Pioneira, referência e talentosa.
Morreu neste domingo, 28/07, aos 98 anos, a atriz carioca Ruth de Souza. Segundo informações divulgadas por amigos e familiares, ela estava internada em um hospital no Rio de Janeiro por conta de uma pneumonia. Considerada pioneira na conquista por espaço nos palcos e nas telas para os atores negros, se tornou referência, abriu caminhos e lutou contra a discriminação.
Ruth de Souza, que nasceu em 12 de maio de 1921, se interessou pela arte de atuar muito cedo, quando frequentava recitais no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao descobrir o Teatro Experimental do Negro, grupo liderado por Abdias do Nascimento, juntou-se a eles e estreou nos palcos em maio de 1945, no Municipal, com o espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O’Neill. Desacreditada no começo, já que atores negros não conseguiam bons papéis no teatro e no cinema, Ruth quebrou barreiras e abriu caminho para muitos que vieram depois dela.
Estudou teatro nos Estados Unidos durante um ano e quando voltou fez sua estreia nas telonas, em 1948, no filme Terra Violenta, de Edmond F. Bernoudy e Paulo Machado, uma adaptação de Terras do Sem Fim, de Jorge Amado, que a indicou para o papel. Depois disso, trabalhou nas três companhias cinematográficas da época: Atlântida, Maristela e Vera Cruz.
Com o amigo de toda vida, Grande Otelo, fez Também Somos Irmãos, de José Carlos Burle, uma produção da Atlântida. Porém, foi na Vera Cruz que Ruth de Souza ganhou ainda mais destaque. Atriz contratada da companhia, atuou em Terra É Sempre Terra (1951), de Tom Payne; Ângela (1951), de Abilio Pereira de Almeida e Tom Payne; e Sinhá Moça (1953), de Tom Payne e Oswaldo Sampaio, que lhe rendeu uma indicação ao prêmio de atuação feminina, Volpi Cup, no Festival de Veneza. Com isso, tornou-se a primeira atriz brasileira a receber uma indicação em um festival internacional; o longa foi premiado em Veneza e também no Festival de Berlim.
No filme Sinhá Moça: reconhecimento internacional.
Além disso, Ruth foi a primeira atriz negra a encenar um espetáculo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a protagonizar uma novela, A Cabana de Pai Tomás, em 1969, na Rede Globo. No cinema foram mais de 30 filmes, entre eles: Pureza Proibida (1974), de Alfredo Sternheim, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante pela APCA, Associação Paulista de Críticos de Arte; O Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias; Ravina (1958), de Rubem Biafora; Fronteiras do Inferno (1959), de Walter Hugo Khouri; Mistério na Ilha de Vênus (1960), de Douglas Fowley, uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos; A Morte Comanda o Cangaço (1960), de Carlos Coimbra e Walter Guimares Motta; Gimba, Presidente dos Valentes (1963), de Flavio Rangel; O Homem Nu (1968), de Roberto Santos; Um Homem Célebre (1974), de Miguel Faria Jr.; Ladrões de Cinema (1977), de Fernando Campos; Jubiabá (1986), de Nelson Pereira dos Santos; Um Copo de Cólera (1999), de Aluizio Abranches; O Vendedor de Passados (2015), de Lula Buarque de Hollanda; Pitanga (2017), de Beto Brant e Camila Pitanga; entre outros.
Em 2004, foi premiada com o kikito de melhor atriz, no Festival de Cinema de Gramado, pelo filme Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo. No ano passado, recebeu uma Menção Honrosa no Festival Brasil de Cinema Internacional, pelo longa Primavera, de Carlos Porto de Andrade Junior. Em 2013, foi homenageada no Grande Prêmio Brasileiro de Cinema e em janeiro deste ano, a escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz homenageou a atriz no Carnaval com o enredo Ruth de Souza – Senhora liberdade, Abre as asas sobre nós.
Com Maria Ceiça e Danielle Ornelas em Filhas do Vento: premiada.
O projeto Pérola Negra, do CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil, que busca a valorização de personalidades afrodescendentes que marcaram a cultura e a história brasileira no século XX e começo do XXI, realizou a mostra Pérola Negra: Ruth de Souza, em 2016, com a exibição de 25 trabalhos da atriz.
Além dos palcos e das telonas, Ruth de Souza também se consagrou na TV: na década de 1950, participou de radionovelas e atuou em produções da TV Tupi. Depois, ganhou destaque na telenovela A Deusa Vencida, de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. Em 1968, foi contratada pela TV Globo e atuou em diversas obras, como: Pigmalião 70, O Bem Amado, Os Ossos do Barão, O Rebu, Sinhazinha Flô, Corpo a Corpo, Cambalacho, Rainha da Sucata, O Clone, Senhora do Destino, Mister Brau, entre outras. Seu último trabalho na emissora foi na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, em agosto de 2018.
Fotos: Divulgação/Genco Assessoria.