Uýra – A Retomada da Floresta: diretora Juliana Curi apresenta documentário na 46ª Mostra de São Paulo

por: Cinevitor
A diretora na primeira sessão do filme em São Paulo

Depois de uma bem sucedida carreira em festivais internacionais, o documentário Uýra – A Retomada da Floresta, escrito e coproduzido por Uýra Sodoma (Emerson Pontes) e Martina Sönksen e dirigido por Juliana Curi, fez sua estreia na 46ª edição da Mostra de São Paulo na quinta-feira, 20/10, no IMS Paulista.

O filme, que integra a Mostra Brasil e a Competição Novos Diretores, acompanha Uýra, entidade híbrida amazônica vivida pela artista trans indígena e bióloga Emerson Pontes, que viaja pela floresta e cidades amazônicas em uma jornada de autodescoberta usando arte performática para ensinar jovens indígenas e ribeirinhos que eles são os guardiões das mensagens ancestrais da floresta amazônica. O longa traz também a participação de artistas, ativistas e lideranças indígenas como Zahy Guajajara e a liderança Kambeba Dona Babá, além das performances de Uýra, que são metáforas inspiradas no ciclo ecológico e espelha as lutas sociais.

Além de festivais internacionais em que recebeu o prêmio de melhor filme pelo júri popular no Frameline Film Festival, em São Francisco, na Califórnia, melhor documentário no Festival de Oslo, na Noruega, e Prêmio Especial do Júri na categoria Liberdade no Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival, entre outras participações e indicações, o filme têm sido exibido para comunidades Amazônicas, fortalecendo as comunidades de origem e promovendo trocas de saberes e experiências a partir do diálogo estabelecido pelo filme. 

Em setembro, o longa foi exibido em um evento realizado pela FAS, Fundação Amazônia Sustentável, sobre formação política de jovens amazônidas, em Tumbira, e também no Encontro de Jovens da Floresta, em Manaus, na sede da FAS. O evento contou com cinquenta jovens de oito estados brasileiros, que participaram dos três dias da oficina Formação Política para Jovens Amazônicos; a formação é voltada para jovens amazônicos e líderes sociais atuantes em alguma escala em seus territórios. No dia 15 de outubro, a comunidade de Nossa Senhora de Fátima 1, onde Uýra vive com sua família desde criança, recebeu uma exibição gratuita do filme.

Equipe do filme reunida depois da sessão

Na primeira exibição do filme na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, algumas integrantes da equipe participaram de um debate com o público após a sessão, entre elas, a diretora Juliana Curi e a protagonista Uýra Sodoma.

A cineasta abriu o bate-papo: “Existe um processo muito coletivo na feitura desse filme. Eu gosto de mencionar que Uýra não é apenas a personagem principal, mas também é a autora e coprodutora do filme. O filme nasce de um desejo de que toda a equipe repensasse estruturas hegemônicas do audiovisual”. E completou: “É importante lembrar que se as espécies pioneiras se reconhecerem e se conectarem, dá para fazer brotar muita vida dos terrenos mais inóspitos”, disse Juliana.

Uýra também comentou sobre o documentário: “É muita emoção ver a sala lotada. Nem parece que eu já vi esse filme várias vezes, porque toda vez que assisto eu choro. É uma alegria poder hoje, nesse tempo que nunca existiu, estabelecer diálogos com mundos que não dialogam há algum tempo. A falta de diálogo no mundo é a principal razão sobre o que a gente vê de destruição. Então, conseguir estabelecer diálogos entre mundos tão distantes é uma virada para que outras histórias sejam ouvidas”.

E finalizou: “Nós estamos pelos mundos insistindo por nossas vidas e por nosso valor, reconstituindo uma autoestima que foi destruída. É preciso saber que nossa voz importa. Esse filme começa a ser construído nesse momento em que todas as pessoas estão em seus mundos com a intenção de construir e contar histórias”.

Documentário premiado: protagonista em cena

Uýra Sodoma é uma entidade híbrida criada e performada pela artista indígena residente em Manaus, Emerson Pontes. Utilizando seu corpo como suporte e trânsito coletivo ao unir elementos orgânicos em suas montações, Emerson expressa através de Uýra, uma “árvore que anda” como nomeia, a imbricação entre sabedorias ancestrais e conhecimentos científicos da ecologia, gerando imagens que nos convocam a olharmos as florestas presentes em toda a paisagem urbana e a repensarmos arraigadas noções de natureza.

Neste fluxo, tem atuado correlativamente nos últimos seis anos como bióloga, arte educadora e artista visual. Suas performances, fotos performances, falas, intervenções e instalações também imbricam as causas de preservação ambiental e direitos LGBTQIA+, que a artista também coletiviza em seu corpo.

Uýra – A Retomada da Floresta é uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos, com produção de Uýra Sodoma, João Henrique Kurtz, Lívia Cheibub e Martina Sönksen; a distribuição é da Olhar Distribuição e tem estreia comercial prevista para 2023.

O filme terá mais uma exibição na 46ª Mostra de São Paulo: dia 01/11, terça-feira, às 14h, no Cine Satyros Bijou.

Fotos: Mario Miranda Filho e Vitor Búrigo.

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