Nomadland
Direção: Chloé Zhao
Elenco: Frances McDormand, Gay DeForest, Patricia Grier, Linda May, Angela Reyes, Carl R. Hughes, Douglas G. Soul, Ryan Aquino, Teresa Buchanan, Karie Lynn McDermott Wilder, Brandy Wilber, Makenzie Etcheverry, Bob Wells, Annette Webb, Rachel Bannon, Charlene Swankie, David Strathairn, Bryce Bedsworth, Sherita Deni Coker, Merle Redwing, Forrest Bault, Suanne Carlson, Donnie Miller, Roxanne Bay, Matt Sfaelos, Ronald O. Zimmerman, Derek Endres, Paige Dean, Paul Winer, Derrick Janis, Greg Barber, Carol Anne Hodge, Matthew Stinson, Terry Phillip, Bradford Lee Riza, Tay Strathairn, Cat Clifford, James R. Taylor Jr., Jeremy Greenman, Ken Greenman, Melissa Smith, Warren Keith, Jeff Andrews, Paul Cunningham, Emily Jade Foley, Mike Sells, Peter Spears, Cheryl Davis.
Ano: 2020
Sinopse: Após o colapso econômico de uma colônia industrial na zona rural de Nevada, Estados Unidos, Fern reúne suas coisas em uma van e parte rumo a uma viagem exploratória, fora da sociedade dominante, também em uma jornada de exploração pela vasta paisagem do oeste americano como uma nômade dos tempos modernos.
Crítica: O sucesso de Nomadland em festivais e premiações não é à toa. Em seu terceiro longa-metragem, a cineasta Chloé Zhao embarca em uma sensível viagem de encontros e desencontros de sua protagonista. Fern, interpretada com maestria por Frances McDormand, sofre as consequências de um declínio econômico que afetou os Estados Unidos. Ao invés de lutar por sua aposentadoria ou por algum tipo de pensão, ela prefere trabalhar para se manter ativa. Mas, nem tudo sai como planejado. Sua vida não lhe oferece certezas e suas escolhas são decididas ao longo da estrada enquanto procura um novo lugar para estacionar sua van, que é também sua casa. Com uma direção impecável, Chloé Zhao, que também assina o roteiro e a montagem, conduz a narrativa com extrema sensibilidade em cima de uma personagem potente e cheia de elementos interessantes a serem visitados. Ao chegar em uma acampamento de nômades, Fern logo interage com a comunidade e começa a construir seus laços afetivos, mesmo sabendo que em breve serão desfeitos. A cada local que passa, é um ciclo que recomeça, mas que também se completa. O trabalho primoroso de Frances McDormand é fundamental para contar essa história. Sua personagem traz um olhar seguro, mas também vago, que em meio à solidão de sua nova vida procura se conectar e encontrar respostas. É também um olhar duvidoso que se conecta aos diversos sentimentos dessa mulher; ora perdida, ora realocada. Acostumada a ir e vir, Fern parece lidar muito bem com o desapego, mas nem por isso esquece das lembranças de um passado não tão distante. É dentro da sua van que se entrega às memórias, seja em uma louça que lhe traz recordações ou em uma aliança que ainda lhe traz um conforto emocional. Em Nomadland nada é por acaso. Ainda que Chloé nos apresente sua protagonista aos poucos, são os detalhes, até mesmo cênicos, que completam essa viagem nostálgica pelo deserto. A fotografia de Joshua James Richards proporciona imagens deslumbrantes, mas também aproxima o espectador da solidão dessa mulher nômade; os movimentos de câmera que a acompanham são belíssimos e seus passos são registrados de maneira intimista e comovente. A trilha sonora de Ludovico Einaudi é outro ponto forte de Nomadland e aparece nas horas certas, sem cair no uso apelativo para emocionar. Aqui, tudo é envolvente na medida certa. Chloé Zhao saber dosar e costurar muito bem as emoções, sem transformá-las em um melodrama, e surpreende a cada cena. É um filme repleto de sutilezas, até mesmo quando destaca os locais visitados por sua protagonista; o passeio turístico oferecido por Zhao ao espectador traz uma certa melancolia ligada diretamente à Fern. Entre angústias e saudade, há uma força gigante em querer se adaptar ao novo com facilidade; algo que ela faz muito bem, mesmo que sua mente ainda lhe confunda sobre liberdade e realidade. Sua vida nômade não deixa de ser um caminho em busca da superação e do autoconhecimento. É a solidão que alimenta a sua força, mas os encontros em sua jornada também a fortalecem; mesmo com uma despedida já anunciada. Há cenas lindas entre amigos com diálogos intensos e carinhosos. São em momentos como esses que percebe-se as diversas camadas dessa protagonista e como elas são bem trabalhadas ao longo da projeção. Nomadland é um filme que deixa o espectador atento para observar: os detalhes, a trajetória, o caminho, a superação, a saudade e o vai e vem das situações. A direção de Chloé Zhao é sorrateira, no bom sentido; ela vai pelas beiradas para emocionar até atingir o ápice da comoção. É sublime a maneira como conduz tudo isso e como projeta sua protagonista. Ao final do longa, fica a sensação de querer saber qual novo ciclo que Fern vai encarar. Fica o desejo de querer encontrá-la por aí e de saber por onde andará? Nomadland pode até carregar uma certa tristeza, mas é um filme que fala sobre seguir adiante em busca do conhecimento de si próprio, testando limites e emoções. Fala do passado, do presente e de um futuro incerto ou cíclico. Trata de lembranças, mas também de recomeços. Chloé Zhao entrega uma obra belíssima, profunda e, acima de tudo, humana. (Vitor Búrigo)
Nota do CINEVITOR: