Depois de divulgar as 39 produções que compõem as mostras competitivas de longas-metragens brasileiros e documentais e os títulos gaúchos, a 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado anunciou os 12 filmes que concorrerão aos kikitos na categoria de curtas-metragens brasileiros e os nomes que fecham o hall de homenagens desta edição: Lucy Barreto e Ingrid Guimarães.
As novidades foram divulgadas em um evento realizado no Hotel Prodigy Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O encontro, apresentado pela jornalista Renata Boldrini, reuniu o vice-prefeito de Gramado e secretário de Turismo, Luia Barbacovi, a presidente da Gramadotur, Rosa Helena Volk, os curadores Caio Blat e Marcos Santuario, realizadores, produtores, atores e jornalistas.
Para Caio Blat, estreante na curadoria, Gramado reforça seu papel como o mais importante festival de cinema do país: “Para mim, o que faz um festival grande é uma seleção forte, de qualidade, com diversidade e que mostra a potência do cinema brasileiro. Com a seleção desse ano, posso afirmar que Gramado é o maior festival de cinema do Brasil”. A seleção dos curtas-metragens brasileiros foi realizada por Carolina Canguçu, Giordano Gio e Giuliana Maria. Juntos, a comissão avaliou 635 produções. Os selecionados vêm de quase todas as regiões do país, incluindo filmes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Roraima, Rondônia, Bahia, Maranhão, Rio Grande Do Sul, São Paulo e Espírito Santo.
Durante o evento, também foi exibido o trailer inédito da série Cangaço Novo, original Amazon que terá estreia mundial em Gramado. A produção terá exibição em sessão especial, fora de competição, no dia 14 de agosto, segunda-feira, no Palácio dos Festivais e, a partir do dia 18, estará disponível no Prime Video em mais de 240 países e territórios: “Estou muito feliz em estrearmos Cangaço Novo em Gramado, um festival que faz parte da minha vida e da minha carreira. Não vemos a hora de dividir com o público tudo o que a gente viveu nesta jornada intensa, emocionante e muito especial”, disse Allan Souza Lima, um dos protagonistas.
Alice Carvalho, estreante em Gramado, reforça a emoção em ver o trabalho finalizado e pronto para o público: “Toda essa força que a série traz é um reflexo das relações que foram construídas dentro e fora do set entre todos os profissionais; desde os motoristas, passando pelo elenco e desembocando na equipe de pós-produção. Todos fomos tocados e transformados por essa imersão de oito meses no cariri paraibano e no seridó potyguar. O resultado é emocionante porque a gente se emocionava, de fato, todos os dias das 110 diárias que filmamos”.
Lucy Barreto: uma vida dedicada ao cinema brasileiro
Em sua 51ª edição, Gramado faz um feito inédito: dedica suas homenagens a cinco mulheres de inestimável importância ao audiovisual brasileiro. A produtora Lucy Barreto receberá o Troféu Eduardo Abelin e, Ingrid Guimarães, o Troféu Cidade de Gramado. Elas se unem às atrizes Laura Cardoso e Léa Garcia, que recebem o Troféu Oscarito, mais antiga homenagem entregue pelo festival, e à Alice Braga, que receberá o Kikito de Cristal.
Para Rosa Helena Volk, o feito reflete a notoriedade da visão feminina no audiovisual: “Pela primeira vez na nossa história estamos entregando todas as nossas honrarias para mulheres. Assim, refletimos sobre as diversas gerações de mulheres que construíram e constroem o cinema no Brasil. Relembramos a história com Léa Garcia e Laura Cardoso, pilares fundamentais do audiovisual, e vamos aos novos nomes que levam ao exterior a qualidade do nosso cinema com Alice Braga. Agora, saudamos também Lucy, uma produtora que está marcada na cinematografia do nosso país, e Ingrid, que levou milhões de pessoas ao cinema para acompanharem suas obras”, afirma.
Mineira de Uberlândia, Lucy Barreto é sinônimo de cinema brasileiro. Com 90 anos completos em 2023, desde o final da década de 1960 se dedica à carreira cinematográfica, que iniciou na parceria com o diretor Cacá Diegues, como assistente de cenografia em Os Herdeiros, de 1968. Nesse mais de meio século, ficou reconhecida internacionalmente pela intensa atuação à frente do audiovisual brasileiro.
Não demorou muito para que encontrasse sua vocação, que lhe renderia participação nos anais da cinematografia brasileira: a produção. Já no primeiro ano da década de 1970, estreou como produtora em O Homem das Estrelas, de Jean-Daniel Pollet. Entre os anos 1970, 1980, 1990 e 2000, produziu importantes obras do cinema brasileiro, como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), vencedor de três kikitos, Bye Bye Brasil (1980), O Quatrilho (1995), indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, e Flores Raras (2013).
Além de produzir ou coproduzir filmes ao lado de cineastas como Nelson Pereira dos Santos, Miguel Borges, Anselmo Duarte, Marco Altberg e Vicente Amorim, Lucy Barreto é parte fundamental na construção do legado dos homens de sua vida, o marido, Luiz Carlos Barreto, e os filhos, Bruno e Fábio Barreto. Ao lado de LC, é responsável por uma lista de dezenas de títulos produzidos. Em 1982, produziu a estreia do filho Fábio na direção com o longa Índia, a Filha do Sol, fato que se repetiu também nos seus outros títulos: O Rei do Rio (1985), Luzia Homem (1987), Bela Donna (1998) e A Paixão de Jacobina (2002). Para Bruno, assinou a produção de Além da Paixão (1985), Romance da Empregada (1987), Bossa Nova (2000) e o também indicado ao Oscar, O Que é Isso, Companheiro? (1997).
Lucy ressalta a ligação de Gramado com sua trajetória profissional: “É com minha alegria e gratidão que aceito essa homenagem. Gramado faz parte da minha vida e da história da empresa que construí ao lado de Luiz Carlos e que completa seis décadas este ano”, disse.
Ingrid Guimarães: sucesso de bilheteria
Natural de Goiânia, Ingrid Guimarães começou sua trajetória no teatro, ainda nos anos de 1980. Nesses mais de 35 anos de carreira, coleciona sucessos no teatro, televisão e, principalmente, no cinema. Ingrid fez parte de uma revolução no cinema nacional, promovida a partir dos anos 2000. Suas obras, como a trilogia De Pernas Pro Ar (2010-2019) e Fala Sério, Mãe! (2017), renderam-lhe a alcunha de atriz brasileira mais vista nos cinemas do século. Antes dela, apenas duas outras mulheres chegaram tão longe: Xuxa e Sonia Braga. A atriz se prepara para o lançamento do longa Minha Irmã e Eu, estrelado ao lado de Tatá Werneck, previsto para estrear em janeiro de 2024.
Em seus mais de 20 trabalhos nas telonas, Ingrid privilegiou obras humorísticas, gênero que a consagrou na televisão com o seriado Sob Nova Direção, que foi ao ar entre 2004 e 2007 pela TV Globo. Defensora do gênero, a atriz sempre se posicionou sobre o menosprezo do seguimento: “A comédia é tão desvalorizada, vista como um gênero menor, mais fácil. Por que a crítica é tão desrespeitosa com ela?”, questiona.
Em 1997, recebeu o Prêmio Cantão de Teatro Jovem na categoria de melhor atriz pela peça Confissões de Adolescente; também se destacou com a peça humorística Cócegas, ao lado da amiga Heloísa Périssé, que foi um sucesso de crítica e público. Na TV também foram muitas personagens marcantes em trabalhos como: Caras & Bocas, Macho Man, Novo Mundo, Bom Sucesso, Nos Tempos do Imperador, entre outros.
Mesmo sob o prisma da desconsideração, Ingrid possui no currículo indicações às mais importantes premiações do país, como Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e Prêmio ACIE de Cinema. Sobre a valorização do cinema nacional, Ingrid é categórica: “É preciso manter o nosso público fiel ao cinema brasileiro, senão daqui a pouco vamos estar consumindo apenas séries gringas e filmes de super-heróis”. Entre seus trabalhos nas telonas, vale destacar: Minha Mãe é uma Peça, Loucas pra Casar, Um Homem Só (exibido em Gramado), entre outros.
O Troféu Eduardo Abelin é uma homenagem concedida a diretores, cineastas e entidades de cinema pelo trabalho feito em benefício do cinema brasileiro; a honraria leva o nome de um dos pioneiros do cinema gaúcho. Já o Troféu Cidade de Gramado é dedicado a nomes ligados a Gramado e ao festival, contribuindo para o crescimento e divulgação da cidade e do evento.
Conheça os curtas brasileiros selecionados para o 51º Festival de Cinema de Gramado:
A Última Vez que Ouvi Deus Chorar, de Marco Antonio Pereira (MG)
Camaco, de Breno Alvarenga (MG)
Cama Vazia, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet (SP)
Casa de Bonecas, de George Pedrosa (MA)
Deixa, de Mariana Jaspe (RJ)
Ela Mora Logo Ali, de Fabiano Barros e Rafael Rogante (RO)
Jussara, de Camila Cordeiro Ribeiro (BA)
Mãri hi: A Árvore do Sonho, de Morzaniel Ɨramari (RR)
Pássaro Memória, de Leonardo Martinelli (RJ)
Remendo, de Roger Ghil (ES)
Sabão Líquido, de Fernanda Reis e Gabriel Faccini (RS)
Yãmî Yah-Pá, de Vladimir Seixas (RJ)
Fotos: Divulgação/Rogerio Resende/Emmanuele Jacobson-Roques.