Les prières de Delphine
Direção: Rosine Mbakam
Elenco: Delphine
Ano: 2021
Sinopse: Delphine, tal qual outras mulheres, faz parte da atual geração de jovens africanas oprimidas por nossas sociedades patriarcais, na qual a colonização sexual ocidental desponta como único meio de sobrevivência. Por meio de sua coragem e força, ela expõe esses padrões de dominação que continuam a aprisionar as mulheres africanas.
Crítica: Premiado no IndieLisboa e no Cinéma du Réel, o documentário As Preces de Delphine, dirigido pela cineasta Rosine Mbakam, destaca uma imigrante camaronesa que reside na Bélgica. Carismática, a protagonista, que aos poucos revela uma certa intimidade com a diretora, narra sua história entre altos e baixos. Neste monólogo da vida real para chamar de seu, Delphine não deixa escapar nada; ela relata com detalhes diversas situações que deixaram cicatrizes profundas. Ao contar esses traumas para a câmera, embarca em um processo doloroso, mas também de desabafo. Cara a cara com seu passado, Delphine acaba reencontrando a si mesma; fala de perdão, sobrevivência, escolhas erradas, medos. Em seu discurso, passeia por temas importantes e necessários, que merecem ainda mais atenção nos dias de hoje. Em certo momento, ela diz: “ninguém me ajudou a fazer escolhas certas”. Com isso, abre uma brecha para refletir sobre sua determinação em alcançar um futuro melhor para si e para os seus. É sobre dar a volta por cima, mas também sobre lidar com fantasmas que a assombraram por muito tempo. Para contar essas histórias, Rosine Mbakam, de No Salão Jolie, exibido no Olhar de Cinema em 2019, se aproxima ainda mais de sua protagonista com uma câmera intimista dentro de sua casa. Ainda que falte ritmo em alguns momentos, por conta de enquadramentos repetitivos, o desenrolar da narrativa se sustenta nas falas potentes de Delphine. Entende-se a intenção da diretora em chamar atenção apenas para essa mulher tão interessante, sem deixar que o externo invada tais confissões. Porém, tal escolha acaba prejudicando levemente o desdobramento das ações. Ainda assim, As Preces de Delphine se apresenta como uma obra substancial com uma protagonista que carrega uma bagagem de sofrimento, superação e sobrevivência em uma sociedade injusta e machista. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Nota do CINEVITOR: