Equipe: a atriz Karine Teles e a diretora Anna Muylaert durante a coletiva de imprensa.

Começou a 43ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Na noite de abertura, o primeiro longa-metragem exibido foi o brasileiro Que Horas Ela Volta?, dirigido por Anna Muylaert. O filme, que tem feito sucesso em festivais do mundo inteiro, emocionou o público presente no Palácio dos Festivais.

Ao subir ao palco para apresentar seu filme, a diretora falou: “Esse é um trabalho feito com muito coração, por todos os artistas que fizeram esse filme. Ele conta a história de três mulheres: uma, que apesar de ter uma origem humilde, teve uma ascensão social através de um casamento e talvez ela se sinta um pouco insegura e se ache um pouco superior aos outros, que é a personagem da Karine Teles; a segunda, que é a protagonista do filme, é a personagem da Regina Casé e se chama Val. Talvez por não ter tido uma educação ela é humilde e se acha inferior aos outros; e a personagem da Camila Márdila é uma menina jovem que não se acha nem superior e nem inferior a ninguém. E esse filme é essa utopia: de que um dia o respeito de um pelo outro seja o tom de todas as nossas relações sociais e afetivas”.

No palco: Que Horas Ela Volta? foi o primeiro longa exibido.

No sábado, 08/08, dia seguinte à noite de abertura, alguns integrantes da equipe participaram da coletiva de imprensa e falaram sobre Que Horas Ela Volta?, que conta a história de Val, uma mulher que abandona a filha no interior do Pernambuco para ser babá de um garoto em São Paulo.

“Esse filme nasceu quando eu tive filho e me deparei com a grandeza da função da maternidade, de educar um filho. Ele nasce mesmo de um sentimento de amor meu, não só pela criança, mas também em respeito a um trabalho que no Brasil e na América Latina, em geral, é quase feito exclusivamente por mulher. E quanto isso é desvalorizado na nossa cultura. Criar um filho ou uma criança que não seja seu filho é algo nobre e eu quis resgatar a nobreza desse trabalho. E falando disso no Brasil, você acaba tendo que falar de mulher e da valorização da mulher, porque se esse trabalho não é valorizado, a mulher também está desvalorizada. Ou seja, o que é mais importante? Educar um filho ou fazer um filme? Eu acho que educar um filho é mais importante”, declarou a diretora Anna Muylaert.

Sobre o elenco, ela falou: “Eu sempre busco atores que também são autores, que são capazes de pegar o texto e reinterpretar, pois eu não gosto que falem as mesmas falas que eu escrevi. E nesse filme, temos atores muitos bons. Fomos pela qualidade, por esse conjunto de pessoas diferentes, parecidas, para dar uma humanidade nesse pessoal todo”.

Equipe reunida na coletiva de imprensa.

A atriz Karine Teles, que interpreta a personagem Bárbara, elogiou o trabalho da diretora: “Essa coisa de compartilhar a criação do personagem com o ator é uma coisa rara, não é uma coisa que você vê qualquer diretor fazendo. Mas a Ana é uma diretora que gosta de ator e entende a riqueza que é a colaboração, o trabalho de troca entre duas pessoas que estão pensando a mesma coisa”.

Camila Márdila, que dividiu o prêmio de melhor atriz com Regina Casé no Festival Sundance de Cinema, falou sobre o processo de preparação do longa: “Tem uma coisa muito legal que a Ana faz que é o demo filme. Me ajudou muito. A gente passa dois dias filmando o filme inteiro, com uma câmera na mão, equipe reduzida. É uma forma de enxergar o filme que é incrível para o ator”. E Anna completou: “Filmo eu mesma com a câmera, em dois dias, todas as cenas. Depois monta, sonoriza e todo mundo do filme, todas as equipes assistem ao filme inteiro, de uma maneira tosca, mas é como se fosse um rascunho. Dá uma noção muito clara do que o filme vai ser pra equipe inteira”.

O produtor Caio Gullane e a atriz Camila Márdila durante a coletiva.

Que Horas Ela Volta? tem sido muito bem recebido em outros países. O produtor Caio Gullane falou dessa repercussão fora do Brasil: “Essa coisa internacional é uma alegria dobrada. O filme foi vendido pra mais de 22 países, estreando com grandes números de salas, em grandes praças, países, cidades. O Que Horas Ela Volta? é um filme maduro em todos os sentidos e isso fez com que ele viajasse por vários lugares. E agora será lançado no Brasil, tão importante. Estamos trabalhando para que muita gente assista por aqui”.

O longa foi exibido na França em 180 cidades. Na Itália, foram 70. E a lista de países só aumenta: Suíça, Espanha, Bélgica, Luxemburgo, Austrália, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Holanda, Portugal, Noruega, Polônia.

Anna também comentou sobre a repercussão internacional: “O Som ao Redor, Casagrande e o meu filme estão dando informações novas sobre o Brasil para a imprensa internacional. Eles estão muito interessados em saber de fato sobre o Brasil. E também se o Brasil mudou depois do Lula, porque ele é muito adorado na Europa e acredito que esse filme tem uma característica de falar de um Brasil pós Lula”.

Ao final da coletiva, a diretora declarou: “Eu quero que a empregada doméstica entenda esse filme. É um filme que eu quis que fosse inteiramente compreendido por qualquer pessoa, até por uma criança”.

Confira um trecho da coletiva:

O CINEVITOR está em Gramado e você acompanha a cobertura do evento por aqui e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Texto e fotos: Vitor Búrigo.