27ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibirá 145 filmes na programação

por: Cinevitor
Caio Blat em O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, de Bia Lessa

A 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontecerá entre os dias 19 e 27 de janeiro, contará com 145 filmes brasileiros: 43 longas, 3 médias e 99 curtas-metragens, vindos de 20 estados. Os títulos serão exibidos, com programação gratuita, em 61 sessões divididas em vários recortes, além de debates, encontros e rodas de conversa.

Como já anunciado, em 2024 o evento celebra as trajetórias de dois mineiros: o cineasta André Novais Oliveira e a atriz Bárbara Colen, que serão homenageados. Além de debates sobre seus trabalhos e a presença de ambos ao longo da Mostra, serão exibidos quase 20 filmes, entre curtas e longas, com envolvimentos dos dois. A abertura ainda traz uma performance audiovisual, a apresentação da temática As Formas do Tempo e exibição, em pré-estreia mundial, dos filmes Quando Aqui, dirigido por André Novais e Roubar um Plano, do mesmo realizador em parceria com Lincoln Péricles.

Em sua 17ª versão, a Mostra Aurora, também já anunciada, é dedicada a filmes independentes feitos por realizadores com até três longas-metragens no currículo e que se caracteriza por trabalhos de risco estético e narrativo representativos do que de mais vigoroso se faz na produção brasileira contemporânea. Como de costume, apresentará sete títulos inéditos em pré-estreia mundial, escolhidos pela curadoria de Francis Vogner dos Reis, Tatiana Carvalho Costa e Juliano Gomes. Clique aqui e saiba mais.

Já a mostra Olhos Livres traz um recorte de longas-metragens que se caracteriza pela diversidade de formas e conceitos, sem regulamento prévio e muitas vezes alternando entre cineastas de carreiras consolidadas e em começo de trajetória. Em 2024, uma situação inédita se impôs, por força da safra: todos os seis títulos da seção são inéditos e terão pré-estreias durante a Mostra de Tiradentes. Clique aqui e saiba mais.

Cena do documentário As Primeiras, de Adriana Yañez

Na Mostra Autorias, o cineasta cearense Guto Parente retorna ao evento com o premiado Estranho Caminho, sobre um jovem cineasta que visita sua cidade natal e é surpreendido pelo rápido avanço da pandemia enquanto busca o pai. O mineiro Ricardo Alves Jr. também volta a Tiradentes em seu novo trabalho, Tudo o que Você Podia Ser, no qual se mostra o último dia de uma personagem na cidade de Belo Horizonte, entre despedidas e afetos familiares. Yvy Pyte: Coração da Terra, de Alberto Alvares e José Cury, é um documentário sobre a busca coletiva da comunidade indígena tekoha, desafiando as imposições coloniais e revelando a ligação profunda entre espiritualidade, terra e liberdade. Por fim, O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, de Bia Lessa, é uma releitura do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e traz Caio Blat e Luisa Arraes no elenco.

A Mostra Clássicos de Tiradentes, uma novidade em 2024, faz um recorte que pretende revelar um universo de filmes que atentam contra duas noções vulgares mais convencionais sobre a ideia clássico: a de filmes amplamente conhecidos e que fazem parte de uma memória em comum do público e a que parasita a ideia de obras de arte que primam pelo equilíbrio e por uma forma de expressão ideal. Os filmes selecionados daqui adiante construíram um lastro que entende a independência como aliada da imaginação e da surpresa.

Nesta primeira vez da mostra Clássicos serão apresentados: o curta-metragem Meu Amigo Mineiro (2013), de Gabriel Martins e Victor Furtado, ganhador do Prêmio do Júri da Crítica da Mostra Foco; e o longa Estrada para Ythaca (2010), de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti, filme que redefiniu a década seguinte como um exemplo de novas práticas de audiovisual tanto em termos de produção quanto de estética.

Enquanto isso, na Mostra Deslumbramento, dois longas-metragens compõem o recorte, realizados por cineastas de prestígio e reconhecimento. Bizarros Peixes das Fossas Abissais é uma animação dirigida por Marão, com vozes de Rodrigo Santoro e Natália Lage, sobre uma mulher com poderes estranhos, uma tartaruga com transtorno obsessivo-compulsivo e uma nuvem com incontinência pluviométrica. Por sua vez, Leme do Destino traz de volta Julio Bressane, um dos grandes nomes do cinema brasileiro, desta vez dirigindo Simone Spoladore e Josie Antello como duas amigas escritoras lidando com seus desejos, amores e fantasmas.

Thati Lopes e Luciana Paes no longa Saideira, de Júlio Taubkin e Pedro Arantes

Os títulos da Mostra Praça em 2024, entre longas e curtas-metragens, seguem com a proposta de obras de diálogo imediato com o público e classificação livre. Entre os longas, há predominância de ficções, com presença forte de elementos da história do país. O grande sucesso Mussum, o Filmis, de Silvio Guindane, trata da trajetória de um músico e comediante essencial no imaginário brasileiro, enquanto o drama familiar A Festa de Leo, de Gustavo Melo e Luciana Bezerra, e produzido pelo coletivo popular Nós do Morro, mostra a luta de uma mãe na tentativa de salvar a vida do pai de seu filho, dependente químico. As Primeiras, de Adriana Yañez, é um documentário sobre grupo de mulheres cariocas de 60 anos que formaram a primeira seleção feminina de futebol do Brasil, numa época em que o esporte era proibido de ser praticado por elas.

Entre os longas da Praça, há ainda as ficções Mais um dia Zona Norte, de Allan Ribeiro, vencedor de sete candangos no Festival de Brasília, incluindo o de melhor filme, que é uma crônica suburbana carioca; e Saideira, de Júlio Taubkin e Pedro Arantes, que mostra duas irmãs a se reencontrar depois de uma década indo em busca da herança de um avô no interior de Minas Gerais.

A Mostra Olhares é a representação de uma diversidade estilística e a singularidade de olhares nos filmes do cinema brasileiro. Descrito como “introspectivo, vagaroso e contemplativo”, pelo curador Francis Vogner dos Reis, o filme Cartório das Almas, de Leo Bello, integra a seleção. A ficção traz como protagonista Laura, interpretada por Gabriela Correa, uma mulher de aparência jovem, que trabalha no Cartório das Almas. Com especulações filosóficas sobre o tema morte, o filme brasiliense foi o vencedor do Júri Popular no Festival de Brasília, e levou também os prêmios de melhor edição de som para Olivia Hernandez e melhor direção de arte para Maíra Carvalho.

A Foco Minas é a mostra onde em toda edição é programada a estreia de um filme de longa-metragem mineiro e que na maior parte dos casos desafia qualquer identidade do que venha a ser considerado produção contemporânea de Minas Gerais. Em 2024, o recorte é composto pelo filme A Estação, de Maria Cristina Maure, uma ficção que se destaca pelo trabalho potente de diretora e elenco.

Cena do curta Se Eu Tô Aqui é Por Mistério, de Clari Ribeiro

Neste ano, serão exibidos 99 curtas-metragens, de 20 estados brasileiros. A curadoria é assinada por Camila Vieira, Mariana Queen Nwabasili, Leonardo Amaral, Lorenna Rocha e Pedro Maciel Guimarães. Os títulos escolhidos são distribuídos em diversas mostras. Determinadas temáticas, como a precarização do trabalho, a violência contra LGBTQIA+, a relação com a terra e questionamentos sobre a masculinidade apareceram mais fortemente para a edição de 2024 e representam um misto de retomada da vida pós-pandemia com possibilidades de novos futuros depois dos tumultuados últimos anos no cenário político e social brasileiro.

Na Mostrinha, serão sete curtas e dois longas-metragens na programação especial dedicada às crianças na Mostra de Tiradentes. Os dois longas são: Teca e Tuti: Uma Noite na Biblioteca, animação de Eduardo Perdido, Tiago Mal e Diego M. Doimo sobre uma traça em crise porque não quer comer livros; e Placa-Mãe, de Igor Bastos, na primeira animação de longa duração realizada no interior de Minas Gerais e que acompanha, pela ficção científica, uma história de aventura e família.

O fim da Mostra, na noite de 27 de janeiro, será com a exibição do longa-metragem pernambucano A Transformação de Canuto, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho. O documentário se ambienta numa pequena comunidade Mbyá-Guarani, entre o Brasil e a Argentina, e trata da lenda de Canuto, homem que se transformou em onça e morreu tragicamente. O filme acompanha a tentativa de se registrar a lenda por meios audiovisuais.

Diversas obras selecionados para a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes integrarão a programação on-line, que vai reunir títulos, alguns exibidos apenas neste formato, na plataforma da Mostra. A seleção inclui títulos da Mostra Panorama e da Mostra Homenagem e serão disponibilizados para visualização entre os dias 20 e 27 de janeiro, simultaneamente à realização da programação presencial da Mostra na cidade mineira.

Além disso, um recorte especial com cinco curtas exibidos no evento farão parte da programação da Mostra Tiradentes na plataforma Itaú Cultural Play; serão exibidos gratuitamente entre os dias 31 de janeiro e 9 de fevereiro.

Cena do curta Pirenopolynda, de Tita Maravilha, Izzi Vitório e Bruno Victor

Com o sucesso e repercussão do Fórum de Tiradentes – Encontros pelo Audiovisual Brasileiro, realizado em 2023 durante Mostra de Cinema de Tiradentes, a Universo Produção promove este ano a segunda edição do encontro sob a coordenação executiva de Débora Ivanov, Mário Borgneth e Raquel Hallak. A proposta é abrir novamente o espaço para a reflexão propositiva, a partir da caminhada de reconstrução percorrida no último ano, de forma a celebrar as conquistas e os passos dados, ao tempo em que se formularão perspectivas e propostas para o ano de 2024 em seus imensos desafios.

O 2º Fórum de Tiradentes adotou o tema central Cultura e democracia: o audiovisual na afirmação da soberania nacional e se organiza em encontros on-line e presenciais com coordenadores, integrantes dos grupos de trabalho e convidados. Entre os participantes, estão realizadores, gestores, pesquisadores e representantes de entidades convidadas. Haverá uma sessão de abertura, três reuniões de trabalho dos eixos temáticos, três debates conceituais e uma sessão plenária presencial e aberta ao público. O debate inaugural do Fórum será realizado no sábado, 20/01, na mesa temática Formação, direitos culturais e o futuro do audiovisual brasileiro, com a presença de Margareth Menezes, ministra da Cultura.

Após os dias de realização do Fórum, suas conclusões serão apresentadas em uma sessão plenária, resultando na elaboração de documento que representa o conjunto das discussões denominada Carta de Tiradentes 2024, que terá leitura pública na presença de participantes e demais interessados.

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, a Mostra de Cinema de Tiradentes apresenta, exibe e debate, em edições anuais, o que há de mais inovador e promissor na produção audiovisual brasileira, em pré-estreias mundiais e nacionais; uma trajetória rica e abrangente que ocupa lugar de destaque no centro da história do audiovisual e no circuito de festivais realizados no Brasil.

Fotos: Divulgação.

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