Filmes de Gabriel Martins e Gregorio Graziosi encerram mostra competitiva de longas brasileiros do 50º Festival de Gramado

por: Cinevitor
Equipe do filme Marte Um no tapete vermelho.

Os dois últimos longas-metragens brasileiros exibidos em competição na 50ª edição do Festival de Cinema de Gramado se destacaram no Palácio dos Festivais: Marte Um, de Gabriel Martins, e Tinnitus, de Gregorio Graziosi.

Na quarta-feira, 17/08, além do longa mineiro, a programação contou com os curtas-metragens Fantasma Neon, de Leonardo Martinelli, e Mas Eu Não Sou Alguém?, de Daniel Eduardo e Gabriel Duarte. Além disso, A Viagem de Pedro, de Laís Bodansky e protagonizado por Cauã Reymond, foi exibido em uma sessão especial, fora de competição.

Depois de passar pelo Festival de Sundance, Marte Um, dirigido por Gabriel Martins, fez sua estreia nacional em Gramado e foi ovacionado pelo público ao final da sessão. O filme, que entra em circuito comercial na próxima quinta-feira, 25/08, traz o cotidiano de uma família periférica, nos últimos meses de 2018, pouco depois das eleições presidenciais. O garoto Deivid, interpretado por Cícero Lucas, o caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar o planeta vermelho. Morando na periferia de um grande centro urbano, não há muitas chances para isso, mas mesmo assim, ele não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.

O pai, Wellington, papel de Carlos Francisco, é porteiro em um prédio de elite, e há um bom tempo está sem beber, uma informação que compartilha com orgulho em sessões do AA. Tércia, vivida por Rejane Faria, é a matriarca que, depois um incidente envolvendo uma pegadinha de televisão, acredita que está sofrendo de uma maldição. Por fim, a filha mais velha é Eunice (Camilla Damião), que pretende se mudar para um apartamento com sua namorada (Ana Hilário), mas não tem coragem de contar aos pais.

No palco do Palácio dos Festivais, acompanhado por diversos integrantes da equipe, entre eles o produtor executivo Thiago Macêdo Correia, Gabriel fez um discurso emocionante: “É muito bonito estar com essas pessoas aqui e viver esse momento juntos. Eu sou um homem negro, periférico, como meus companheiros de produtora; meus melhores amigos também são pessoas periféricas. Fizemos esse sonho, que é a Filmes de Plástico, e é uma loucura poder contar histórias que envolvem pessoas como essas. E, de repente, eu me vejo aqui, que vai ser a primeira sessão de cinema da minha filha e ela vai ver esse filme. Isso não é pouca coisa. Faço um brinde ao futuro do cinema e que esse filme possa abrir portas para muita gente; e que o cinema negro e periférico brasileiro possa prosperar”.

Equipe do longa Tinnitus em Gramado.

Na quinta-feira, 18/08, foi a vez do longa brasileiro Tinnitus, de Gregorio Graziosi, além dos curtas Um Tempo pra Mim, de Paola Mallmann, e Socorro, de Susanna Lira; e do longa Inmersión, de Nicolas Postiglione, uma coprodução entre Chile e México. A noite foi marcada também pela entrega do Prêmio Leonardo Machado para Ítala Nandi e o Kikito de Cristal para Paulina García.

Em Tinnitus, Marina Lenk é uma experiente atleta de saltos ornamentais. Aterrorizada por uma súbita crise de tinnitus, um zumbido insuportável, ela despenca da plataforma mergulhando nas profundezas de seu próprio corpo. Afastada do esporte que ama, ela troca a perigosa e desafiadora plataforma de saltos, por uma pacata vida no aquário, onde trabalha fantasiada de sereia. É possível escapar da loucura, quando o medo se esconde dentro de seus ouvidos?

Com distribuição da Imovision, fotografia de Rui Poças e produção executiva de Zita Carvalhosa e Ivan Melo, o longa, que foi desenvolvido na Residência Cinéfondation e exibido no Karlovy Vary International Film Festival, conta com Joana de Verona, Indira Nascimento, Alli Willow, Antonio Pitanga, André Guerreiro, Thaia Perez, Mawusi Tulani, entre outros, no elenco.

No palco, o diretor fez seu discurso: “Aqui os artistas podem falar o que eles acreditam. Isso é uma prova de resistência muito forte nesse país, principalmente neste momento”. A protagonista Joana de Verona completou: “É uma grande honra estar aqui com este filme, ainda mais nesse ano especial de 50 anos do festival e também de eleições para assegurarmos a democracia”.

O ator Antonio Pitanga também discursou: “Vocês não imaginam a satisfação e a alegria de estar aqui com esse jovem diretor e com esse elenco. Mesmo tendo participado de mais de oitenta filmes, sempre é o primeiro filme e o primeiro festival. Gramado tornou-se uma tribuna importante para o cinema, cultura e questões sociais”.

E finalizou: “Esse filme conta uma história muito bonita, fantástica e reveladora. Cinema é isso, é a varredura dentro de um processo cultural, político e social. Nós não estamos dizendo que somos os donos da verdade, nós queremos mostrar. Isto é cinema. Eu faço cinema há mais de 60 anos e eu me torno criança quando chego para fazer um filme. Eu me visto de festival, eu me visto de nobreza para ser recebido por esse povo, que recebe tão bem o cinema brasileiro”.

*O CINEVITOR está em Gramado e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Cleiton Thiele e Edison Vara/Agência Pressphoto.

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