Elenco em cena: Bárbara Paz e Carolina Monte Rosa.
A 48ª edição do Festival de Cinema de Gramado começou nesta sexta-feira, 18/09, em formato multi plataforma por conta da pandemia de Covid-19. Sem o evento presencial, as mostras competitivas são transmitidas pelo Canal Brasil e por streaming, no Canal Brasil Play. Pela TV, os espectadores podem acompanhar os longas-metragens brasileiros e estrangeiros e os curtas nacionais.
Com apresentação de Renata Boldrini e Marla Martins, direto do Palácio dos Festivais, a primeira noite contou com as exibições dos curtas 4 Bilhões de Infinitos, de Marco Antonio Pereira, e Receita de Caranguejo, de Issis Valenzuela. O longa argentino El silencio del cazador, de Martin Desalvo, também foi exibido.
A competição de longas-metragens brasileiros começou com Por que Você Não Chora?, de Cibele Amaral. O filme aborda o delicado tema do suicídio: Jéssica, interpretada por Carolina Monte Rosa, é muito fechada; Bárbara, papel de Bárbara Paz, é uma bomba relógio. As duas se encontram quando, no estágio da faculdade de psicologia, Jéssica atende Bárbara. A convivência leva Jéssica a questionar sua vida vazia e sem significado. O elenco conta também com Cristiana Oliveira, Elisa Lucinda, Maria Paula, Priscila Camargo, Rodrigo Brassoloto, Erik Doria, Valentina Cysne e Luciana Martuchelli.
Em 2004, a cineasta Cibele Amaral participou do Festival de Gramado com o curta-metragem Momento Trágico e ganhou quatro kikitos, entre eles, o de melhor filme segundo o júri popular. Agora, de volta ao evento gaúcho, falou sobre a repercussão de seu novo filme: “A reação foi gigante. O festival é muito importante e, mesmo virtual, tem um poder grande”, disse durante o debate virtual, comandado por Roger Lerina.
Sobre a ideia do projeto, comentou: “A pesquisa começa pela minha formação. Sou psicóloga e faço terapia a vida inteira. A questão do transtorno de Borderline foi algo que me tocou, pois eu tenho traços, e na faculdade mesmo eu fui me autodiagnosticando. É importante eu dizer isso, até por causa do estigma. E eu dei muito trabalho aos meus psicólogos. Em determinado momento, percebi que queria falar sobre esse transtorno e não sabia como”. E completou: “É um filme que fala sobre a vontade de viver e de morrer”.
Bárbara Paz interpreta uma mulher com Transtorno de Personalidade Borderline.
Em entrevista realizada por e-mail, na sexta-feira, antes da exibição, conversamos com o produtor do longa, Patrick de Jongh, que também assina a trilha sonora original. Confira:
ABORDAGEM DOS TEMAS
“Tivemos muito cuidado para não tratar o tema de forma superficial. O filme passou por diversas consultorias e sofreu alterações importantíssimas antes de chegar a esse resultado. Foi discutido por um grupo de psicólogos que trabalha com prevenção ao suicídio. Não temos o fenômeno do gatilho no filme, o que é muito importante. E também não glamourizamos o tema. O filme é uma oportunidade para debater, sem tabus, o sofrimento psíquico e a saúde mental. Cibele é psicóloga e eu vi o quanto ela estava preocupada em tratar este tema tão delicado da forma mais madura e autêntica possível”.
ELENCO
“Eu fiz questão de trazer a Elisa Lucinda para o elenco. Sempre gostamos muito do trabalho dela e do que ela tem a dizer como artista. Foi uma contribuição minha. A Cibele sempre quis a Carolina e a Bárbara nos papeis principais e eu acho que elas foram as escolhas perfeitas. Elas estão muito bem. A preparação do elenco foi feita pela própria diretora. Além dessas atrizes, temos a Cristiana Oliveira, que foi genial como a professora Do Carmo. A atuação dela traz muita credibilidade para o papel. Maria Paula, que é psicóloga na vida real, atuou como uma das psicólogas do filme e também está ótima. Priscila Camargo faz a ‘vilã’ na trama; é uma atriz experiente e talentosa, que não precisa dizer muito para transmitir uma carga muito grande de emoções”.
TRILHA SONORA
“A trilha é muito importante no filme. Ela revela um lado oculto da protagonista, um lado sombrio. Além disso, tem canções que são como um grito de mulheres que estão fartas da opressão machista. As vozes são todas femininas. Mas tem momentos em que entram músicas com letras bem machistas, cantadas por homens, e que servem – propositadamente – para mostrar como a nossa sociedade está impregnada por isso. Esse é o mundo no qual a protagonista vive, um mundo machista com músicas que objetificam a mulher”.
REPERCUSSÃO
“Gramado é uma vitrine da produção nacional, é muito importante. O filme está nascendo hoje, e já conseguimos perceber o tamanho do interesse que as pessoas possuem para conferir essa história e isso já é muito gratificante! O público quer falar sobre saúde mental, é um assunto urgente, que ganhou ainda mais força em meio a esse quadro mundial de pandemia no qual estamos todos vivendo. Esse momento fez a nossa atenção se voltar para todas essas questões emocionais, psicológicas e afetivas. Estamos mais sensíveis e suscetíveis a uma série de circunstâncias e chegou a hora de desmistificarmos esses assuntos, sem partir para a glamourização. E eu acho que o fato do filme ser lançado nesse momento carrega um valor muito especial. Nossa expectativa é que ele cresça, que tenha vida longa e que alcance seu público. O cinema nacional também atravessa uma crise e o reconhecimento das nossas obras por parte do público, da imprensa e dos veículos de difusão é vital”.
*Você acompanha a cobertura do CINEVITOR por aqui, pelo canal no YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
*Clique aqui e assista ao nosso primeiro programa especial sobre o Festival de Gramado no IGTV.
Foto: Divulgação/O2 Play.