Morreu na noite desta terça-feira, 22/02, aos 83 anos, o cineasta baiano Geraldo Sarno, um dos grandes nomes do cinema brasileiro. Ele estava internado há um mês, em um hospital do Rio de Janeiro, por conta de complicações da Covid-19.
Nascido em 6 de março de 1938, na cidade de Poções, na Bahia, o diretor teve contato com o audiovisual ainda criança quando frequentava as salas de cinema de sua cidade. Foram mais de 50 anos de carreira e cerca de 20 produções, entre elas, curtas, longas e programas de televisão.
Seu primeiro filme, o curta documental Viramundo, foi lançado em 1965. A obra é considerada um clássico do cinema documental brasileiro e aborda a migração nordestina para São Paulo, sendo o início de uma série de estudos de Sarno sobre a cultura do sertão, tema que marcou a sua carreira como um todo.
Em 1970, Geraldo lançou o documentário Viva Cariri, curta que rendeu a ele a Margarida de Prata, premiação entregue pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil às obras nacionais que ressaltam os valores humanos, éticos e espirituais. Anos depois, em 1984, o diretor voltaria a receber o prêmio pelo documentário A Terra Queima.
Um de seus primeiros longas-metragens, Coronel Delmiro Gouveia (1978), venceu o Gran Premio Coral no Festival de Havana, em Cuba, país onde o diretor estudou na década de 1960. O filme, estrelado por Rubens de Falco e Sura Berditchevsky, conta a história de um dos primeiros industrialistas brasileiros, que é perseguido após vender seus negócios para uma companhia britânica.
Geraldo também se destacou com uma série de documentários, como Irão, Casa-Grande e Senzala, Eu Carrego um Sertão Dentro de Mim e O Último Romance de Balzac; este último foi vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado, em 2010.
Seu último filme, Sertânia, realizado pela produtora cearense Cariri Filmes, foi consagrado pela crítica. O longa, que foi rodado durante quatro semanas em cidades do interior da Bahia, conta a história de um homem que nasceu em Canudos e que, após ter a vida familiar marcada por perdas e pela saída do Nordeste para São Paulo, se vê fazendo parte de um bando de jagunços. O elenco conta com Vertin Moura, Julio Adrião, Lourinelson Vladmir, Kécia Prado, Edgard Navarro, entre outros.
A obra passou por diversos festivais de cinema, como Havana e Tiradentes, e recebeu, ao todo, doze prêmios, entre eles: melhor filme, direção, fotografia, ator e ator coadjuvante no Prêmio Guarani e no Festival Guarnicê de Cinema. Com Sertânia, Geraldo também foi premiado no Sesc Melhores Filmes e pela APCA, Associação Paulista de Críticos de Arte.
Além disso, foi eleito o melhor filme de 2020 no Prêmio Abraccine, da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, e ficou entre os melhores do ano na lista do CINEVITOR. Clique aqui e confira uma cena do filme.
Vertin Moura, intérprete do protagonista Antão Gavião, de Sertânia, prestou uma homenagem ao diretor em sua conta no Instagram. “Nosso Geraldo Sarno, um inventor do cinema brasileiro, encantou-se. Te amo Sarno, até a próxima e obrigado”, escreveu.
Em entrevista realizada durante a divulgação de seu último filme, Sarno disse: “Sertânia é resultado de uma reflexão sobre o nosso país que venho realizando em todos meus filmes, desde Viramundo. Nos curtas e longas, de ficção ou documentário, tenho buscado fazer do cinema, de sua linguagem, uma forma de pensar a vida, o mundo e a própria linguagem cinematográfica que se tornou, nesta geração, universal e dominante. Nos anos 60 nos fizeram crer que o cinema não mudava o mundo. Hoje, creio, não há mais pudor em confessar que o cinema e os meios audiovisuais transformaram aceleradamente a sociedade humana. E nem sempre para melhor. Em meus filmes busco refletir sobre isso também”.
Foto: Leo Lara/Universo Produção.