Rizi
Direção: Tsai Ming-Liang
Elenco: Anong Houngheuangsy, Lee Kang-sheng.
Ano: 2020
Sinopse: Kang mora sozinho em uma casa grande. Através de uma fachada de vidro, ele olha para as copas das árvores açoitadas pelo vento e pela chuva. Sente uma dor estranha de origem desconhecida que mal consegue suportar e que se espalha por todo o seu corpo. Non vive em um pequeno apartamento em Bancoc, onde prepara metodicamente pratos tradicionais de sua aldeia natal. Quando Kang encontra Non em um quarto de hotel, os dois homens compartilham sua solidão. Ambos esquecem o lado duro da realidade por uma noite, e talvez até se aproximem da verdade, antes de retornarem ao seu cotidiano.
Crítica: O consagrado cineasta Tsai Ming-Liang, figurinha carimbada nos mais importantes festivais internacionais, segue sem decepcionar seus admiradores. Com Dias, premiado no Teddy Award do Festival de Berlim deste ano, ele continua a exercitar seu olhar observador. Entre planos longos, com pouquíssimos diálogos, o diretor posiciona sua câmera a fim de acompanhar a rotina de seus protagonistas sem cortes. Tal escolha leva o espectador para uma imersão naquele cotidiano, acompanhando lentamente cada movimento em cena. Aqui, qualquer plano, imediatamente, sugere uma reflexão; seja de um personagem sentado olhando através de uma janela ou preparando um prato tradicional. O silêncio, que por si só já diz muita coisa, só é quebrado por conta de sons habituais, como os pingos da chuva ou do chuveiro, por exemplo. Sem pressa, Tsai Ming-Liang convida o espectador para se debruçar naqueles costumes e tentar desvendar a vida daqueles dois homens, que vivem em realidades diferentes. Há também espaço para o externo: como a cidade e outros indivíduos se movimentam no dia a dia? Ainda que retrate a solidão, Dias traz uma certa sensibilidade quando cruza os caminhos de seus protagonistas. É nesse encontro, inicialmente tímido, que se constrói o afeto; sem muitas palavras, os corpos entrelaçados naquele quarto de hotel falam mais sobre aqueles dois do que qualquer diálogo verborrágico que poderia ser incluído para contar suas histórias e, até mesmo, angústias. Antes de finalizar sua narrativa, Tsai Ming-Liang ainda entrega um grand finale afável e, de certo modo, despretensioso, mas que deixa marcas em seus protagonistas. Dias é sobre solidão, mas também sobre ciclos que provavelmente se repetem e se completam em um vazio físico e sentimental. (Vitor Búrigo)
*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Nota do CINEVITOR: