O cineasta durante o bate-papo com o público.
Em 2008, o cineasta Bruno Safadi foi premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes com o filme Meu Nome é Dindi, seu primeiro longa-metragem, que foi exibido na mostra Aurora. Protagonizado por Djin Sganzerla, o filme foi contemplado com o prêmio do Júri da Crítica.
Neste ano, na 23ª edição, Safadi exibiu Sofá na mostra A imaginação como potência. Com Ingrid Guimarães e Chay Suede, o filme é denominado como uma paródia tropical. Na trama, Joana D’Arc, ex-professora da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, tenta recuperar a ex-casa, perdida para a prefeitura. A trajetória é compartilhada pelo pirata Pharaó, da Baía de Guanabara. Nizo Neto, Laura Neiva, João Pedro Zappa, Guilherme Piva, Bruce Gomlevsky, Gustavo Novaes e Luli Carvalho completam o elenco.
No dia seguinte à exibição no Cine-Tenda, que aconteceu no sábado, 25/01, o cineasta participou ao lado de Bruno Keusen, diretor assistente, do seminário Encontro com os filmes, mediado pelo crítico Pedro Butcher e com a presença de Daniel Schenker, crítico convidado.
Confira os melhores momentos do bate-papo:
O FILME
“Eu banquei esse filme com uma parte de uma rescisão contratual, então não tinha compromisso com nada, a não ser comigo mesmo. Era a hora de se jogar em um abismo. E se der certo, deu; se não der, sem problemas. A questão está na realização, principalmente na pessoal, sobre o que você aprende com isso, de como foi esse processo imenso de aprendizado através desse uso das cores ou das dificuldades de relacionamento e emoções que isso traz. Aqui está a beleza do negócio e eu fui atrás da incongruência. Você começa a achar que talvez o filme não passe em lugar nenhum, mas agora está aqui em Tiradentes e passou lá fora [no Festival de Torino]. Saíram textos lindos”, disse o diretor.
PARCERIA COM JULIO BRESSANE
“Como o próprio Bressane diz, temos uma longa conversa que já dura vinte anos. Em junho de 2000 eu fui fazer Dias de Nietzsche em Turim com ele e nunca mais nos distanciamos. Eu estou no meio de uma filmagem [do longa Lilith] e ontem ele foi no set, junto com o Rodrigo Lima. Temos um coletivo que não é uma empresa, é afetivo. Até temos a TB Produções, mas a nossa conversa é diária, de amigo, de vontade de estar junto e fazer coisas juntos. Nesse filme [Sofá], ele nem teve um trabalho direto. Mas eles [Bressane e Rodrigo] são as pessoas com quem eu falo todos os dias. Temos uma troca diária”, comentou Safadi.
“A herança dele [Bressane] é gigantesca. Se você pegar a história do cinema brasileiro, o que mais influencia os jovens de hoje é esse cinema. Não vejo ninguém aqui falando de cineastas do Cinema Novo, por exemplo. Não vejo falando de Paulo César Saraceni, Walter Lima Jr., Leon Hirszman. É uma pena. Mas eu vejo sempre as pessoas falando de Bressane, Rogério Sganzerla, Andrea Tonacci, Ozualdo Candeias. Tem um interesse muito grade na cinefilia internacional e brasileira sobre o trabalho desses diretores. É natural que estimule qualquer jovem; é a possibilidade de pegar uma câmera, fazer e potencializar. O Bressane diz que o cinema é uma produção de forma simbólica. Continua sendo estimulante pra mim. Quando eu o conheci fiquei fascinado”, completou.
Chay Suede e Ingrid Guimarães em cena.
ELENCO
“É um pouco isso: juntar as pessoas e fazer. E também deslocar. O Sganzerla fazia muito isso. Pegava figuras como o Zé Bonitinho [personagem do ator Jorge Loredo] e deslocava para um outro lugar. Eu me identifico muito com isso, até mais com o Rogério [Sganzerla]. O Prefeito [lançado em 2015] já teve isso de pegar uma figura da Escolinha do Professor Raimundo [o ator Nizo Neto, que interpretava o personagem Seu Ptolomeu no programa] e botar nesse filme. E agora também no Sofá, como pegar uma Ingrid Guimarães e colocá-la num outro lugar”, revelou Safadi.
CORES
“Eu nunca tinha pensado em Pop Art, mas é interessante porque tem essa relação do que é arte e do que é vida; e você consegue mudar a escala, mudar a cor e criar um novo sentindo. Repensar elementos tão básicos. A questão da percepção da cor tem muito a ver. Uma referência pra mim foi o Paul Schrader na questão de como uma cor afeta a outra”, disse Bruno Keusen sobre o uso de diversas cores em cenas aleatórias, experimento realizado na pós-produção. “O cinema nasce experimental e vai ser sempre um experimento”, completou Safadi.
Os participantes no bate-papo realizado no SESI Centro Cultural Yves Alves.
EQUIPE
“É muito familiar e a gente tem o gosto de ser caseiro. Nesse meu próximo filme [Lilith] eu fiz questão de fazer a produção na minha casa até onde deu; com o filho tocando o terror na sala e com ensaios lá também. Tudo pra ter essa marca do caseiro, do íntimo, das pessoas realizando várias funções com o gosto de botar a mão na massa. E, com isso, você adquire um conhecimento que ninguém tem. Esse envolvimento é um exemplo para cada um aqui”, disse o diretor.
“Eu estou trabalhando com eles há pouco tempo, mas é uma aula de cinema pra mim essa ideia de filmar em quatro ou cinco dias ou levar uma tarde inteira pra fazer um só plano. É necessário ter um certo cuidado e ao mesmo tempo ter um carinho de família. Sempre que eu participei de set com eles era essa sensação de família”, revelou Bruno Keusen.
“Não dependemos de um milhão de reais da Ancine pra sobreviver, que é ótimo quando tem, mas se não tiver a gente continua fazendo. Essa não é a natureza do negócio”, finalizou Safadi.
*O CINEVITOR está em Tiradentes a convite do evento e você acompanha a cobertura do festival por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Fotos: Netun Lima, Universo Produção/Divulgação.