Morreu nesta terça-feira, 13/09, aos 91 anos, o cineasta, roteirista e crítico de cinema Jean-Luc Godard, considerado um dos pioneiros da Nouvelle vague, importante movimento artístico do cinema francês no final da década de 1960. Segundo informações divulgadas pela imprensa internacional, ele morreu pacificamente em casa, na Suíça, ao lado de sua esposa Anne-Marie Miéville.
Nascido no dia 3 de dezembro de 1930, em Paris, Godard estudou Etnologia na Sorbonne Université. No começo dos anos 1950, começou a escrever para a conceituada revista Cahiers du Cinéma, depois de participar de cineclubes ao lado de nomes como André Bazin, François Truffaut, Claude Chabrol e Jacques Rivette. Como crítico de cinema, declarou insatisfação em relação ao cinema francês e resolveu fazer seus próprios filmes.
Seu primeiro trabalho como diretor foi o curta-metragem Une femme coquette, lançado em 1955. Depois dirigiu outros filmes no mesmo formato: Opération ‘Béton’, Charlotte e Seu Namorado e Todos os rapazes se chamam Patrick. Em 1960, lançou seu primeiro longa-metragem: Acossado, com Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg, que lhe rendeu o Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim e uma indicação ao BAFTA.
Em sua trajetória, Godard desafiou o modelo criado por Hollywood e o próprio cinema francês. Suas obras também foram marcadas por diversas homenagens, referências e expressões políticas. Ao longo da carreira, realizou mais de 40 longas-metragens, além de curtas, ensaios cinematográficos e videoclipes. Com a Nouvelle vague, trouxe a proposta de renovar a cinematografia francesa e a valorização do diretor, reabilitando o cinema de autor.
Seu segundo longa, Uma Mulher é Uma Mulher, recebeu o Prêmio Especial do Júri em Berlim, além do Urso de Prata de melhor atriz para Anna Karina, com quem foi casado. No mesmo festival, foi consagrado muitas vezes por diversos trabalhos, entre eles: Alphaville, vencedor do Urso de Ouro, em 1965; Masculino-Feminino, em 1966; Week-End à Francesa, em 1967; A Gaia Ciência e Amor e Raiva, em 1969; Tudo Vai Bem, em 1972; e Eu Vos Saúdo Maria, em 1985, que foi rejeitado pelo papa João Paulo II sob alegação de que a história era uma ofensa às crenças católicas e foi proibido no Brasil na época.
No Festival de Cannes, participou pela primeira vez em 1980 com Salve-se Quem Puder (A Vida), na Competição Oficial. Depois disso, exibiu por lá: Paixão, em 1982; Detetive, em 1985; Ária, em 1987; Nouvelle vague, em 1990; Elogio ao Amor, em 2001; Filme Socialismo, em 2010, na mostra Un Certain Regard; Adeus à Linguagem, em 2014, que recebeu o Prêmio do Júri; e Imagem e Palavra, em 2018, que recebeu uma Palma de Ouro especial.
Godard nos bastidores do filme Ária, em 1987.
Outro evento que marcou a carreira de Godard foi o Festival de Veneza, no qual exibiu diversos títulos, como: Viver a Vida, vencedor do Prêmio Especial do Júri, em 1962; Uma Mulher Casada, em 1964; O Demônio das Onze Horas, em 1965; A Chinesa, em 1967, vencedor do Prêmio Especial do Júri; Carmen de Godard, em 1983, que lhe rendeu o Leão de Ouro; Alemanha Nove Zero, em 1991; Infelizmente para Mim, em 1993; e Para Sempre Mozart, em 1996. Além disso, foi homenageado com o Leão de Ouro honorário em 1982.
Godard também passou também pelo Festival Internacional de Cinema de San Sebastián e recebeu o Prêmio FIPRESCI por Nossa Música, em 2004, além de exibir Imagem e Palavra anos depois; no Festival de Roterdã exibiu Detetive e também saiu premiado. Em 2011, foi contemplado com o Oscar honorário por sua contribuição ao cinema, mas não marcou presença na cerimônia. Também foi homenageado nos festivais de Locarno e Estocolmo e no Prêmio César.
Seus filmes se destacaram muitas vezes entre os melhores do ano da conceituada revista Cahiers du Cinéma. Ao longo de sua carreira, alcançou o primeiro lugar do pódio com: Acossado, Viver a Vida, O Desprezo, Bando à Parte, O Demônio das Onze Horas, Eu Vos Saúdo Maria e Imagem e Palavra. Mas também marcou presença com: Rei Lear, Grandeur et décadence d’un petit commerce de cinéma, Paixão, Duas ou Três Coisas Que eu Sei Dela, Tempo de Guerra, entre muitos outros.
Documentários também marcaram a carreira do cineasta, como: Pravda, que trata da invasão soviética da Checoslováquia, British Sounds, Longe do Vietnã, Vrai faux passeport, The Old Place, Soft and Hard, Salve a Vida (Quem Puder), Aqui e em Qualquer Lugar, Numéro deux, entre outros.
Considerado por muitos como um gênio do cinema e um dos mais inventivos realizadores, Jean-Luc Godard se destacou, entre tantos talentos, ao inovar a estética cinematográfica. Entre polêmicas e consagrações, fez também um cinema político, tornou-se referência e inspirou diversas gerações. Deixou sua marca na história do cinema por seu estilo de filmagem iconoclasta e aparentemente improvisado, além de radicalismo inflexível.
Fotos: Hulton Deutsch/Divulgação/Diane Miller/Jonathan Lenard.