Considerado o segundo festival de cinema mais prestigiado da Alemanha depois da Berlinale, o Filmfest München, Festival de Cinema de Munique, realizará sua 39ª edição entre os dias 23 de junho e 2 de julho.
Neste ano, o cinema brasileiro marca presença com três títulos na programação, entre eles, Paloma, do premiado diretor Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus, Joaquim, Estou me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar, entre outros; o longa, produzido pela pernambucana Carnaval Filmes, em coprodução com a portuguesa Ukbar Filmes, marca a estreia de Kika Sena no cinema no papel da protagonista e será exibido na mostra Spotlight.
Kika, arte-educadora, diretora teatral, atriz, poeta e performer, interpreta Paloma, uma mulher trans que trabalha como agricultora no sertão de Pernambuco. Seu maior sonho é se casar na igreja, com seu namorado Zé, interpretado por Ridson Reis. Eles já vivem juntos, e criam uma filha de 7 anos chamada Jenifer, papel de Anita de Souza Macedo. O padre, porém, recusa o pedido, mas nem por isso Paloma desistirá de realizar seu sonho.
Marcelo Gomes, que assina o roteiro ao lado de Armando Praça e Gustavo Campos, conta que a ideia para o filme veio de uma notícia que leu no jornal: “Era sobre uma mulher transgênero que morava em uma pequena cidade do interior do Pernambuco e cujo maior sonho era se casar em uma igreja católica, toda vestida de branco. A imagem ficou na minha memória por anos porque incorporava várias contradições em um único ato. Eu pensei que essa história singular deveria se tornar um filme. Embora o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo já seja um direito consolidado no Brasil, Paloma quer algo mais. Ela quer a imagem completa. Ela anseia por uma experiência mística que afirme seu amor, transformando-o em um vínculo espiritual e não apenas legal. Somente uma liturgia religiosa pode cumpri-la”, disse o diretor.
A protagonista Kika Sena também falou sobre o filme: “Quando paro para pensar em toda a minha história de vida, concluo que ocupar um espaço em um filme, além de uma realização pessoal, era também um grande ato político, porque tinha e tem muito a ver com a ocupação de corpas pretas e periféricas e transvestigêneres em produções cinematográficas de reverberação nacional e internacional. Porque não estamos acostumades a ver a natureza de pessoas trans e travestis, nesse contexto, para além dos estereótipos. Acredito que o filme trará muitas discussões a respeito do que consideramos como família, além de ser um espaço de ocupação dos nossos corpos reais no cinema”.
Filmado na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, e na cidade de Crato, no Sertão do Cariri, no Ceará, Paloma conta também com Zé Maria, Suzy Lopes, Ana Marinho, Samya de Lavor, Wescla Vasconcellos, Patrícia Dawson, Nash Laila, Márcio Flecher e Buda Lira no elenco. Com produção de João Vieira Jr. e Nara Aragão, direção de fotografia de Pierre de Kerchove, montagem de Rita M. Pestana, direção de arte de Marcos Pedroso e casting por Maria Clara Escobar, o longa será lançado nos cinemas pela Pandora Filmes no segundo semestre desse ano.
Medusa, de Anita Rocha da Silveira: cinema brasileiro na programação.
Outro destaque brasileiro na seleção é o premiado Medusa, de Anita Rocha da Silveira, que será exibido na mostra CineVision Competition. Sobre o filme: há muitos e muitos anos, a bela Medusa foi severamente punida por Atena, a deusa virgem, por não ser mais pura. Hoje, a jovem Mariana pertence a um mundo onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de uma mulher perfeita. Para não caírem em tentação, ela e suas amigas se esforçam ao máximo para controlar tudo e todas à sua volta. Porém, há de chegar o dia em que a vontade de gritar será mais forte.
Produzido por Mayra Auad e Vânia Catani, da Bananeira Filmes, a equipe conta também com fotografia de João Atala e trilha sonora de Gustavo Montenegro. O elenco apresenta Lara Tremouroux, Mariana Oliveira, Joana Medeiros, Felipe Frazão, Thiago Fragoso, Bruna G, Carol Romano, João Vithor Oliveira, Inez Viana e Bruna Linzmeyer.
Já na mostra International Independents, o Brasil aparece com Marte Um, de Gabriel Martins, que foi exibido no Festival de Sundance deste ano. O filme retrata uma família negra de classe média baixa, que vive às margens de uma grande cidade brasileira após a decepcionante posse de um presidente de extrema direita. O elenco conta com Rejane Faria, Carlos Francisco, Camilla Damião e Cícero Lucas.
Marte Um é sobre seguir os sonhos no Brasil contemporâneo. O garoto Deivid, o caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico, e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar o planeta vermelho. Morando na periferia de um grande centro urbano, não há muitas chances para isso, mas mesmo assim, ele não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.
O filme começa na noite 28 de outubro de 2018, quando Jair Bolsonaro acaba de ser eleito. Sentado no quintal de casa, enquanto pensa no seu grande sonho, Deivid ouve da rua gritos de “mito” e uma grande comemoração. Será o começo de um período obscuro tanto para sua família quanto para o país.
Fotos: Divulgação.