Jesuita Barbosa, Wagner Moura, Karim Aïnouz e Clemens Schick durante a coletiva.
O mais novo trabalho do diretor cearense Karim Aïnouz, Praia do Futuro, foi lançado para a imprensa na terça-feira, 06/05, em São Paulo. Após a exibição do longa, os atores Wagner Moura, Jesuita Barbosa e Clemens Schick participaram da coletiva junto com a produtora Geórgia Costa Araújo e o diretor do longa.
Karim confessou que em todos os seus filmes existem referências autobiográficas, só que para que isso funcione sem parecer narcisismo, é preciso contar algo que seja interessante para quem estiver assistindo: “É bonito propor para o espectador a possibilidade de imaginar seu próprio filme”, disse o diretor.
O processo para escolher a trilha sonora desse filme foi um pouco diferente do que Karim estava acostumado a fazer: “Eu sou de uma geração que usar música no cinema era coisa de americano e nesse filme eu chutei um pouco o balde. Queria que fosse uma trilha comovente, uma música masculina e doce ao mesmo tempo. Música é muito simples: ou ela te faz ficar arrepiado ou não”, disse o diretor. “Eu comecei a fazer o filme por causa de ‘Heroes’, do David Bowie, que pra mim é a canção mais bonita de todos os tempos. Queria que o filme fosse a tradução do tom dessa canção, que tem uma coisa melancólica. Não tinha como ficar de fora”.
Sobre a repercussão internacional de Praia do Futuro, a produtora Geórgia Costa Araújo afirmou que o longa tem tudo para ser um sucesso: “A questão internacional vai além da participação em festivais. O filme é uma coprodução com a Alemanha e já foi vendido praticamente para os principais territórios do mundo. O fato de ser um filme internacional também contribuiu para essa repercussão positiva”. O diretor completa: “É importante que o cinema brasileiro circule pelo mundo”.
A produtora Geórgia Costa Araújo com elenco e diretor.
Wagner Moura interpreta um salva-vidas que decide ir morar na Alemanha por causa de um grande amor. Para dar vida a esse personagem, o ator se dedicou muito e disse que correu atrás do diretor para trabalhar com ele por admirar seu trabalho. Wagner também comentou que os ensaios são fundamentais para um bom resultado final: “Tem muito produtor que acha que ensaiar é gastar dinheiro. O ensaio é fundamental, não só para a integridade artística do filme, mas para evitar problemas ao longo das filmagens. Ensaiamos dois meses. Praia do Futuro é um filme de três atores. Era muito importante que a gente se conhecesse muito bem, não só como personagens, mas que nos tornássemos amigos”.
A preparação do elenco ficou por conta de Fátima Toledo e os atores ficaram satisfeitos com o trabalho realizado: “É desafiador trabalhar com ela, uma grande experiência. Eu nunca tinha passado por nada parecido e o resultado foi incrível”, disse o ator alemão Clemens Schick. Wagner também elogiou Fátima: “É a terceira vez que trabalho com ela e já estou acostumado com seu método. Tenho uma grande admiração pelo seu trabalho”.
Karim Aïnouz e o ator alemão, Clemens Schick.
Questionados sobre as dificuldades em atuar em outras línguas, já que o filme tem diálogos em português e alemão, os atores revelaram situações engraçadas que aconteceram durante as filmagens: “Foi realmente um grande desafio trabalhar com uma língua que eu não conhecia nada. Em alguns momentos me senti sem esperança. Eu queria reagir e não conseguia fazer isso em português. Teve uma noite em que estávamos filmando na praia e fiquei muito nervoso porque eu não conseguia expressar em português o que eu estava sentindo”, contou Clemens. Wagner Moura também não teve muita facilidade em falar outra língua no começo: “Eu descobri rapidamente que eu não ia saber falar alemão. Eles contrataram uma professora pra mim e também trabalhei as falas com o Clemens, que me ajudou muito”.
Por falar de um romance entre dois homens, o filme traz à tona algumas questões relacionadas aos homossexuais: “Interpretar um personagem gay não pode ser uma questão. Se você tem esse bloqueio, não pode ser ator e nem fazer arte”, disse Jesuita Barbosa. “Eu não falo da minha intimidade por aí, do que eu faço em casa com minha mulher, com meus filhos, e acho que uma pessoa por ser homossexual não é obrigada a dizer o que faz dentro da sua própria casa. As pessoas tem que ser o que elas querem ser. O Brasil é um país conservador e existe um preconceito muito grande. A ideia de que o homossexual não pode ser viril, não pode ser herói, é uma ideia preconceituosa. É um pensamento frágil”, desabafou Wagner Moura. O alemão Clemens Schick também se manifestou sobre o tema polêmico: “Infelizmente vivemos em um mundo onde ser gay não é normal. Todo mundo deveria ser livre pra fazer o que quer”.
Jesuita Barbosa e Wagner Moura.
Karim se mostrou satisfeito com o resultado final: “Experimentei muita coisa nova nesse filme, fiz com muita liberdade. Mas é de fato o mais ambicioso enquanto gesto narrativo. Tomara que dê certo”. Jesuita também falou sobre o longa: “Praia do Futuro foi uma experiência muito transformadora e inovadora pra mim”. Wagner Moura concluiu: “É muito difícil um filme silencioso e o cinema é uma arte de imagem. Os personagens desse filme se expressam muito mais pelo que eles fazem do que pelo que eles dizem”.
Praia do Futuro chega aos cinemas no dia 15 de maio. Confira o trailer:
Fotos: Vitor Búrigo