Tarcha, do Saara Ocidental: personagem do filme.
O documentário Exodus – De Onde Eu Vim Não Existe Mais faz um retrato das dramáticas e íntimas histórias de refugiados de diferentes partes do mundo que tiveram de deixar suas casas por motivos distintos.
Escrito e dirigido por Hank Levine, o longa, exibido na 40ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, foi produzido por Fernando Sapelli e Fernando Meirelles, e conta com narração de Wagner Moura. Realizado em coprodução com a Alemanha, as filmagens aconteceram em diversos países como Sudão do Sul, Argélia, Congo, Mianmar, Cuba, Brasil e Alemanha, ao longo de dois anos.
Conversamos com o produtor Fernando Sapelli antes de um debate sobre o filme, que aconteceu nesta terça-feira, 26/09, no Caixa Belas Artes, em São Paulo, mediado pelo jornalista Sandro Macedo e que também contou com a presença do padre Paolo Parise, da Missão Paz São Paulo, e de Talal Al-tinawi, refugiado da Síria.
O produtor Fernando Sapelli no campo de refugiados Saharauís, na Argélia.
Confira os melhores momentos da entrevista:
A IDEIA:
“O Hank Levine [diretor] fez uma viagem para o Senegal em 2008/2009. Lá, teve contato com pescadores que faziam a pesca de subsistência e que tinha deixado de existir porque o governo vendeu toda a costa para navios pesqueiros enormes, acabando com a pesca menor. A única solução era usar os barcos para começar a fazer a cruzada para as ilhas espanholas, que ficam próximas da costa, mesmo sendo uma jornada perigosa“.
“Ele viu isso naquela época e entendeu que tinha uma nova onda de movimentação global. Depois disso, fez um curta sobre essa viagem e nos conhecemos em 2011, quando eu tinha recém voltado de um projeto no qual passei quase um ano documentando o trabalho de ONGs mundo afora. O Hank veio com essa proposta sobre refugiados, que até então era uma temática desconhecida. A gente começou a se aprofundar nessa pesquisa e primeiro fomos identificando regiões do mundo para depois definir os lugares que faziam sentido para o filme. Com isso, começamos a buscar personagens em cada local. A produção começou em 2014 e foram dois anos acompanhando os protagonistas“.
Na Argélia: equipe consegue autorização com representantes do campo de refugiados Saharauís.
PERSONAGENS:
“Fizemos uma pesquisa na Alemanha e no Brasil, mas a busca por personagens de países mais distantes contava com o apoio de um produtor local, que fazia uma peneira de pessoas interessantes, de acordo com a nossa demanda. Quando chegávamos no lugar, passávamos alguns dias com essas pessoas e aí começávamos uma relação para entender se fazia sentido para o filme“.
“Temos quase 500 horas de material e muita coisa não entrou. Tem um personagem do Congo, por exemplo, que a ideia era fazer uma viagem para acompanhá-lo, mas não conseguimos encaixar no filme. Aqui em São Paulo também tinha o Talal Al-tinawi, que acabou ficando de fora. Tínhamos essa ideia de fazer algo global, numa dimensão de cinema, algo grandioso, mas você precisa ter um tempo para contar a história“.
REFUGIADOS:
“Em 2015, que foi aquele momento do grande êxito dos sírios, principalmente indo para Europa, a grande mídia começou a reportar essa situação. Isso gerou uma grande quantidade de material, porém, algo mais jornalístico que acabou gerando um afastamento do público por conta da saturação do tema. O que não significa que o problema não esteja lá; ele continua na mesma dimensão. Acredito que o filme volta nesse momento, que é importante para retomar uma discussão. Exodus é diferente de outros filmes [dessa temática] porque traz uma visão do pós refúgio“.
Dana, da Síria: uma das personagens do documentário.
O TEMA:
“Desde o início o filme foi concebido com uma ideia de trazer uma discussão em cima dessa temática. Não é um filme político. É muito mais para trazer à tona essa questão para que nós, como sociedade, consigamos descobrir qual o melhor caminho para lidar com essa situação. É o momento de entender as questões humanas e culturais para buscar soluções“.
NARRAÇÃO:
“O Wagner [Moura] aceitou nosso convite e acabou fazendo a narração em inglês e português. O texto é de uma autora chamada Taiye Selasi, que é inglesa, mas a família é de Gana. O Hank leu um de seus livros [Ghana Must Go], gostou muito da obra e a convidou para fazer o texto do filme. E foram meses para conseguir chegar nessa versão por conta da enorme variedade para contar essa história“.
Exodus – De Onde Eu Vim Não Existe Mais estreia nesta quinta-feira, 28/09.
Fotos: Divulgação.