Mãe Só Há Uma

por: Cinevitor

maesohaumaposterDiretora: Anna Muylaert

Elenco: Naomi Nero, Daniel Botelho, Dani Nefussi, Matheus Nachtergaele, Luciana Paes, Helena Albergaria, Laís Dias, June Dantas, René Guerra, Renan Tenca, Luciano Bortoluzzi, Clara Gallo, Douglas Luckiys, Ulisses Sakurai.

Ano: 2016

Sinopse: Após denúncia anônima, o adolescente Pierre é obrigado a fazer um teste de DNA. Ele descobre que foi roubado da maternidade e que a mulher que o criou não é sua mãe biológica. Após a revelação, o garoto é obrigado a trocar de família, de nome, de casa, de escola, tudo isso em meio às descobertas da juventude.

Crítica do CINEVITOR: Depois do estrondoso sucesso de Que Horas Ela Volta?, seria estranho se os espectadores não criassem uma certa expectativa em cima do novo trabalho de Anna Muylaert. Mas, vamos direto ao ponto: Mãe Só Há Uma chega aos cinemas com outra proposta, outra história, outras discussões. Ou seja, é um outro filme. Sendo assim, não venha falar de decepções por não encontrar o carisma de Val ou conflitos de classes sociais na narrativa. Baseado livremente no caso do menino Pedrinho, que virou notícia em 2002, ao revelar que o jovem foi sequestrado ainda recém-nascido na maternidade, a diretora resolveu levar esse caso às telonas mostrando um outro lado da história: do ponto de vista dos personagens, principalmente do protagonista, aqui interpretado brilhantemente pelo talentoso Naomi Nero. Além de ter que enfrentar esse novo e difícil momento em sua vida, em que é obrigado a trocar de família, Pierre se vê deslocado em um contexto que nada tem a ver com ele. No auge de suas descobertas sexuais e da busca pela liberdade em uma sociedade preconceituosa, o garoto se depara com barreiras sufocantes criadas, principalmente, pelos integrantes de sua nova família. Um pai conservador, papel de Matheus Nachtergaele; um irmão distante e ainda sem opinião formada, vivido por Daniel Botelho; e uma mãe desesperada por carinho e afeto, vivida por Dani Nefussi, que também interpreta a mãe que sequestrou Pierre na maternidade. A atriz desempenha tão bem dois papéis completamente diferentes na trama que é possível que você nem perceba que se trata da mesma pessoa. Com ótimas atuações, uma tensa câmera na mão e planos longos bem detalhistas, o filme só perde força por deixar de lado alguns acontecimentos importantes, como a situação da mãe que é presa pelo crime que cometeu, pouco detalhada na história. Essa sensação se repete outras vezes na narrativa, sobretudo nos momentos finais, quando, no auge do clímax, sobem os créditos. Muito bem escrita, a cena que acontece no boliche, por exemplo, quando Pierre coloca pra fora sua raiva e suas angústias, poderia ter acontecido um pouco antes para causar mais tensão e desconforto na trama. Ainda assim, Mãe Só Há Uma é interessante porque abre discussões importantes referentes à identidade de gênero, rótulos, preconceitos, orientação sexual e dramas familiares. Seus diálogos apresentam debates necessários e conflitos que cada vez mais precisam ser discutidos. Como de costume, Anna Muylaert consegue extrair o lado mais profundo e humano de seus personagens. É curioso ver que, ao mesmo tempo em que tentam agradar Pierre, fingindo respeitar seu estilo de vida, seus novos pais logo acabam entrando em conflito ao perceberem que estão indo contra seus princípios. Como aceitar que Pierre beija meninos, meninas, usa vestido, calça, bermuda, saia e pinta as unhas? A grande questão apresentada no filme tem a ver com a retrógrada preocupação dos outros em rotular as pessoas pela maneira como elas se vestem, como vivem e do que gostam. Até quando teremos que caminhar ao lado de ignorantes e preconceituosos? O que alivia é saber que a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa está crescendo e que muitos filmes como Mãe Só Há Uma continuem sendo realizados para que as pessoas compreendam e aceitem que qualquer um pode ser o que quiser. Livres do ódio e repletos de amor. (Vitor Búrigo)

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

 

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