Valentina

por: Cinevitor

Direção: Cássio Pereira dos Santos

Elenco: Thiessa Woinbackk, Guta Stresser, Rômulo Braga, Letícia Franco, Ronaldo Bonafro, Paula Passos, Rodrigo Lelis, Pedro Diniz, João Gott, Maria De Maria, Aryadne Amâncio, Guilherme Almeida, Leonardo Araújo, Flávia Alves, Danny Leandro, Carlos Henrique Araújo, Lobo Guimarães, Pabllo Thomaz, Giovanna Parra, Leandro Alves, Samuel Gonçalves, José de Campos, Faninho Ebenézer, Luísa della Nina, Luísa Guimarães, Johan Alves, Hyan Santiago, Cissa Gomes Rocha.

Ano: 2020

Sinopse: Valentina, uma menina trans de 17 anos de idade, muda-se para uma pequena cidade mineira com sua mãe Márcia para um recomeço. Com receio de ser intimidada na nova escola, a garota busca mais privacidade e tenta se matricular com seu nome social. No entanto, a família começa a enfrentar problemas quando a diretoria da escola, despreparada, começa a exigir a assinatura do pai ausente para realizar a matrícula. Com o apoio de sua mãe e a ajuda de dois amigos inseparáveis, Valentina precisa enfrentar os haters de plantão e superar o maior desafio de sua vida.

Crítica: Depois de realizar diversos curtas, o cineasta mineiro Cássio Pereira dos Santos marca sua estreia na direção de um longa-metragem com Valentina, filme que narra a história de uma menina trans que precisa se adaptar a um novo recomeço. Junto com sua mãe, muda-se para uma pequena cidade em Minas e loga enfrenta o primeiro obstáculo: conseguir se matricular na escola local com seu novo nome, para assim, evitar mais desgaste emocional. Porém, mesmo havendo uma lei que permita tal decisão para pessoas trans, é preciso a assinatura dos responsáveis; só que o pai de Valentina sumiu, o que acaba dificultando ainda mais as coisas. Em processo de adaptação, a protagonista passa a frequentar algumas aulas de recuperação para entender o método de ensino e se acostumar com a nova escola. Logo, sela uma amizade com dois outros colegas. Ao que tudo indica, nada parece suspeito a ponto de magoá-la ou colocá-la em uma situação desconfortável. Ledo engano. O preconceito, entranhado no lugar mais cruel de um ser humano, é escancarado em atitudes transfóbicas e de pura maldade, principalmente em personagens estereotipados e bem semelhantes à sociedade que vivemos: o homem hétero, por exemplo, que, hipocritamente, sente sua sexualidade ameaçada; e, por mais absurdo que possa aparecer, existe em bando no mundo real. Valentina constrói uma narrativa carregada de dor, mas também de esperança. Ao mesmo tempo em que faz um retrato real de uma sociedade preconceituosa, machista e ignorante, enaltece a força de sua protagonista ao tentar se reerguer. Fala de bullying, aceitação e representatividade de gênero. Mas também aponta uma luz no fim do túnel com situações que demonstram solidariedade. Thiessa Woinbackk, atriz trans que interpreta a personagem-título, entrega um trabalho elogiável ao dar vida a essa jovem estudante que traz consigo traumas do passado e um certo temor em expor sua privacidade àqueles que ainda não a conhecem. Por conta de seu desempenho, foi premiada no prestigiado Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival. Carismática e em busca constante pela felicidade, se mantém firme em suas decisões e ainda conta com o carinho e amor de sua mãe, vivida por Guta Stresser. Além do elenco entrosado, com ótimas atuações, o longa também chama a atenção para outros elementos, como a trilha sonora eclética que acompanha o cotidiano de seus personagens. Valentina traz também momentos revoltantes e absurdos de intolerância, e que infelizmente acontecem na vida real. Mas, é por meio de sua abordagem afirmativa e inspiradora que se coloca não só como uma obra de ficção, mas também de representação de uma comunidade que sofre ataques diariamente; o Brasil, por exemplo, é o país que mais mata pessoas trans no mundo. O roteiro, também assinado por Cássio Pereira dos Santos, traz uma importância à causa ao evidenciar o tema com verdade; mostra dor, sofrimento, fragilidade, falta de compaixão e empatia, estereótipos de masculinidade, e pasme, consequências de se aceitar e se assumir por ser você mesmo. Por que a felicidade do outro ainda incomoda tanto? Qual o motivo de tanta repulsa? Fato é que ainda precisamos melhorar muito, mas nunca deixar de lutar pela liberdade de expressão. Valentina é uma obra inspiradora e sensível. Ainda que realce uma sociedade doentia e tomada pelo ódio, o filme imprime representatividade LGBTQIA+ na telona sem cair em clichês e mantém o fôlego de uma militância necessária que busca direitos iguais e, basicamente, felicidade sem limitações. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

*Clique aqui e assista ao programa especial com entrevista com o diretor e com a protagonista.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

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