Festival de Cannes 2020 anuncia Seleção Oficial, novo formato e filme de João Paulo Miranda Maria

por: Cinevitor

antoniopitangacannes2020Antonio Pitanga em Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda Maria.

Entre tantas incertezas por conta da pandemia de Covid-19, a 73ª edição do Festival de Cannes, que aconteceria em maio, finalmente tomou uma decisão. Nesta quarta-feira, 03/06, Thierry Frémaux, diretor geral do evento, e Pierre Lescure, presidente do festival, anunciaram, em Paris, as mudanças na programação, um novo formato e a Seleção Oficial com filmes que receberão o selo de Cannes.

Desde o início, Frémaux sempre deixou claro que o cancelamento nunca foi uma opção. Vale lembrar que Cannes só foi cancelado apenas uma vez, em 1939, e em 1968 sua edição não foi concluída. “A edição de 2020 não poderia simplesmente desaparecer. Também foi por causa do trabalho árduo dos cineastas que não queríamos desistir. Não foi possível deixar todas as obras para 2021. Por isso, continuamos nossa seleção. E foi a decisão certa”, disse Thierry.

“Embora as salas de cinema fiquem fechadas por três meses, fato que acontece pela primeira vez desde a invenção da exibição de filmes pelos irmãos Lumière, em 28 de dezembro de 1895, essa seleção reflete que o cinema está mais vivo do que nunca. Permanece único, insubstituível. Vivemos em um mundo em que as imagens em movimento estão em constante evolução. O cinema faz a diferença graças a quem o faz, a quem lhe dá vida e a quem a recebe e a glorifica. O cinema não está morto, nem está doente”, completou.

Em comunicado oficial, Frémaux adiantou que a comissão de seleção se deparou com muitos nomes de cineastas já consagrados que estariam com seus filmes prontos para este ano. Porém, outros títulos, também esperados para esta edição, ficarão de fora porque seus realizadores resolveram adiar o lançamento para 2021: “A ausência deles na Seleção Oficial deste ano não será uma surpresa. Nos encontraremos novamente em 2021”, confirmando que esses trabalhos poderão se inscrever no ano que vem.

wescannes2020The French Dispatch, de Wes Anderson: selecionado.

Neste ano, o número de inscritos bateu recorde: foram 2.067 longas-metragens. No ano passado, foram 1.845. Outro número crescente é a constante expansão geográfica dos países de origem dos filmes. Em 2020, os filmes vieram de 147 países, em comparação com 138 em 2019, um aumento de 6,5%. Ao final, foram escolhidos 56 filmes. Entre os selecionados, 15 são de cineastas estreantes. Há também um número crescente entre as mulheres: 532 diretoras inscreveram seus filmes; 16 foram selecionadas, representando 28,5% da seleção, superior ao ano passado.

Sem as tradicionais exibições na Croisette, a programação foi montada em uma única lista sem registrar os filmes em categorias específicas, como Exibições Especiais, Fora de Competição ou Sessão da Meia-Noite, por exemplo. “Essa seleção foi construída com a perspectiva de ver o Festival de Cannes assumir, mais do que nunca, sua principal missão: promover filmes, artistas e profissionais mostrando seu trabalho, sendo a ponte entre a tela e o público”, disse Thierry.

Sobre a importância de uma exibição no Palácio dos Festivais, Frémaux falou: “Teremos que encontrar outra maneira de apoiar esses filmes. Agora que a estreia mundial no Palácio não acontecerá, terá que ser em cinemas e festivais ao redor do mundo. Muitos outros festivais expressaram o desejo de receber os filmes selecionados para Cannes 2020”.

Festivais importantes já se ofereceram para as exibições especiais de Cannes, como: Locarno, Telluride, Toronto, Deauville, San Sebastián, Pusan, Morelia, Angoulême, Nova York, Roma, Rio, Tóquio, Mumbai, Mar del Plata e Sundance. Os títulos que receberam o selo de Cannes podem competir nesses outros festivais, já que este ano não será escolhido o grande vencedor da Palma de Ouro.

A ACID, Association du Cinéma Indépendant pour diffusion, uma das mostras paralelas ao festival, também anunciará uma seleção, assim como a Semana da Crítica. A seleção de curtas-metragens e da Cinéfondation serão reveladas nos próximos dias. A lista completa do programa Cannes Classics também será anunciada em breve, encabeçada pela obra-prima de Wong Kar-Wai, Amor à Flor da Pele. Além disso, o Marché du Film terá uma edição on-line este ano, organizada por seu diretor Jérôme Paillard.

“Uma última coisa: 2020 é o centenário de Federico Fellini. Durante esses doze dias, todos teríamos abraçado as três palavras do Maestro que Quentin Tarantino nunca deixa de repetir e que, mais do que nunca, fluem pelas veias de todos os amantes de cinema: Viva il cinema!”, finalizou Thierry.

Entre os selecionados, vale destacar a presença do brasileiro Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda Maria, que já recebeu Menção Especial em Cannes, em 2016, com o curta A Moça que Dançou com o Diabo. Ao anunciar a produção, Thierry Frémaux falou sobre a crítica situação da Cinemateca Brasileira.

No longa, Antonio Pitanga dá vida a Cristovam, um homem simples do interior que precisa mudar de cidade em busca de melhores condições de vida e trabalho. Porém, ele precisa se adaptar a uma realidade diferente daquela que estava acostumado, sofrendo com a solidão e o preconceito dos moradores locais. O diretor João Paulo fala mais sobre o personagem: “O filme tem o protagonismo de Antonio Pitanga, com seus mais de 80 anos, interpretando um homem que veio do interior de Goiás e que enfrentará violentamente um grupo ultra conservador no sul do Brasil. Isso o guiará num buraco negro profundo e complexo; que espelha um Brasil que está perdido no tempo, com cara dos anos 1970”.

A sinopse diz: Cristovam é um caipira do interior do Brasil que busca em outras terras melhores condições de trabalho. Mas, o contraste cultural e étnico da nova morada em relação à sua terra natal provoca no vaqueiro um processo de solidão e perda de identidade. Boatos e maldades dos habitantes locais o levam ao desespero e a decisões equivocadas, fazendo-o perder a razão e a lucidez. Sem saída, ele passa a reviver o passado para suportar o presente.

“Infelizmente não haverá o glamour do tapete vermelho nem as sessões de photocall. O que de fato não significam em si o que é o Cinema. O mais importante é o impacto que estes filmes darão. Esta seleção é um anúncio do cinema de amanhã, que precisa encarar toda esta crise que vivemos”, disse o diretor. O elenco conta também com Ana Flavia Cavalcanti, Aline Marta Maia, Gilda Nomacce e Sam Louwyck. A direção de fotografia é de Benjamín Echazarreta, de Uma Mulher Fantástica; a montagem é de Benjamin Mirguet, de Batalla En El Cielo; e a composição sonora musical é de Nicolas Becker, de Gravidade.

Confira a lista completa com os filmes selecionados para o Festival de Cannes 2020:

LES FIDÈLES (ou pelo menos selecionados anteriormente)

The French Dispatch, de Wes Anderson (Alemanha/EUA)
Été 85 (Summer of 85), de François Ozon (França)
Asa ga Kuru (True Mothers), de Naomi Kawase (Japão)
Lover’s Rock, de Steve McQueen (Reino Unido)
Mangrove, de Steve McQueen (Reino Unido)
Druk (Another Round), de Thomas Vinterberg (Dinamarca)
ADN (DNA), de Maïwenn (França/Argélia)
Last Words, de Jonathan Nossiter (EUA)
Heaven: To the Land of Happiness, de Im Sang-soo (Coreia do Sul)
El olvido que seremos (Forgotten we’ll be), de Fernando Trueba (Espanha)
Peninsula, de Yeon Sang-ho (Coreia do Sul)
In the Dusk (Au crépuscule), de Šarūnas Bartas (Lituânia)
Des Hommes (Home Front), de Lucas Belvaux (Bélgica)
The Real Thing, de Kôji Fukada (Japão)

LES NOUVEAUX VENUS

Passion Simple, de Danielle Arbid (Líbano)
A Good Man, de Marie Castille Mention-Schaar (França)
Les Choses Qu’on Dit, Les Choses Qu’on Fait, de Emmanuel Mouret (França)
Souad, de Ayten Amin (Egito)
Limbo, de Ben Sharrock (Reino Unido)
Rouge (Red Soil), de Farid Bentoumi (França)
Sweat, de Magnus von Horn (Suécia)
Teddy, de Ludovic e Zoran Boukherma (França)
February (Février), de Kamen Kalev (Bulgária)
Ammonite, de Francis Lee (Reino Unido)
Un médecin de nuit, de Elie Wajeman (França)
Enfant Terrible, de Oskar Roehler (Alemanha)
Nadia, Butterfly, de Pascal Plante (Canadá)
Here We Are, de Nir Bergman (Israel)

UN FILM À SKETCHES

Septet: The Story Of Hong Kong, de Ann Hui, Johnnie TO, Tsui Hark, Sammo Hung, Yuen Woo-Ping e Patrick Tam (Hong Kong)

LES PREMIERS FILMS

Falling, de Viggo Mortensen (EUA)
Pleasure, de Ninja Thyberg (Suécia)
Slalom, de Charlène Favier (França)
Casa de Antiguidades (Memory House), de João Paulo Miranda Maria (Brasil)
Broken Keys (Fausse note), de Jimmy Keyrouz (Líbano)
Ibrahim, de Samuel Gueismi (França)
Beginning (Au commencement), de Déa Kulumbegashvili (Geórgia)
Gagarine, de Fanny Liatard e Jérémy Trouilh (França)
16 Printemps, de Suzanne Lindon (França)
Vaurien, de Peter Dourountzis (França)
Garçon chiffon, de Nicolas Maury (França)
Si Le Vent Tombe (Should the Wind Fall), de Nora Martirosyan (Armênia)
John and the Hole, de Pascual Sisto (EUA)
Striding Into the Wind (Courir au gré du vent), de Wei Shujun (China)
The Death of Cinema and My Father Too (La Mort du cinéma et de mon père aussi), de Dani Rosenberg (Israel)

DOCUMENTÁRIOS

En route pour le milliard (The Billion Road), de Dieudo Hamadi (República Democrática do Congo)
The Truffle Hunters, de Gregory Kershaw e Michael Dweck (EUA)
9 Jours a Raqqa, de Xavier de Lauzanne (França)

COMÉDIAS

Antoinette dans les Cévènnes, de Caroline Vignal (França)
Les deux Alfred, de Bruno Podalydès (França)
Un Triomphe (The big hit), de Emmanuel Courcol (França)
L’Origine du Monde, de Laurent Lafitte (França)
Le Discours, de Laurent Tirard (França)

ANIMAÇÕES

Aya to majo (Earwig and the Witch), de Gorô Miyazaki (Japão)
Flee, de Jonas Poher Rasmussen (Dinamarca)
Josep, de Aurel (França)
Soul, de Pete Docter (EUA)

Foto: Divulgação/Pandora Filmes.

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