
A abertura da 28ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes aconteceu nesta sexta-feira, 24/01, no Cine-Tenda, no Centro Histórico, com apresentações artísticas exaltando os povos originários brasileiros e a defesa do meio ambiente.
Com participação de Célia Xakriabá, primeira deputada federal indígena eleita por Minas Gerais, e outros artistas, a cerimônia destacou a temática deste ano Que Cinema é Esse? e contou com discursos potentes: “Nós precisamos descolonizar o cinema porque muitas mentes estão doentes. Hoje nós estamos reflorestando o cinema de Tiradentes. Mulher no poder, floresta de pé. Parem de destruir as nossas florestas. Salve a Serra de São José! Nós estamos aqui hoje para dizer: Que Cinema é Esse?. Nós somos o povo que insiste na luta. Essas telas não serão mais transparentes. Vamos ajudar a transformar o cinema em telas verdes. Vamos aprender e fazer com que o cinema também seja floresta”, disse Xakriabá em apresentação no palco.
A cerimônia contou também com participação de renomados artistas, como Eda Costa, Johnny Herno, Manu Dias, Rodrigo Negão e Sérgio Pererê, que trouxeram elementos visuais e sonoros para ilustrar e transmitir, por sons, imagens e letras, a ideia de um cinema brasileiro singular e inventivo, como é característica da produção exibida em Tiradentes. A trilha sonora foi conduzida ao vivo pela DJ Fê Linz, com projeções assinadas pelo VJ Lucih e figurinos desenvolvidos pela estilista Virgínia Barros. A apresentação foi de Grazi Medrado e David Maurity.
A noite ainda foi marcada pelo emocionante discurso da coordenadora geral da Mostra, Raquel Hallak, que subiu ao palco ao lado de Quintino Vargas Neto e Fernanda Hallak d’Angelo: “Começa hoje a nossa viagem de luzes que revela na tela quem nós somos. Vamos juntos desbravar os territórios da arte e da vida. Vamos nos inspirar na nossa homenageada [Bruna Linzmeyer], que é uma mulher jovem, artista de coragem e de muito talento. Vamos descobrir os caminhos que nos revelam novas perspectivas de Brasil e de mundo. Vamos conhecer o cinema brasileiro, que é rico, plural e audacioso que nos conduz para um lugar que a imaginação não tem limite”.
E reforçou o protagonismo da Mostra como espaço de encontros e fomento ao cinema contemporâneo: “Mais que uma mostra de cinema e um espaço de encontros e afetos, a Mostra Tiradentes é um ponto de convergência entre sonhos e realidade, entre o imaginário e o visceral, entre a soma de todos os tempos que faz do cinema brasileiro contemporâneo um retrato autêntico de país”.
Rocco Pitanga, Raquel Hallak, Antonio Pitanga e Benedita da Silva na abertura
Ainda em seu discurso, citou Guimarães Rosa e refletiu: “O cinema, assim como o sertão, é vasto e infinito. É de quem se permite viajar por ele, de quem se entrega ao seu poder de revelação e transformação. Cada filme é um pedaço deste mundo”. Raquel também abordou a pauta regulatória das plataformas de conteúdo digital, as plataformas de streaming: “Não dá mais para adiar essa conquista. Acreditamos que o marco regulatório, bem estruturado e adequado, vai equilibrar interesses comerciais com responsabilidade e transparência”.
Outro momento importante do discurso de Hallak foi sobre a realização do evento, as dificuldades e sua importância: “Somos uma mostra de cinema que celebra, em 2025, 28 anos de existência. E o percurso para chegar até aqui ainda é complexo e desafiador. Dependemos de patrocínio e parcerias. Dependemos de lideranças. A programação é toda gratuita, não vendemos ingressos, não vendemos estandes, não vendemos espaços publicitários. E todo ano começa a saga e nunca se sabe qual será o resultado… se será possível esse encontro anual. E é inacreditável se pensarmos que já são quase três décadas de realização. Se pensarmos o quanto essa Mostra é necessária para o fazer cinematográfico. Se pensarmos que ela foi precursora da descoberta da vocação turística de Tiradentes e projetou essa cidade mundo afora, atraiu investimentos e impulsionou outras iniciativas na cidade. Se pensarmos que ela representa uma referência histórica na valorização da diversidade artística e na renovação da linguagem do cinema brasileiro nos últimos 28 anos”.
E seguiu: “A Mostra é incubadora de novos protagonistas que ocupam e reinventam as telas com cineastas indígenas, periféricos e emergentes das cinco regiões do país. A Mostra de Tiradentes consolidou-se como o maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão”.
Emocionada, Hallak finalizou o discurso: “Se estamos aqui reunidos, em nome do cinema brasileiro, é porque existe uma força e um propósito que nos une. Equipes que se dedicam incansavelmente, lideranças políticas e empresariais que abrem portas pra gente se apresentar. Patrocinadores e parceiros que têm compromisso com a cultura brasileira e que viabilizam essa edição”.
Dois atos simbólicos também marcaram a abertura oficial da Mostra. O primeiro foi a assinatura de um termo de cooperação para a realização do programa Cinema sem Fronteiras, firmada pelo procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Dr. Jarbas Soares Júnior, representado no evento pelo Dr. Hugo Barros de Moura Lima, e a presença de diversas autoridades, como o prefeito em exercício de Belo Horizonte, Álvaro Damião, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, o prefeito de Tiradentes, José Antônio do Nascimento, e a secretária municipal de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras.
Chico Diaz e Luiza Lemmertz em Girassol Vermelho: filme de abertura
A secretária do Audiovisual Joelma Gonzaga também esteve presente e abriu oficialmente o calendário audiovisual brasileiro, celebrando as conquistas do setor. Em seu discurso, destacou as indicações ao Oscar de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, e reforçou a visibilidade e relevância internacional que o filme vem firmando para o país diante do mundo. Tanto Joelma quanto Raquel Hallak reivindicaram a urgência de regulamentar as plataformas de streaming, uma das bandeiras do setor para 2025, com o propósito de garantir práticas justas e sustentáveis para fortalecer o ecossistema audiovisual.
Depois disso, o público se emocionou com a entrega do Troféu Barroco para a grande homenageada desta 28ª edição: Bruna Linzmeyer, que recebeu a honraria das mãos dos pais, Gerson Linzmeyer e Rosilete dos Santos Linzmeyer. Clique aqui e leia mais.
Fechando a noite de abertura, foi exibido, em pré-estreia, o longa-metragem Girassol Vermelho, dirigido por Eder Santos e codireção de Thiago Villas Boas. O filme mineiro tem no elenco Daniel de Oliveira, Chico Diaz e Luiza Lemmertz, que também marcaram presença. Inspirado no escritor Murilo Rubião, o longa segue a jornada de Romeu, um homem que deixa seu passado e parte numa busca pela liberdade. Ele chega a uma estranha cidade onde um sistema opressor que não permite questionamentos o arrasta a uma sequência de interrogatórios e torturas.
No palco, o diretor Eder Santos discursou ao lado de sua equipe: “As pessoas que estão aqui são super generosas e acreditaram nesse trabalho. Filmamos em 2017 e tá saindo hoje, oito anos depois. É a nossa estreia e tá todo mundo curioso para assistir”.
A 28ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes segue até 1º de fevereiro com 140 filmes brasileiros: 43 longas, 1 média e 96 curtas-metragens, vindos de 21 estados. Os títulos serão exibidos, com programação gratuita, em 62 sessões divididas em vários recortes, além de debates, encontros e rodas de conversa.
*O CINEVITOR está em Tiradentes e você acompanha a cobertura do festival por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Fotos: Leo Lara/Leo Fontes/Universo Produção/Divulgação.