Pedro Brício, Cintia Rosa e Murilo Salles durante a coletiva de imprensa.
Seguindo a programação do 43º Festival de Cinema de Gramado, no domingo, 09/08, o filme O Fim e os Meios, de Murilo Salles, foi exibido no Palácio dos Festivais, durante a Mostra Competitiva de longas-metragens brasileiros. A história mostra um jovem casal que se muda para Brasília tentando resolver os impasses da relação. Ela é jornalista, ele é publicitário. A campanha para reeleição de um Senador da República desencadeia um jogo de interesses que se confunde com os desejos e as fraquezas do casal.
Ao subir ao palco para apresentar seu filme, Murilo Salles, muito emocionado, discursou: “Estreei meu primeiro longa aqui. Estreei meu segundo longa aqui. E o terceiro também. Esse é o quinto que passa aqui. Gramado me ama e eu amo Gramado. A gente não tem palco, mas tem tela. E essa é a minha tela. Quanto ao filme, foi muito difícil. Como fazer um filme sobre política no Brasil? Todos os meus filmes são políticos. E eu queria me colocar novamente diante de um país. E a minha escolha foi partir para o ser humano. O que me interessa são as relações, entender esse país através de nós. É um filme que tenta descobrir como se fundamenta nossas raízes históricas no nosso cotidiano. É um filme feito com muito amor por uma equipe muito apaixonada por cinema”.
Equipe no palco do Palácio dos Festivais.
No dia seguinte à exibição, alguns integrantes da equipe participaram de uma coletiva de imprensa. A produtora Julia Moraes iniciou a conversa: “Esse filme foi feito de uma forma muito artesanal. Temos uma equipe pequena, de 20 pessoas fixas. Mas isso é bem possível porque o Murilo, esse cara experiente, que fica nervoso sempre como se fosse a primeira vez, tem uma garra e uma empolgação muito grande. Ele é um diretor que produz e que faz tudo e isso ajudou muito na realização desse filme”. E completou: “Filmamos em sete semanas, com um deslocamento grande da equipe. Vivemos em Brasília muito tempo, depois fomos pra Maceió, voltamos pro Rio. Como você consegue manter a equipe coesa, com um pensamento único pra você poder imprimir isso num filme? Isso é um grande desafio e não é só fazer, é fazer com alma. Em Brasília, a gente teve um apoio muito grande e abrimos um diálogo com o cinema brasiliense”.
Murilo Salles falou sobre sua maneira de fazer cinema: “Eu sou um cineasta que faço cinema narrativo e que tem uma maluquice de querer suspender essa narração, pensá-la de uma maneira diferente. Eu amo o cinema narrativo! Ele me desafia profundamente. Eu sou de uma geração que aprendeu a fazer cinema com Godard. Ele me influenciou no sentido de que a questão da narrativa é uma questão que é muito contemporânea e que me desafia”. O diretor também falou, de forma descontraída, como seus filmes são recebidos pela crítica e pelo público: “Meus filmes são sempre esquisitos. Nunca ninguém gosta muito deles (risos). E eu acho isso uma qualidade, isso me dá uma segurança. Quanto menos gostam, mais eu acho que estou indo bem (risos). Eu tenho certeza do que eu estou fazendo”.
A produtora Julia Moraes e o diretor de arte Pedro Paulo de Souza na coletiva.
Cintia Rosa, protagonista do longa, falou um pouco sobre o processo de construção da jornalista Cris, sua personagem: “A Cris é uma personagem complexa. Eu morei em Santa Teresa durante quinze dias, descia todos os dias e ia para a redação do O Globo, ficava com os jornalistas, participava de reuniões, saía com eles pra cobrir, pra investigar as pautas do dia, tentava escrever matérias. Foi um estudo muito minucioso no Rio. Em Brasília eu fui todos os dias para o Congresso, junto com a Maria Lima, que foi uma jornalista que me adotou. Eu respirei aquilo o tempo inteiro. Eu saía de carro por Brasília pra entender a cidade, que é muito diferente do Rio. Foi um trabalho muito importante pra mim porque a personagem é muito forte, distante de mim, mas hoje em dia posso dizer que ela faz parte de mim. Eu abracei essa personagem”.
A atriz também elogiou seu colegas de elenco e falou da emoção de estar em Gramado: “Meus parceiros de cena foram muito importantes e a equipe foi incrível. Sou muito feliz em participar desse filme. Foi um grande momento na minha vida, na minha carreira, porque foi um desafio muito grande. E é um prazer estar em Gramado. É a segunda vez que eu venho. Já estive aqui com outros filmes, com Bróder e 5x Favela – Agora por Nós Mesmos, no qual eu protagonizei Concerto para Violino, mas era um curta dentro de um longa. Então, esse [O Fim e os Meios] realmente é meu primeiro protagonismo em um longa-metragem”.
Protagonistas: Pedro Brício e Cintia Rosa.
O diretor revelou que quando decidiu que Cintia seria a protagonista de seu filme deu de presenta a ela o livro Anna Karenina, escrito pelo russo Liev Tolstói: “A Cris é baseada na Anna Karenina”. E Cintia comentou: “Eu sempre construo meus personagens com elementos externos, que todos trazem pra mim”.
Pedro Brício, que interpreta o publicitário Paulo, revelou o motivo de ter aceitado fazer o filme e de como foi sua preparação: “De início eu até recusei porque tinha um outro trabalho. Mas, resolvi fazer o filme porque eu sou fã do Murilo. Eu conversava com ele e via toda o seu desejo de fazer uma coisa diferente, de fazer um trabalho sério. Também resolvi fazer pela oportunidade de ir a Brasília, ficar um tempo por lá”. Sobre o personagem, ele disse: “O Murilo pediu que eu fizesse eu mesmo no filme, o que é uma coisa muito difícil, primeiro porque eu não tenho certeza de quem eu sou (risos). E também porque eu estava num outro contexto, era um publicitário e eu não sou publicitário. Foi muito angustiante pra mim porque o personagem passa quase o filme inteiro numa angústia muito grande tentando resolver problemas”.
Ao final da coletiva, Murilo disse: “Eu fui aprendendo com os atores. Eu devo muito aos atores com quem eu trabalhei. A gente aprende muito com eles. É impressionante!”.
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Texto e fotos: Vitor Búrigo.