Festival de San Sebastián 2023: filmes brasileiros são selecionados

por: Cinevitor
Kauan Alvarenga no longa brasileiro Pedágio, de Carolina Markowicz

Considerado o mais importante festival de cinema da Espanha e um dos mais antigos da Europa, o Festival Internacional de Cinema de San Sebastián é também um dos mais prestigiados do mundo. Seu principal prêmio, a Concha de Ouro, é entregue ao melhor filme em competição da Seleção Oficial.

Nesta 71ª edição, que acontecerá entre os dias 22 e 30 de setembro, o cinema brasileiro ganha destaque na mostra Horizontes Latinos; a seção apresenta uma seleção de longas-metragens ainda não lançados na Espanha, produzidos na América Latina, dirigidos por cineastas de origem latina ou que abordem temas sobre comunidades latinas no resto do mundo.

O Brasil aparece com dois títulos, entre eles, Pedágio, de Carolina Markowicz, que exibiu no ano passado, nesta mesma mostra, Carvão. Neste segundo longa-metragem de sua carreira, a cineasta apresenta o filme que participou de relevantes laboratórios de apoio ao desenvolvimento audiovisual, como o Tribeca All Access, Torino Film Lab e Berlinale Coproduction Market.

Estrelado por Maeve Jinkings e Kauan Alvarenga, a trama mostra Suellen, uma cobradora de pedágio que percebe que pode usar seu trabalho para fazer uma renda extra ilegalmente. Mas tudo por uma causa nobre: financiar a ida de seu filho à caríssima cura gay ministrada por um famoso pastor estrangeiro. De acordo com a diretora, o longa é “um drama permeado por humor ácido”, além de ser um retrato da opressão e violência sofrida pela população LGBTQIA+ diante das incoerências e atrocidades promovidas por alguns setores da sociedade, de forma mais explícita nos últimos anos.

Pedágio, que conta também com Thomás Aquino, Aline Marta Maia e Isac Graça no elenco, tem produção da Biônica Filmes e O Som e a Fúria, com coprodução da Globo Filmes e Paramount Pictures; a distribuição é da Paris Filmes. A produção conta a história de uma atendente de pedágio que, inconformada com a orientação sexual do filho, comete delitos na tentativa de financiar uma cura para a sua “doença”.

“Em pleno 2023 com todos adventos e tecnologias e avanços, chega a ser chocante a preocupação com quem o outro se relaciona sexualmente. O fosso conservador que vivemos nos últimos tempos serviu para deixar bem à vontade cada indivíduo que se achasse no direito de proferir críticas e até agressões à população LGBTQIA+. Além da violência, há práticas absurdas e patéticas, como as retratadas pelo filme, que parecem ser ficção, mas estão muito próximas à realidade surreal do brasileiro LGBT, gerando sequelas físicas e emocionais irreparáveis”, disse a diretora.

Carlos Francisco em Estranho Caminho, de Guto Parente

Ainda na mostra Horizontes Latinos, outro destaque nacional: o longa cearense Estranho Caminho, dirigido por Guto Parente. O filme é um drama fantástico que acompanha a trajetória de David, um jovem cineasta que, ao visitar sua cidade natal, Fortaleza, é surpreendido pelo rápido avanço da pandemia de Covid-19 e se vê obrigado a procurar o pai, Geraldo, um sujeito peculiar com quem não fala ou tem notícias há mais de dez anos. Após o reencontro dos dois, coisas estranhas começam a acontecer.

O elenco conta com Lucas Limeira, Carlos Francisco, Tarzia Firmino, Rita Cabaço, Renan Capivara, Ana Marlene, Fab Nardy, Noá Bonoba, Jennifer Joingley, Déo Cardoso, Larissa Goés, Mumutante, Solon Ribeiro, David Santos, Pedro Breculê e Gabriel de Sousa. Realizado inteiramente na cidade Fortaleza, financiado pela Secretaria de Cultura do Ceará por meio de recursos da Lei Aldir Blanc, o longa, que será distribuído pela Embaúba Filmes, foi rodado entre maio e junho de 2021 com uma equipe formada majoritariamente por profissionais cearenses, como: Guto Parente no roteiro e direção; Ticiana Augusto Lima na produção; Linga Acácio na direção de fotografia; Taís Augusto na direção de arte; Lucas Coelho no som e Thais de Campos no figurino; Noá Bonoba na preparação de elenco; e Uirá dos Reis e Fafa Nascimento na trilha musical.

Enquanto isso, na disputa pela Concha de Ouro, prêmio máximo do evento, que ainda anunciará novos títulos em breve, vale destacar a presença de Puan, de María Alché e Benjamín Naishtat, uma coprodução entre Argentina, Itália, Alemanha, França e Brasil (por Tatiana Leite).

Neste ano, o ator espanhol Javier Bardem, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por Onde os Fracos Não Têm Vez, e que estampa o pôster do festival, será homenageado com o Prêmio Donostia. A cerimônia de entrega da honraria acontecerá trinta anos depois da primeira visita de Bardem ao festival, que aconteceu em 1993 com a exibição de Ovos de Ouro, de Bigas Luna. Em 2019, a consagrada atriz Penélope Cruz, casada com Bardem, recebeu este mesmo prêmio.

Conheça os filmes selecionados para o 71º Festival de San Sebastián:

SELEÇÃO OFICIAL

All Dirt Roads Taste of Salt, de Raven Jackson (EUA)
Dispararon al pianista, de Fernando Trueba e Javier Mariscal (Espanha) (fora de competição)
El sueño de la sultana, de Isabel Herguera (Espanha/Alemanha)
Ex-Husbands, de Noah Pritzker (EUA)
La Mesías, de Javier Calvo e Javier Ambrossi (Espanha) (fora de competição)
La práctica, de Martín Rejtman (Argentina/Chile/Portugal)
L’île rouge, de Robin Campillo (França/Bélgica)
MMXX, de Cristi Puiu (Romênia/Moldávia/França)
O Corno, de Jaione Camborda (Espanha/Portugal/Bélgica)
Puan, de María Alché e Benjamín Naishtat (Argentina/Itália/Alemanha/França/Brasil)
Un amor, de Isabel Coixet (Espanha)
Un silence, de Joachim Lafosse (Bélgica/França/Luxemburgo)

HORIZONTES LATINOS

Alemania, de María Zanetti (Argentina/Espanha)
Blondi, de Dolores Fonzi (Argentina/Espanha/EUA)
Clara se pierde en el bosque, de Camila Fabbri (Argentina)
El castillo, de Martín Benchimol (Argentina/França/Espanha)
El eco, de Tatiana Huezo (México/Alemanha)
El viento que arrasa, de Paula Hernández (Argentina/Uruguai)
Estranho Caminho, de Guto Parente (Brasil)
Heroico, de David Zonana (México)
Los colonos, de Felipe Gálvez (Chile/Argentina/Reino Unido/Taiwan/França/Dinamarca/Suécia)
Los impactados, de Lucía Puenzo (Argentina)
Pedágio, de Carolina Markowicz (Brasil/Portugal)
Tótem, de Lila Avilés (México)

NEW DIRECTORS

Ashil (Achilles), de Farhad Delaram (Alemanha/Irã/França)
Bahadur the Brave, de Diwa Shah (Índia)
Bauryna salu, de Askhat Kuchinchirekov (Cazaquistão)
El otro hijo, de Juan Sebastián Quebrada (Colômbia/França/Argentina)
Hi, mom, de Ilia Malakhova (Rússia)
Kiri no Fuchi (Beyond the Fog), de Daichi Murase (Japão)
La estrella azul, de Javier Macipe (Espanha/Argentina)
Last Shadow at First Light, de Nicole Midori Woodford (Singapura/Japão/Eslovênia/Filipinas/Indonésia)
Les Rayons Gamma, de Henry Bernadet (Canadá)
Mother, Couch!, de Niclas Larsson (EUA/Dinamarca/Suécia)
Xiao yao you (Carefree Days), de Liang Ming (China)

XI PRÊMIO SEBASTIANE LATINO

Almamula, de Juan Sebastián Torales (Argentina/França/Itália)
Cross Dreamers, de Soledad Velasco (Argentina)
El Filo de las Tijeras, de David Marcial Valverdi (Argentina)
El Silencio de los Hombres, de Lucía Lubarsky (Argentina)
Transfariana, de Joris Lachaise (Colômbia/França)

Fotos: Divulgação.

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