O cineasta português Miguel Gomes: premiação virtual.
Por conta da pandemia de Covid-19, a 73ª edição do Festival de Cinema de Locarno, que, primeiramente chegou a ser cancelada, aconteceu de maneira totalmente diferente dos anos anteriores. Mesmo sem as tradicionais exibições ao ar livre na icônica Piazza Grande, com um público de oito mil pessoas, o evento se dividiu entre o formato on-line e algumas sessões presenciais em três cinemas da cidade.
Neste ano, para continuar apoiando o cinema independente, foi criada uma iniciativa chamada Locarno 2020 – For the Future of Films, com a seção The Films After Tomorrow, que oferecia prêmios monetários aos realizadores cujos filmes e projetos foram cancelados ou adiados pela pandemia e causaram danos econômicos. Foram avaliados 545 projetos, de 101 países diferentes; e, a partir disso, uma equipe escolheu vinte nomes que concorreram ao prêmio Leopardo 2020.
O júri dos projetos internacionais foi formado por: Kelly Reichardt, cineasta americana; Nadav Lapid, cineasta israelense; e Lemohang Jeremiah Mosese, de Lesoto, roteirista, cineasta e diretor de fotografia. O júri dos projetos suíços contou com: Alina Marazzi, cineasta italiana; Matías Piñeiro, diretor argentino; e Mohsen Makhmalbaf, cineasta iraniano.
Entre os projetos internacionais, Chocobar, da cineasta argentina Lucrecia Martel, levou o Leopardo 2020 no valor de 70 mil francos suíços. O documentário político narra a história de Javier Chocobar, ativista dos direitos humanos que foi assassinado em 2009. O projeto suíço vencedor do Leopardo 2020 foi Zahorí, de Marí Alessandrini, uma coprodução entre Argentina, Chile e França; o filme, que se passa na Patagônia, conta a história de uma amizade entre uma menina e um senhor mapuche.
A cineasta argentina Lucrecia Martel: vencedora do Leopardo 2020.
O Prêmio Campari, da seleção internacional, no valor de 50 mil francos suíços, foi entregue para o projeto Selvajaria, de Miguel Gomes, uma coprodução entre Portugal, França, Brasil, China e Grécia. O longa é uma adaptação livre de Os Sertões, do escritor e jornalista brasileiro Euclides da Cunha. Com o olhar imaginativo do cineasta português, o longa retrata a guerra de 1897 entre o Exército Brasileiro e os nativos de Canudos. Este épico filme sobre o fim da simbiose entre o homem e a natureza tem enfrentado grandes obstáculos devido à complexa situação política do Brasil, com uma prolongada fase de pré-produção que envolve a reconstrução histórica da aldeia e a estreita colaboração com os descendentes de Canudos. Clique aqui e saiba mais.
Já o júri juvenil, Cinema&Gioventù, escolheu o brasileiro Cidade;Campo, de Juliana Rojas, como o melhor projeto internacional. O longa levou o prêmio no valor de 5 mil francos suíços. Vencedora do Prêmio Especial do Júri em Locarno, em 2017, com As Boas Maneiras, com quem dividiu a direção com Marco Dutra, Juliana estava pronta para filmar Cidade;Campo no dia 29 de maio, quando a pandemia aumentou a turbulência política no Brasil e a obrigou a adiar. O novo projeto estabeleceu um paralelo entre dois modos de vida sociais e históricos brasileiros por meio de personagens femininas fortes, criando uma atmosfera no limite da fantasia e da realidade. Clique aqui e saiba mais.
“Infelizmente, este ano não teve o abraço coletivo na Piazza Grande e o glamour das estrelas de cinema. Ao mesmo tempo, porém, este foi o ano em que o festival se abriu para um público verdadeiramente global com sua primeira programação on-line. Tem sido um ano de solidariedade”, diz o comunicado oficial.
A organização também resolveu realizar a mostra Pardi di domani de curtas-metragens em formato on-line. Neste ano, 2.200 filmes foram inscritos e 43 selecionados (12 nacionais e 30 internacionais). O brasileiro Memby, de Rafael Castanheira Parrode, estava na disputa, mas infelizmente não saiu vitorioso.
A 73ª edição do Festival de Cinema de Locarno trouxe outra novidade: cineastas selecionados para a seção The Films After Tomorrow foram responsáveis por uma nova mostra, chamada A Journey in the Festival’s History, que destacava a história do festival. Os realizadores escolheram vinte títulos emblemáticos para representar a trajetória do evento. O cineasta argentino Lisandro Alonso escolheu o longa brasileiro Terra em Transe, de Glauber Rocha, premiado em Locarno em 1967.
Conheça os vencedores do Festival de Locarno 2020:
THE FILMS AFTER TOMORROW | PROJETOS INTERNACIONAIS
LEOPARDO 2020:
Chocobar, de Lucrecia Martel (Argentina/EUA/Holanda); produzido por Rei Cine: Benjamin Domenech/Louverture Films/Lemming Film
PRÊMIO CAMPARI | PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI:
Selvajaria (Savagery), de Miguel Gomes (Portugal/França/Brasil/China/Grécia); produzido por O SOM E A FÚRIA: Luís Urbano/Shellac Sud/RT Features/Rediance Films/Faliro House
PRÊMIO SWATCH (projeto mais inovador):
De Humani Corporis Fabrica (The Fabric of the Human Body), de Verena Paravel e Lucien Castaing-Taylor (França/EUA); produzido por Norte Productions: Valentina Novati/Sensory Ethnography Lab: Verena Paravel/Lucien Castaing-Taylor
THE FILMS AFTER TOMORROW | PROJETOS SUÍÇOS
LEOPARDO 2020:
Zahorí, de Marí Alessandrini (Suíça/Argentina/Chile/França)
PRÊMIO SRG SSR (campanha promocional de televisão no valor de 100 mil francos suíços para um projeto suíço, garantindo publicidade em redes nacionais para acompanhar o lançamento nos cinemas do país):
Lux, de Raphaël Dubach e Mateo Ybarra (Suíça)
PARDI DI DOMANI | CURTA-METRAGEM INTERNACIONAL
PARDINO DE OURO:
I ran from it and was still in it, de Darol Olu Kae (EUA)
PARDINO DE PRATA:
History of Civilization, de Zhannat Alshanova (Cazaquistão)
MENÇÃO ESPECIAL:
Life on the Horn, de Mo Harawe (Somália/Áustria/Alemanha)
PRÊMIO MEDIEN PATENT VERWALTUNG AG:
Thiên đường gọi tên (A Trip to Heaven), de Linh Duong (Vietnã/Singapura)
PARDI DI DOMANI | CURTA-METRAGEM SUÍÇO
PARDINO DE OURO:
Menschen am Samstag (People on Saturday), de Jonas Ulrich
*candidato do Festival de Locarno para o European Film Awards
PARDINO DE PRATA:
Trou Noir (Black Hole), de Tristan Aymon
BEST SWISS NEWCOMER PRIZE:
Lachsmänner (Salmon Men), de Veronica L. Montaño, Manuela Leuenberger e Joel Hofmann
JÚRI CINEMA&GIOVENTÙ | THE FILMS AFTER TOMORROW
Melhor projeto internacional: Cidade;Campo, de Juliana Rojas (Brasil); produzido por Dezenove Som e Imagens: Sara Silveira
Melhor projeto suíço: Azor, de Andreas Fontana (Suíça/França/Argentina)
Prêmio Environment is quality of life: Eureka, de Lisandro Alonso (França/Alemanha/Portugal/México/Argentina); produzido por Luxbox: Fiorella Moretti e Hédi Zardi, Komplizen/Rosa Filmes/Mr. Woo/4L
JÚRI CINEMA&GIOVENTÙ | PARDI DI DOMANI
Melhor curta-metragem internacional: Aninsri Daeng (Red Aninsri; or, Tiptoeing on the Still Trembling Berlin Wall), de Ratchapoom Boonbunchachoke (Tailândia)
Melhor curta-metragem suíço: Trou Noir (Black Hole), de Tristan Aymon
JÚRI CINEMA&GIOVENTÙ | OPEN DOORS SCREENINGS | CURTA-METRAGEM
Melhor curta-metragem: Kado (A Gift), de Aditya Ahmad (Indonésia)
Menção Especial: Liar Land, de Ananth Subramaniam (Malásia)
JÚRI CINEMA&GIOVENTÙ | OPEN DOORS SCREENINGS | LONGA-METRAGEM
Prêmio Environment is quality of life: Sell Out!, de Yeo Joon Han (Malásia)
Menção Especial: Engkwentro (Clash), de Pepe Diokno (Filipinas)
Foto: Divulgação.