Flávio com o Troféu Oscarito. 

O termômetro marcava 6°C e mesmo assim, a noite fria de terça-feira, 12/08, não espantou os cinéfilos, que marcaram presença no Palácio dos Festivais. Após a exibição do longa El lugar del hijo, dirigido por Manolo Nieto, as atenções se voltaram para o grande homenageado da noite, o ator Flávio Migliaccio, que foi contemplado com o Troféu Oscarito, dedicado aos grandes atores e atrizes do cinema nacional.

Homenagem para o ator.

O troféu foi entregue pelo ator Nelson Xavier e pela atriz e cantora Via Negromonte, que falaram sobre Flávio: “Quando eu vi o Flávio atuando na peça Eles não usam black-tie, no Teatro de Arena, foi uma revelação, porque eu vinha de uma educação de teatro muito tradicional. O Flávio se destacava. Era uma novidade na interpretação brasileira. Ele revolucionou o teatro brasileiro e é um dos fundadores do estilo de teatro e de cinema brasileiro desde então. Um criador!”, elogiou Nelson. Via Negromonte também falou muito bem do colega: “Como toda minha geração, eu cresci vendo o Flávio na TV e encantando com todos os personagens. Pra mim, ele representa a tragicomicidade no seu ápice de talento, de doçura, de ética. Um perfeito cavalheiro, representante da nossa classe artística. Obrigada pela sua existência, Flávio. Parabéns!”.

Flávio recebe o troféu das mãos de Nelson Xavier e Via Negromonte. 

Flávio subiu ao palco e fez um discurso emocionante de agradecimento: “Quando eu tinha dez anos, estava na escola e fizeram uma pesquisa pra saber o que cada aluno queria ser quando crescer. Um queria ser médico, o outro engenheiro e eu falei que queria ser o Oscarito. A professora me deu uma bronca e mandou eu escolher outra profissão. Eu não consegui ser o Oscarito, mas eu consegui ter a mesma profissão que ele. E agora, com 80 anos, estou aqui recebendo um prêmio com o nome de Oscarito. É bonito isso. Eu não sei se é o destino ou se é premonição, só sei que é uma coisa mágica e isso basta! Obrigado ao Festival e obrigado a todos vocês”.

Antes da premiação, Flávio recebeu a imprensa para uma coletiva, onde relembrou alguns momentos marcantes de sua carreira: “[O seriado] Shazan, Xerife e Cia. foi um momento muito mágico pra gente. Trabalhar com o Paulo José era uma coisa maravilhosa. Quando os atores combinam com o texto, combinam com a direção, combinam com o cenário, tudo fica mais fácil. O ator se sente muito útil, fazendo aquilo que ele tem que fazer”.

Flávio Migliaccio durante a coletiva.

O ator também falou sobre o Teatro de Arena, em São Paulo, onde se apresentava: “Quando a gente começou a fazer o Teatro de Arena, procuramos fazer um teatro mais realista. Era uma época em que todo o país estava procurando o homem brasileiro. Não era só o Teatro de Arena, em São Paulo. Os escritores, os arquitetos, os cantores, todos queriam uma coisa brasileira. Nós fizemos nossa parte no teatro, de pegar o personagem brasileiro e colocá-lo no palco. Inventamos um jeito de interpretar. Esse jeito realista que se vê hoje em dia, nas novelas, em todo o lugar, foi a gente quem criou no Teatro de Arena, em 1959. Criamos esse estilo de representar”.

Flávio, que tem um currículo extenso com produções realizadas na TV, no teatro e no cinema, falou sobre a nova geração de atores e do reconhecimento necessário dos atores mais velhos: “Temos que valorizar os grandes atores do passado e não condeno atores de televisão que fazem Malhação [seriado adolescente da Rede Globo]. Tem muito ator bom ali que deve ser valorizado”.

Conversa com a imprensa antes da homenagem.

Questionado sobre a emoção de ser homenageado com o Troféu Oscarito, Flávio revelou: “Eu não acreditei. Não queria vir. Achei que não merecia. O ator [ao interpretar] está fazendo a obrigação dele, não tem que ser homenageado. Eu agradeço, fico muito feliz, me emociono muito. Mas, acho que o ator não deve ser tão endeusado. Mas, veja bem, eu agradeço e estou muito feliz”, finalizou sorrindo.

Continue acompanhando a cobertura do Festival de Cinema de Gramado, aqui no CINEVITOR.

Fotos: Vitor Búrigo.