roteiro passou por laboratórios de desenvolvimento e teve consultoria do escritor cubano Senel Paz, autor de Morango e Chocolate. Premiado pela crítica na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Aos Olhos de Ernesto também recebeu os prêmios de melhor filme pelo público e melhor ator, para o uruguaio Jorge Bolani, no 23º Festival Internacional de Cine de Punta del Este; e foi consagrado na 24ª edição do Inffinito Film Festival, no qual foi eleito o melhor filme de ficção e também ganhou os prêmios de melhor direção e melhor roteiro. Além disso, teve sua estreia mundial no 24º Festival Internacional de Busan, na Coreia do Sul, o maior festival de cinema da Ásia, na categoria World Cinema.
EXTRAS: cena exclusiva + trailer.
*Disponível nas plataformas Now, Vivo Play e Oi Play.
8º: CIDADE PÁSSARO
Dirigido por Matias Mariani
Após estrear na Mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano, Cidade Pássaro foi lançado mundialmente na plataforma Netflix. Rodado em São Paulo e protagonizado por dois atores nigerianos, o filme conta a história de Amadi, papel de OC Ukeje, que viaja para a capital paulista em busca de seu irmão Ikenna, interpretado por Chukwudi Iwuji, o primogênito de uma família da etnia Igbo. Enquanto procura seu irmão, Amadi conhece uma vibrante comunidade de imigrantes, uma camada da população paulistana da qual pouco se fala. O filme conta também com Indira Nascimento, no papel de Emília, que passa a ser a ligação de Amadi com a cidade de São Paulo. O longa trata de temas como família, pertencimento, as fronteiras que definem cada um, a ideia de pátria e de lar. Com roteiro assinado por Chika Anadu, Francine Barbosa, Maíra Bühler, Matias Mariani, Júlia Murat, Chioma Thompson e Roberto Winter, Cidade Pássaro também foi exibido na Mostra de São Paulo e selecionado para o Festival de Havana.
*Disponível na Netflix.
7º: SOL ALEGRIA
Dirigido por Tavinho Teixeira
Selecionado para a seção Bright Future do Festival Internacional de Cinema de Roterdã, em 2018, Sol Alegria, dirigido pelo paraibano Tavinho Teixeira, foi exibido pela primeira vez no Brasil na competição de longas do 7º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. O filme acompanha uma excêntrica família que viaja em uma missão por um Brasil ditatorial para salvar a humanidade da extinção. A direção de fotografia é assinada por Ivo Lopes Araújo, dos filmes A Cidade Onde Envelheço e Tatuagem; a direção de arte é de Thales Junqueira, de Aquarius, Mãe Só Há Uma, Divino Amor e Bacurau. Na trama, enquanto o país está sob o jugo de uma junta militar e pastores corruptos pregam o apocalipse, uma família excêntrica e sem lei caminha pelo interior brasileiro. Seu primeiro objetivo é entregar uma remessa de armas a um grupo de freiras militantes que se retiraram para a selva, vivendo da renda de sua plantação de cannabis. Sol Alegria levou o Prêmio Especial do Júri no Olhar de Cinema e foi exibido no Festival Mix Brasil, Queer Lisboa, Mostra de São Paulo, Cine Ceará, Festival de Hamburgo, Festival de Brasília e CineBH. Esse é o terceiro longa de Tavinho Teixeira, que, além de dirigir, integra o elenco ao lado do cantor Ney Matogrosso, da atriz Joana Medeiros, do ator português Mauro Soares, das atrizes Suzy Lopes, Mariah Teixeira, Vera Valdez, Anita Medeiros e do ator Everaldo Pontes.
EXTRA: entrevista com a atriz Joana Medeiros no Olhar de Cinema + matéria especial sobre o filme no Olhar de Cinema.
*Disponível no MUBI.
6º: ZONA ÁRIDA
Dirigido por Fernanda Pessoa
Depois de Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava, a cineasta Fernanda Pessoa apresenta Zona Árida, seu segundo longa documental, que foi premiado em três laboratórios de pós-produção e fez sua estreia mundial na competitiva Next Masters do festival Dok Leipzig, no qual recebeu Menção Honrosa. No filme, Fernanda revisita Mesa, uma cidade ao sul do estado do Arizona, nos Estados Unidos, considerada a mais conservadora do país de acordo com um estudo de 2014 realizado pelas universidades UCLA e MIT. Em 2001, a diretora tinha 15 anos e foi uma estudante de intercâmbio por um ano em Mesa. Quinze anos depois, e dois meses antes da eleição de Donald Trump, ela volta para entender sua experiência e as ideias conservadoras, passando por temas como a fronteira mexicana, o estilo de vida cowboy, religiosidade e patriotismo. Em setembro de 2016, com uma pequena equipe de filmagem, revisitou lugares e reencontrou pessoas que fizeram parte de sua experiência da adolescência. Zona Árida é um filme em primeira pessoa, no qual Fernanda ressignifica sua experiência, faz um reencontro com um período importante de sua adolescência e traça um retrato profundo da América. O filme também foi exibido no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo deste ano.
*Disponível nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, YouTube, iTunes e Google Play.
5º: FIM DE FESTA
Dirigido por Hilton Lacerda
Vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor roteiro na última edição do Festival do Rio, Fim de Festa conta com direção e roteiro do cineasta pernambucano Hilton Lacerda, de Tatuagem. O filme é o segundo longa do diretor, que se inspirou num caso real para apresentar as mudanças que ocorrem no Brasil de hoje. Irandhir Santos é o protagonista do drama em que vive um investigador de polícia encarregado de desvendar o assassinato de uma turista francesa durante o carnaval do Recife, em Pernambuco. Na trama, o carnaval chegou ao fim. Uma jovem francesa foi brutalmente assassinada na cidade. O policial Breno volta antecipadamente de suas férias para investigar o crime, surpreendendo seu filho com três amigos hospedados em sua casa. Enquanto procura por pistas, a cidade desenterra traumas do passado de Breno e revela um estranho universo de lugares e memórias. Com fotografia de Ivo Lopes Araújo e trilha sonora de DJ Dolores, o longa conta também com Suzy Lopes, Gustavo Patriota, Arthur Canavarro, Geyson Luiz, Nash Laila, Amanda Beça, Safira Moreira, Leandro Vila, Ariclenes Barroso e uma participação especial de Hermila Guedes no elenco.
EXTRAS: entrevistas com Irandhir Santos, Suzy Lopes e Hilton Lacerda + crítica do filme + trailer.
*Disponível em DVD e nas plataformas Telecine Play, YouTube e Google Play.
4º: SERTÂNIA
Dirigido por Geraldo Sarno
O cineasta baiano Geraldo Sarno desbravou o sertão nordestino em mais de 50 anos de carreira e cerca de 20 produções audiovisuais, entre curtas, longas e programas de TV. Nome representativo do cinema brasileiro, Sarno fez de sua filmografia um mergulho profundo sobre a vida e os costumes do sertanejo, dando voz a um povo que vive sob o sol da miséria, da violência, das relações políticas e da busca por dias melhores. O diretor de 82 anos marca seu retorno aos cinemas com Sertânia, realizado pela produtora cearense Cariri Filmes e rodado durante quatro semanas nas cidades de Milagres, Brumado e Marcionílio de Souza, no interior da Bahia. Dessa vez, Sarno ambienta a história no período pré-cangaço, na cidade fictícia de Sertânia. O protagonista é Antão, interpretado por Vertin Moura, um homem que nasceu em Canudos e que, após a vida familiar marcada por perdas e pela saída do Nordeste para São Paulo, se vê parte do bando de jagunços de Jesuíno Mourão, papel de Julio Adrião. A trama explora as relações de poder no interior nordestino, as dores familiares que atormentam a vida do protagonista, a luta pela sobrevivência e os rostos que habitam esse sertão pobre e violento. O filme conta com direção de fotografia de Miguel Vassy, montagem realizada em parceria com Renato Vallone, música de Lindenbergue Cardoso e participação da população local. O roteiro foi desenvolvido por mais de dez anos por Sarno. O elenco conta também com Lourinelson Vladmir, Igor de Carvalho, Gilsérgio Botelho, Kécia do Prado, Edgard Navarro, Isa Mei, Marcelo Cordeiro, Rogério Leandro, Marcos Duarte e Teófilo Gobira. Sertânia foi o grande vencedor do 43º Festival Guarnicê de Cinema e foi exibido também na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, 9º Olhar de Cinema, Festival ECRÃ e Festival de Havana.
EXTRAS: cena exclusiva + matéria especial sobre cinema brasileiro no Olhar de Cinema.
*Em cartaz nos cinemas.
3º: INDIANARA
Dirigido por Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa
O documentário apresenta a história da ativista transexual Indianarae Alves Siqueira, que luta com seu bando pela sobrevivência das pessoas trans no Brasil. Dirigido por Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, ganhou projeção internacional quando foi exibido na mostra da ACID, Association du cinéma indépendant pour sa diffusion, evento paralelo ao Festival de Cannes, em maio do ano passado. Depois disso, foi selecionado para mais de cinquenta festivais internacionais e apresentado em mais de vinte países da Europa, da América e da Ásia. A obra é um retrato da matriarca e fundadora da Casa Nem, abrigo do Rio de Janeiro voltado para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. Vegana, anticapitalista e puta, como se define, Indianarae milita pela sobrevivência das pessoas LGBTQIA+, mas também pelos oprimidos da sociedade em geral. No filme, prestes a completar 50 anos, cansada dos embates e às vésperas de se casar, ela ensaia abandonar a política das ruas. Mas, diante da perda da companheira de luta, Marielle Franco, e do avanço do totalitarismo no Brasil, ela arranca forças para partir para um último ato de resistência. Premiado como melhor filme no Festival de Cerbère, na França; no Festival Visionär, na Alemanha; e no Festival Fire, na Espanha, foi apresentado em quase 200 países pela plataforma MUBI e aparece como o segundo brasileiro mais bem avaliado, atrás apenas de Cidade de Deus. Na França, foi lançado em circuito comercial em 70 salas de cinema e também em DVD e VoD. Além de ser exibido no Instanbul Film Festival, na Turquia, e no Queer Lisboa como filme de abertura, Indianara também fez sucesso no Brasil. Foi exibido na 43ª Mostra de São Paulo, no XII Janela Internacional de Cinema do Recife e acumulou muitos outros prêmios, como: melhor longa-metragem na 27ª edição do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade; melhor filme na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema; Menção Honrosa no 8º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba; Prêmio da Crítica e melhor figurino no 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro; entre outros.
EXTRAS: crítica do filme + entrevista com Indianarae no Olhar de Cinema + entrevista no Fest Aruanda + participação especial no programa sobre os cartazes do cinema brasileiro.
*Disponível no Telecine Play, iTunes, Google Play, NOW, Looke e Vivo Play.
2º: BABENCO – ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO E DIZER: PAROU
Dirigido por Bárbara Paz
Dirigido por Bárbara Paz, o documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou traça um paralelo entre a arte e a doença do cineasta Hector Babenco. O filme revela medos e ansiedades, mas também memórias, reflexões e fabulações, num confronto entre vigor intelectual e a fragilidade física que marcou sua vida. Recentemente, o longa foi escolhido pelo Comitê Brasileiro de Seleção da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para representar o Brasil na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2021; sendo assim, agora disputa uma vaga entre os finalistas da premiação americana. Nesta imersão amorosa na vida do cineasta, Bárbara se desnuda, consciente, em situações íntimas e dolorosas. Do primeiro câncer, aos 38, até a morte, aos 70 anos, Babenco fez do cinema remédio e alimento para continuar vivendo. O filme já foi selecionado para mais de 20 festivais internacionais e estreou mundialmente no Festival de Veneza do ano passado, no qual recebeu o prêmio de melhor documentário na mostra Venice Classics e o prêmio Bisato D’Oro 2019, entregue pela crítica independente. No início do ano, foi premiado no Festival internacional de Cinema de Mumbai, na Índia. Também foi selecionado para os festivais do Cairo, Havana, Mar del Plata, Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Festival do Rio, Mostra Tiradentes, Fest Aruanda, FIDBA, na Argentina, Baltic Sea Docs, na Letônia, e para o Mill Valley Film Festival, nos Estados Unidos.
EXTRAS: entrevista com Bárbara Paz + exibição no Fest Aruanda + entrevista na Mostra de São Paulo.
*Em cartaz nos cinemas e disponível nas plataformas Now, Looke, Oi Play e Vivo Play.
1º: PACARRETE
Dirigido por Allan Deberton
Estrelado por Marcélia Cartaxo e filmado na cidade de Russas, interior do Ceará, o premiado Pacarrete, dirigido por Allan Deberton, estreou nos cinemas brasileiros no dia 26 de novembro. O longa, que seria lançado em abril deste ano, foi adiado por conta da pandemia. Um dos filmes mais elogiados e festejados pela crítica e pelo público, Pacarrete foi o grande vencedor da 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado e foi consagrado com oito kikitos, entre eles, melhor filme e melhor atriz. Exibido em 39 festivais, desde então, já coleciona vinte e sete prêmios ao redor do mundo. Primeiro longa-metragem de Deberton, Pacarrete aborda questões como a loucura, os desafios de ser artista e o drama da velhice de uma bailarina clássica, que gosta de ser chamada de Pacarrete, que significa margarida em francês. O filme é livremente inspirado na conterrânea do diretor e demorou 12 anos para ser realizado. Nascida e criada em Russas, Pacarrete alimentou desde criança o sonho de ser artista e viver a vida na ponta da sapatilha, mesmo sendo de uma cidade conservadora. Mas é em Fortaleza que ela consegue estar no centro dos holofotes como bailarina clássica e se torna professora de ballet. Com a aposentadoria, ela retorna para sua cidade natal onde pretende continuar seu trabalho artístico, mas só encontra desrespeito à sua arte: em vez de plateias de admiradores e aplausos, ela se defronta com o despeito daqueles que cruzam seu caminho; e a bailarina e professora de outrora se transforma na “louca da cidade”. Para viver essa mulher que fez da aspiração de ser uma bailarina o objetivo de sua vida, Deberton convidou a premiada atriz paraibana Marcélia Cartaxo, vencedora do Urso de Prata no Festival de Berlim, em 1985, por A Hora da Estrela. O elenco principal ainda conta com as elogiadas atrizes paraibanas Zezita Matos e Soia Lira; o ator baiano João Miguel; e os cearenses Rodger Rogério, Débora Ingrid, Samya De Lavor e Edneia Tutti Quinto; além da participação de atores e atrizes da própria cidade. A preparação do elenco é de Christian Duurvoort, que trabalhou em Ensaio Sobre a Cegueira e O Banheiro do Papa. Com roteiro escrito por Allan Deberton, André Araújo, Samuel Brasileiro e Natália Maia, o filme conta com fotografia de Beto Martins e trilha sonora de Fred Silveira; César Teixeira e Clara Bastos assinam como produtores e Deberton, ao lado de Ariadne Mazzetti, assinam a produção executiva. O longa, que começou sua trajetória no Shanghai International Film Festival, se destacou com muitos prêmios, entre eles: melhor filme na 6ª Mostra de Cinema de Gostoso; melhor filme, atriz, direção, roteiro e edição no LABRFF, Los Angeles Brazilian Film Festival; melhor filme pelo júri oficial e popular no FAM, Florianópolis Audiovisual Mercosul; melhor filme e melhor atriz no FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa; melhor atriz para Marcélia Cartaxo no 26º Festival de Cinema de Vitória; entre outros. Em uma enquete realizada no Instagram do CINEVITOR, Pacarrete também foi eleito pelos seguidores como o melhor filme brasileiro do ano.
EXTRAS: crítica do filme + entrevista com Marcélia Cartaxo em Gramado + trailer + melhores momentos da exibição do filme em Russas no do CINEFESTIVAL – Festival de Cinema do Vale do Jaguaribe + matéria especial sobre o filme na Mostra de São Paulo + entrevista com Marcélia Cartaxo e Soia Lira no Festival de Vitória + entrevista com Zezita Matos e Soia Lira no Festival de Gramado + entrevista com Marcélia Cartaxo na Mostra de Cinema de Gostoso + entrevista com Marcélia Cartaxo no LABRFF + homenagem para Marcélia Cartaxo no LABRFF.
*Em cartaz nos cinemas e em breve nas plataformas digitais.
MENÇÃO HONROSA: aos festivais de cinema, que diante do cenário da pandemia de Covid-19 se reinventaram e se adaptaram a novos formatos. Um festival on-line, definitivamente, não é a mesma coisa que um presencial. Porém, há um lado positivo nisso tudo. As produções ganharam uma repercussão maior, já que o espectador, que não tinha como marcar presença fisicamente, teve acesso à programação dentro de sua casa. Os eventos ganharam outra abrangência e os organizadores de diversos festivais se empenharam para realizá-los de novas maneiras, com novos formatos e mantendo o comprometimento com os realizadores e com o público. Os diálogos sobre as obras foram ampliados, a visibilidade destes filmes, tanto curtas como longas, se multiplicou e ganhou novos olhares. Sabíamos que seria muito difícil participar de algo nos mesmos moldes do ano passado. Mas, lá atrás, ainda enxergávamos um futuro mais positivo. Hoje, vemos o reflexo de atitudes irresponsáveis de governantes, autoridades e, também, de cidadãos. Seguimos unindo forças para encarar esse momento e com um certo respiro de ter esse novo acesso à arte para nos acompanhar (para quem dá valor e reconhece sua importância).
MENÇÃO ESPECIAL (em ordem alfabética):
10 Horas para o Natal, de Cris D’Amato
A Febre, de Maya Da-Rin
Açúcar, de Renata Pinheiro e Sergio Oliveira
Adoniran – Meu Nome é João Rubinato, de Pedro Serrano
AmarElo – É Tudo Pra Ontem, de Fred Ouro Preto
Atrás da Sombra, de Thiago Camargo
Breve Miragem de Sol, de Eryk Rocha
Carlinhos e Carlão, de Pedro Amorim
Fico te Devendo uma Carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin
Guerra de Algodão, de Cláudio Marques e Marília Hughes
Lorna Washington: Sobrevivendo a Supostas Perdas, de Rian Córdova e Leonardo Menezes
M-8 – Quando a Morte Socorre a Vida, de Jeferson De
Mulher Oceano, de Djin Sganzerla
Narciso em Férias, de Renato Terra e Ricardo Calil
Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu, de Bruno Risas
Os 8 Magníficos, de Domingos Oliveira
Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra
Três Verões, de Sandra Kogut
Verlust, de Esmir Filho
Textos: Vitor Búrigo
Fotos: Divulgação, Luiz Alves (Pacarrete), Victor Jucá (Fim de Festa), Miguel Vassy (Sertânia), Petrus Cariry (O Barco), Mari Nagem (Zona Árida), Diego Bressani (Maria Luiza).