Henrique Mello e Bel Friósi em cena.
Escrito pelo Marquês de Sade e publicado clandestinamente em 1795, A Filosofia na Alcova se transformou em um dos mais famosos romances da época ao sintetizar todas as principais ideias do universo sadeano: a busca radical do prazer egoísta, a falta de moralidade no universo natural e o sexo como o centro da pulsão humana.
A história dos libertinos mais ousados da literatura universal foi parar nos palcos da Cia. de Teatro Os Satyros, fundada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e fez muito sucesso. Agora, a trama chega às telonas em um longa produzido pela Satyros Cinema, que, em 2014, lançou seu primeiro filme: Hipóteses para o Amor e a Verdade, finalista ao Troféu Bandeira Paulista na 38ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Em A Filosofia na Alcova, Dolmancé e Juliette são os protagonistas da história em que é apresentada a educação de uma jovem virgem, Eugénie, com aulas práticas e teóricas de libertinagem. Após o período de aprendizado, a mãe de Eugénie chega à alcova de Juliette para tentar resgatá-la das mãos dos libertinos. Nesse momento, ela é controlada por Dolmancé e Juliette como uma vítima perfeita e a última aula é finalmente dada.
Felipe Moretti e Stephane Sousa: aulas práticas e teóricas de libertinagem em cena.
Com estreia comercial marcada para o dia 23 de novembro, A Filosofia na Alcova, dirigido por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, conta com Henrique Mello, Stephane Sousa, Felipe Moretti, Bel Friósi, Phedra D. Córdoba, Hugo Godinho, Suzana Muniz e Eduardo Chagas no elenco, e foi exibido na programação do 25º Festival Mix Brasil na mostra Competitiva Brasil, na sexta-feira, 17/11, em uma sessão lotada.
Em uma exibição exclusiva para a imprensa, que aconteceu na mesma semana, os diretores e alguns integrantes da equipe participaram de uma coletiva, onde falaram sobre o longa, elenco, expectativa e bastidores. Confira os melhores momentos:
ORÇAMENTO:
“O filme é orçado, mais ou menos, em 200 mil reais. Ele foi financiado pelo Satyros. Nunca fizemos nenhum projeto de incentivo ou de captação porque sabíamos que esse filme jamais seria financiado por qualquer pessoa, por isso não fomos atrás de nada. Ainda estamos nos estruturando como produtora de cinema e tentando entender esse mercado. Se o filme der dinheiro, ele será distribuído igualitariamente entre todos”, disse Ivam Cabral, um dos diretores.
FESTIVAL MIX BRASIL:
“Eu não acho impossível esse filme sofrer todas as represálias possíveis. Ele foi negado em todos os festivais. E ainda bem que está no Mix Brasil, que acredito ser o seu lugar. O Mix é um festival que abre para isso, para essas experiências e que vem apostando nisso há 25 anos”, disse Ivam.
Os diretores do filme com João Federici, diretor artístico do Festival Mix Brasil.
RECEPÇÃO DO PÚBLICO:
“Movimentos muito conservadores, quando cismam, jogam muito baixo. E eu temo, sim. Porque são vidas e pessoas que se entregaram a esse projeto. São atores muito sérios, que tem uma história no teatro e no Satyros e que merecem muito respeito. Jogamos muito claro nesse filme. Ele é proibido para menores de 18 anos, está no Mix Brasil, um festival muito específico, não tem Lei Rouanet, não tem Spcine. Não tem dinheiro público”, revelou Ivam.
“A situação do país se radicalizou muito nos últimos tempos. Eu acho que o artista está, o tempo inteiro, trazendo e discutindo as questões da sociedade. O momento atual é bastante emblemático onde o ódio ao diferente e a intolerância estão muito presentes. Existe um motor de destruição em volta das relações sociais que está pesando muito. E eu acho que trazer essa questão para o cinema é uma forma também de jogar na nossa cara, nós brasileiros, de como tudo pode ficar ainda mais pesado e tão difícil, mais do que já está. Eu acho que a radicalização assusta. Mas o artista tem que discutir isso. O Sade traz muitas contribuições, tanto pra arte quanto pra literatura e para a filosofia. Ele é uma referência muito importante. E trazer o Sade para esse momento nos ajuda a entender um pouco tudo que a gente tá vivendo”, completou Rodolfo, também diretor.
ORGIA:
“Um fato curioso da cena de orgia é que publicamos no Facebook que a gente ia fazer a cena, tal dia, tal hora e as pessoas foram aparecendo. 90% das pessoas que participam, não conhecemos. Foram voluntários. Muitas pessoas que estavam passando na frente, souberam da cena e entraram. Isso é o curioso da história”, finalizou Ivam.
Fotos: Divulgação.