Diretor: Cristi Puiu
Elenco: Mimi Branescu, Judith State, Bogdan Dumitrache, Dana Dogaru, Sorin Medeleni, Ana Ciontea, Rolando Matsangos, Mirela Apostu, Eugenia Bosânceanu, Ilona Brezoianu, Ioana Craciunescu, Valer Dellakeza, Aristita Diamandi, Simona Ghita, Marin Grigore, Tatiana Iekel, Petra Kurtela, Catalina Moga, Silvia Nastase, Anca Paul, Liviu Popp, Leo Profir, Ileana Puiu, Iulian Puiu, Marian Râlea, Alexandru Vasile, Andi Vasluianu, Stefan Voicu.
Ano: 2016
Sinopse: Três dias após o ataque terrorista à redação do semanário Charlie Hebdo e 40 dias após a morte de seu pai, Lary, um médico quarentão, se prepara para passar o sábado em família como homenagem ao falecido. A ocasião, no entanto, não acontece de acordo com suas expectativas. Forçado a confrontar seus medos e seu passado, ele terá que repensar o lugar que ocupa no seio de sua família ao encontrar pouco espaço para contar a sua versão da verdade.
Crítica do CINEVITOR: Exibido no Festival de Cannes deste ano e dirigido pelo cineasta romeno Cristi Puiu, Sieranevada narra o cotidiano de uma família durante um banquete em homenagem a um ente recém falecido. Porém, a história vai além disso. Por meio de situações inusitadas, constrangedoras, emotivas e repletas de discussões, o filme apresenta diálogos expressivos que se transformam em conversas espontâneas sobre temas atuais e importantes. Na trama, que se passa praticamente em uma única locação, o apartamento da matriarca, um simples bate-papo na cozinha, por exemplo, vira um debate fervoroso sobre a situação política do país. E tudo com muita espontaneidade. A direção primorosa de Puiu faz com que cenas de longa duração se tornem ainda mais atrativas à narrativa e a maneira como a câmera se desloca pelos ambientes cria uma certa intimidade entre o espectador e a ficção. Aqui, todos os personagens ganham destaque e ao desenrolar dos acontecimentos percebemos como cada um reage e se posiciona em relação aos temas discutidos. Enquanto alguns dialogam sobre religião ou adultério, outros se preocupam com a situação socioeconômica do país. Com 173 minutos de duração e um ritmo não tão acelerado, Sieranevada, ainda assim, consegue prender a atenção do espectador ao reunir conflitos familiares e opiniões diversas em um roteiro desenvolto e muito bem estruturado, que exalta as emoções de seus protagonistas e coadjuvantes. A genialidade de Cristi Puiu, também roteirista, é notória em cada detalhe do filme; seja na marcação precisa do elenco entre os cômodos ou na naturalidade em que aborda, mistura e desenvolve as discussões; ou até mesmo pela íntima câmera que se posiciona quase como uma integrante daquela família, enquadrando a dinâmica dos personagens de acordo com seus movimentos. Sieranevada é atual, discute política, religião e comportamentos sociais, revela segredos, dá espaço à uma pequena frivolidade cotidiana e, diante dos fatos apresentados, intercala assuntos importantes em meio a um emotivo, e certas vezes tenso, encontro familiar. Parece uma ideia simples, mas ao final da projeção sente-se a força de sua profundidade ao mergulhar com verossimilhança em universo particular que traz questões de fora para dentro e que revelam a singularidade de cada indivíduo e de como se comportam de dentro para fora daquelas paredes. Sieranevada retrata com inquietação o cotidiano de uma família que poderia ser a minha ou a sua. (Vitor Búrigo)
Nota do CINEVITOR: