Festival de Cannes 2021 anuncia filmes selecionados; longa de Karim Aïnouz será exibido fora de competição

por: Cinevitor
Cena de O Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz.

O Festival de Cannes 2021, que acontecerá entre os dias 6 e 17 de julho, anunciou nesta quinta-feira, 03/06, os filmes selecionados para a 74ª edição, que neste ano terá o cineasta americano Spike Lee na presidência do júri e o drama musical Annette, dirigido por Leos Carax, exibido na noite de abertura.

Depois de um ano conturbado por conta da pandemia de Covid-19 e uma edição especial sem a disputa pela Palma de Ouro, o festival celebra a volta presencial do evento no Palais des Festivals com a Competição Oficial. O anúncio foi realizado por Pierre Lescure, presidente do festival, e Thierry Frémaux, diretor geral do evento.

Entre os selecionados, destaca-se o brasileiro O Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz, na mostra Sessões Especiais. O longa, produzido pela VideoFilmes, será exibido fora de competição e é assumidamente biográfico. A trama é um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim à Argélia, país em que seu pai nasceu. Entre registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8, o filme opera uma costura fina entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argelia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema. Passado, presente e futuro se entrelaçam em uma singular travessia.

“É muito importante para um filme tão íntimo e pessoal estrear nessa gigante vitrine internacional que celebra a diversidade e excelência e de tanto prestígio que é Cannes. É um festival que tem acompanhado de perto meu trabalho, que acolhe e joga uma luz nos filmes que tenho feito, permitindo que eles sejam descobertos mundo afora. É um privilégio ser convidado e poder contar com essa visibilidade”, comentou Karim, cujo processo de criação se deu durante a pandemia, quando se debruçou sobre o material filmado em janeiro de 2019, época em que realizou pela primeira vez a travessia de barco pelo Mar Mediterrâneo para a Argélia e seguiu até as Montanhas Altas no norte do país.

O longa é todo narrado por Karim, que lê uma carta para a sua mãe, já falecida, transformada em uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, ele reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam o seu percurso: “Com O Marinheiro das Montanhas eu quis correr o risco de que a maturidade e a experiência me permitem. Antes de tudo, um risco artístico ao me distanciar do que sei, abrindo o projeto ao inesperado. O risco também de me ver enfrentando minhas origens, minha identidade”, finalizou Karim.

Com roteiro de Karim e Murilo Hauser, a fotografia é assinada por Juan Sarmiento; a produção é de Walter Salles, João Moreira Salles e Maria Carlota Bruno em coprodução com a Globo Filmes e Globo News; a distribuição é da Gullane.

Vale lembrar que, em 2019, o cineasta passou por Cannes com A Vida Invisível, que foi eleito o melhor filme da mostra Un Certain Regard, que coloca em evidência filmes mais atípicos aos da Competição Oficial. A trajetória do diretor é marcada pelo evento, também responsável por sua estreia com Madame Satã e pela aplaudida sessão de O Abismo Prateado na Quinzena dos Realizadores.

Já na disputa pela Palma de Ouro, nomes como Wes Anderson, Asghar Farhadi, Nadav Lapid, Paul Verhoeven, Bruno Dumont, Apichatpong Weerasethakul, Jacques Audiard, Sean Baker, François Ozon, entre outros, estão confirmados na Competição Oficial; assim como Mia Hansen-Løve com o drama Bergman Island, que tem como um dos produtores o brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features.

Na mostra Un Certain Regard, destaque para o mexicano Noche de Fuego, de Tatiana Huezo, uma coprodução com o Brasil pela Desvia, uma produtora brasileira independente fundada em 2010 pelo diretor Gabriel Mascaro e pela produtora Rachel Ellis; a distribuição no país será pela Vitrine Filmes.

Adaptação livre do romance homônimo da americana Jennifer Clement, o longa é ambientado em uma cidade solitária situada nas montanhas mexicanas, onde três amigas ocupam as casas daqueles que fugiram e se vestem de mulheres quando ninguém está olhando. Enquanto no próprio universo impenetrável delas magia e alegria abundam, suas mães treinam as três garotas para se protegerem dos grupos sequestradores que atuam na região, até que um evento altera a rotina do povoado.

Além disso, nesta 74ª edição, a atriz e produtora norte-americana Jodie Foster será homenageada com a Palma de Ouro honorária.

Confira a lista completa com os filmes selecionados para o Festival de Cannes 2021:

COMPETIÇÃO OFICIAL

A Crônica Francesa (The French Dispatch), de Wes Anderson (EUA)
A Hero, de Asghar Farhadi (Irã)
Ahed’s Knee, de Nadav Lapid (França/Israel)
Annette, de Leos Carax (França/México/EUA/Suíça/Bélgica/Japão/Alemanha)
Benedetta, de Paul Verhoeven (França/Holanda)
Bergman Island, de Mia Hansen-Løve (França/Suécia/Alemanha)
Casablanca Beats, de Nabil Ayouch (Marrocos)
Drive My Car (Doraibu mai kâ), de Ryûsuke Hamaguchi (Japão)
Flag Day, de Sean Penn (EUA)
France, de Bruno Dumont (França/Alemanha/Itália/Bélgica)
Hytti nro 6, de Juho Kuosmanen (Finlândia/Estônia/Alemanha/Rússia)
La fracture, de Catherine Corsini (França)
Les Intranquilles, de Joachim Lafosse (Bélgica)
Les Olympiades (Paris, 13th District), de Jacques Audiard (França)
Lingui, de Mahamat-Saleh Haroun (Chade)
Memoria, de Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)
Nitram, de Justin Kurzel (Austrália)
Petrov’s Flu, de Kirill Serebrennikov (Rússia/Suíça/França/Alemanha)
Red Rocket, de Sean Baker (EUA)
The Story of My Wife, de Ildikó Enyedi (Alemanha/Hungria/Itália)
The Worst Person in the World (Verdens verste menneske), de Joachim Trier (Noruega)
Titane, de Julia Ducournau (França/Bélgica)
Tout s’est bien passé, de François Ozon (França)
Tre Piani, de Nanni Moretti (Itália/França)

UN CERTAIN REGARD

After Yang, de Kogonada (EUA)
Blue Bayou, de Justin Chon (EUA)
Bonne Mère, de Hafsia Herzi (França)
Commitment Hasan, de Hasan Semih Kaplanoğlu (Turquia)
Freda, de Gessica Généus (Haiti)
Gaey Wa’r, de NA Jiazuo (China)
Great Freedom, de Sebastian Meise (Áustria)
House Arrest (Delo), de Aleksey German Jr. (Rússia)
La Civil, de Teodora Ana Mihai (Bélgica/Romênia/México)
Lamb, de Valdimar Jóhannsson (Islândia/Suécia/Polônia)
Let There Be Morning, de Eran Kolirin (Israel)
Moneyboys, de C.B. Yi (Áustria/França/Bélgica)
Noche de Fuego, de Tatiana Huezo (México/Brasil)
Rehana Maryam Noor, de Abdullah Mohammad Saad (Bangladesh)
The Innocents, de Eskil Vogt (Noruega/EUA/Dinamarca/Suécia/Finlândia)
Un Monde, de Laura Wandel (Bélgica)
Unclenching The Fists, de Kira Kovalenko (Rússia)
Women Do Cry, de Vesela Kazakova e Mina Mileva (Bulgária)

FORA DE COMPETIÇÃO

Aline, The Voice of Love, de Valérie Lemercier (França)
BAC Nord, de Cédric Jimenez (França)
De son vivant, de Emmanuelle Bercot (França)
Emergency Declaration, de Han Jae Rim (Coreia do Sul)
Stillwater, de Tom McCarthy (EUA)
The Velvet Underground, de Todd Haynes (EUA)

CANNES PREMIERE

Cette musique ne joue pour personne (Love Song for Tough Guys), de Samuel Benchetrit (França)
Cow, de Andrea Arnold (Reino Unido)
Evolution, de Kornél Mundruczó (Hungria)
In Front Of Your Face, de Hong Sang-soo (Coreia do Sul)
Jane Par Charlotte, de Charlotte Gainsbourg (França)
JFK Revisited: Through The Looking Glass, de Oliver Stone (EUA)
Mothering Sunday, de Eva Husson (França/Reino Unido)
Serre-moi fort (Hold Me Tight), de Mathieu Amalric (França/Alemanha)
Tromperie (Deception), de Arnaud Desplechin (França)
Val, de Ting Poo e Leo Scott (EUA)

SESSÕES ESPECIAIS

Babi Yar. Context, de Sergei Loznitsa (Ucrânia)
Black Notebooks, de Shlomi Elkabetz (Israel)
H6, de Yé Yé (França)
O Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz (Brasil)
The Year Of The Everlasting Storm, de Jafar Panahi, Anthony Chen, Malik Vitthal, Laura Poitras, Dominga Sotomayor, David Lowery e Apichatpong Weerasethakul (Irã/Singapura/EUA/Chile/Tailândia)

SESSÃO DA MEIA-NOITE

Bloody Oranges, de Jean-Christophe Meurisse (França)

Foto: Divulgação/VideoFilmes.

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