Aos 89 anos, Lima Duarte volta aos curtas-metragens em drama dirigido por Diego Freitas.
Filmado durante três dias em São Paulo, o curta-metragem A Volta Para Casa, dirigido por Diego Freitas, de O Segredo de Davi, e produzido pela Parakino Filmes, conta a história de Plínio, interpretado por Lima Duarte, um marceneiro aposentado, que atualmente mora em uma humilde casa de repouso. Lá, ele passa boa parte do tempo relembrando seu ofício, criando objetos a partir de pedaços de madeira e encantando a todos com seu jeito dedicado e paixão pelo que faz. Anselmo, vivido por Guilherme Rodio, um dos funcionários da instituição, é um rapaz solitário responsável por cuidar do jardim e garantir um cotidiano mais agradável aos senhores e senhoras dali.
No domingo de Páscoa, os moradores esperam as visitas de suas respectivas famílias. Plínio veste sua melhor roupa, cheio de expectativa. Filhos vem buscar pais e mães para o almoço, mas ele continua lá. Até que Anselmo, ao vê-lo sozinho e entristecido, se oferece para leva-lo até a antiga casa. Durante o trajeto, Plínio repassa suas memórias sobre o bairro de Santana, onde nasceu e cresceu. A cada lugar que cruzam na região, tem um caso para contar: as regatas que chegou a participar no Rio Tietê e o Mirante de Santana, por exemplo. Sua expectativa cresce à medida que se aproximam da casa onde passou praticamente a vida inteira, a qual descreve nos mínimos detalhes. Chegando lá, porém, tem uma surpresa que coloca em xeque suas recordações.
“A ideia do curta surgiu junto com o Guilherme Rodio [um dos atores do filme] de uma vontade de falar sobre a terceira idade, já que dialogamos muito pouco sobre os idosos e suas questões. O curta traz uma resgate da cidade de São Paulo através da memória de alguém que está perdendo a memória. Além disso, abordamos também a solidão e a modernidade”, disse Freitas. O cineasta, que recentemente fez sua estreia em longas-metragens, retorna ao curta-metragem, formato que teve destaque com o filme Sal, premiado no Cine PE e indicado ao Festival de Gramado.
Diego Freitas e Lima Duarte nos bastidores.
Lima Duarte, um dos maiores atores do país e que conta com mais de 120 trabalhos no currículo, entre TV, cinema e teatro, conta que aceitou fazer o curta depois que se encantou com o roteiro: “Eu gostei muito, achei bonito. Se eu não tivesse gostado, não faria. Porque não há mais nenhuma razão para eu fazer algo se não me agradar pessoalmente e profundamente”, disse o ator.
Entre tantos personagens marcantes, Lima Duarte se destacou ao interpretar Zeca Diabo, na novela O Bem-Amado; Sinhozinho Malta, em Roque Santeiro; Sassá Mutema, em O Salvador da Pátria; entre outros. Além de ter sido um dos atores preferidos do cineasta português Manoel de Oliveira, foi premiado no Festival de Havana e em Gramado por sua atuação no longa Sargento Getúlio, de Hermanno Penna.
Guilherme Rodio, que contracena com Lima e assina o argumento do curta, se sentiu honrado em fazer parte do projeto: “Foi um sonho. Primeiro conseguimos os recursos da Spcine através do edital Histórias de Bairros de São Paulo, depois as locações que deram certo e ter o Lima Duarte, que eu considero um grande ator com uma trajetória fantástica. Ele foi muito generoso por ter aceitado trabalhar num projeto de baixo orçamento. Foi uma honra estar com ele”.
A Volta Para Casa, escrito por Diego Freitas e Diego Olivares, já está finalizado e, segundo o diretor, deve circular em festivais ao longo do ano: “É um filme muito bonito e sensível e pretendemos passar em diversos festivais. É difícil ver um curta com o Lima Duarte, um ator que já fez tantos trabalhos e é muito conhecido. Ficamos felizes pela importância que ele deu para esse formato, pois o Brasil tem excelência em realizar curtas-metragens, mas hoje em dia esses projetos têm sido desvalorizados. É importante resgatar esse formato, que nos permite experimentar e que nos tira da zona de conforto”, revelou Freitas.
Confira o trailer de A Volta Para Casa:
Fotos: Guilherme Raya.