Diretor: Pablo Larraín
Elenco: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup, John Hurt, Richard E. Grant, Caspar Phillipson, Beth Grant, John Carroll Lynch, Max Casella, Sara Verhagen, Hélène Kuhn, Deborah Findlay, Corey Johnson, Aidan O’Hare, Ralph Brown, David Caves, Penny Downie, Georgie Glen, Julie Judd, Peter Hudson, John Paval, Bill Dunn, Vivienne Vernes, Yann Bean, Craig Sechler, Rebecca Compton, Bryan Ashby, David DeBoy, Stéphane Hohn, Serge Onteniente, Sunnie Pelant, Aiden Weinberg, Brody Weinberg, Roland Pidoux, Ian McCleary, Emmanuel Herault, Nicolas Guigou, David Friszman, Chloé Berthier, Eric Soubelet, Gaspard Koenig, Mathilde Ripley, Barbara Foliot, Albain Venzo, Frédérique Adler, Patrick Hamel, Gary Ayash.
Ano: 2016
Sinopse: O filme revela a história de Jacqueline Kennedy, que inesperadamente viúva, lida com o trauma nos quatro dias posteriores ao assassinato de seu marido, o então presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy.
Crítica do CINEVITOR: A curta, porém prestigiada filmografia do chileno Pablo Larraín é bem diversificada. Em Tony Manero conta a história de um homem obcecado pelo filme Os Embalos de Sábado à Noite; em No, protagonizado por Gael García Bernal, revela os bastidores de uma campanha contra a permanência do ditador Augusto Pinochet no poder; no polêmico O Clube, destaca a convivência de quatro padres e uma freira que vivem isolados na costa chilena; e no belíssimo Neruda, lançado recentemente no Brasil, mostra o poeta perseguido por um inspetor durante o governo Gabriel González Videla. Agora, Larraín chega com Jackie, seu primeiro filme falado em inglês. Produzido por Darren Aronofsky, diretor de Cisne Negro, o drama narra um momento específico da vida de Jacqueline Kennedy, a primeira-dama que virou ícone fashion. Ao longo dos 100 minutos de projeção, acompanhamos os quatro dias posteriores à tragédia que resultou na morte de seu marido, o então presidente americano John F. Kennedy, assassinado no Texas durante uma visita política. Naquele momento, Jacqueline estava ao seu lado. Ela, conhecida por ser uma mulher reservada, de repente estava exposta para o mundo em um momento triste no qual todos tentavam capturar sua dor. E é aqui que Larraín começa sua história. O diretor capta esse sentimento com delicadeza e transita detalhadamente pelo universo particular dessa figura pública tão admirada, porém misteriosa. A árdua missão de interpretar essa lenda nas telonas coube a Natalie Portman. No início, sua atuação causa um pequeno incômodo e leva um tempo para que o espectador se acostume com seu sotaque e seus trejeitos. Mas, a atriz logo toma conta da cena e com um olhar perturbado, e ao mesmo tempo perdido, entrega um trabalho admirável que mergulha em uma imensidão de sentimentos. Se ainda assim não estiver satisfeito, faça uma pesquisa rápida pela internet, procure por vídeos de Jacqueline Kennedy e então tudo fará sentindo. Aliás, o famoso tour pela Casa Branca apresentado pela primeira-dama, que foi transmitido em 1962 pela CBS na TV americana, e é um dos ganchos narrativos do filme, está disponível na rede. Com roteiro de Noah Oppenheim, o filme utiliza de acontecimentos verídicos como esse, por exemplo, para evidenciar a personalidade de Jackie. A narrativa é contada por meio de memórias, tanto históricas como pessoais. Na primeira cena, vemos a protagonista em casa, acompanhada de um jornalista. Ela resolve narrar com detalhes como tudo aconteceu para que o público conheça sua história do jeito que gostaria que fosse contada. A partir disso, o filme se desenvolve e vai se costurando ao retratar os relatos contados pela protagonista. Natalie está praticamente o tempo todo na tela, e muitas vezes em closes, com a intenção de aproximar a personagem do espectador. Seu sofrimento e sua força para controlar toda a situação são expostos em momentos que emocionam. Além disso, o elenco também conta com Greta Gerwig, que aparece muito diferente de seus trabalhos anteriores, como Frances Ha e Mistress America, e Peter Sarsgaard, que desempenham com talento suas atuações. Jackie fica ainda mais atrativo por não ser uma cinebiografia padrão, daquelas que narram a história da pessoa desde o nascimento até a morte. Não que isso não funcione, mas dessa maneira, Larraín consegue explorar ainda mais a intimidade de sua protagonista sem a necessidade de criar uma imagem específica dela. Falar de um mulher impecável, ainda que em uma situação dolorosa e que era vista como um exemplo de elegância para muitas mulheres, em um filme que se passa na década de 1960, exige uma pesquisa cautelosa em relação a figurinos e design de produção, que nesse caso, foi realizada com sucesso e colocada em prática com primor. A trilha sonora composta por Mica Levi é outro acerto em Jackie. As notas encontram um tom melancólico, com um certo suspense musical, que se conectam perfeitamente aos acontecimentos, resultando em um encaixe magistral entre música e imagem. Larraín não precisou mostrar a infância ou justificar certas atitudes de sua protagonista para entregar um filme completo sobre Jacqueline Kennedy. Compreendemos sua personalidade, acompanhamos seu esforço para realizar um funeral que ficasse na memória das pessoas e sua luta para que o nome do marido não fosse esquecido. Em Jackie, conhecemos várias mulheres em uma só: a primeira-dama, a esposa, a mãe, a viúva. Todas em busca de forças para conviver com o luto e suas consequências. A mulher do presidente, que já tinha encantado o mundo, enfrentou a dor, bateu de frente com a família, com políticos deselegantes, questionou suas decisões, sua religião e seu casamento, tomou conta de sua privacidade, honrou seus filhos, não titubeou em deixar tudo esclarecido e ganhou sua própria história. Na vida real e nas telonas. Enfim, as lágrimas escondidas embaixo do véu preto foram reveladas. (Vitor Búrigo)
Nota do CINEVITOR: