Cannes Classics 2022: Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, será exibido em cópia restaurada

por: Cinevitor
Clássico: uma das principais obras do cinema brasileiro.

Desde o início dos anos 2000, o Festival de Cannes criou a mostra Cannes Classics, uma seleção que permite exibir o trabalho de valorização do cinema patrimonial realizado por produtoras, proprietários de direitos, cinematecas e arquivos nacionais de todo o mundo. Atualmente, faz parte da Seleção Oficial do evento e apresenta obras-primas e raridades do cinema em cópias restauradas.

Neste ano, em sua 19ª edição, o cinema brasileiro marca presença com o clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, que disputou a Palma de Ouro no festival em 1964. Na trama, o vaqueiro Manuel (Geraldo del Rey) e sua esposa Rosa (Yoná Magalhães) fogem para o sertão depois que ele mata um coronel que tenta enganá-lo. No ermo brasileiro, violento e assolado pela seca, eles encontram duas figuras icônicas: Sebastião (Lidio Silva), que se diz divino, e Corisco (Othon Bastos), que se descreve como demoníaco. Amarrar seus destinos com essas figuras é uma decisão trágica, no entanto, pois o mercenário Antonio das Mortes (Maurício do Valle) está em seu encalço.

Em 2019, após anos de um mergulho profundo na história do cinema brasileiro, o produtor Lino Meireles se uniu à diretora Paloma Rocha, filha de Glauber, para restaurar Deus e o Diabo na Terra do Sol, uma das principais obras do cinema brasileiro, em versão 4K. O projeto foi finalizado em 2022, mais de 40 anos depois da morte do realizador baiano.

“É um ciclo completo para a nossa restauração, onde o filme será reexibido pela primeira vez no mesmo local em que estreou. Que seja um novo chamado de resistência cultural”, afirmou o produtor Lino Meireles, diretor do premiado longa-metragem Candango: Memórias do Festival. Paloma Rocha, que exibiu em Cannes o documentário Antena da Raça, codirigido por Luís Abramo, também comentou: “Num país com a cultura tão depreciada, com a produção artística sofrendo ataques, fizemos um esforço de contracorrente. Isso só é possível porque o filme tem a força própria dele”.

A escolha pela obra foi feita não apenas por sua importância para a cultura nacional, mas pelo fato de sua última versão digitalizada ter sido feita em 2002, com qualidade inferior à atual. O novo restauro foi realizado na Cinecolor, empresa parceira da Cinemateca Brasileira, onde estava armazenada a cópia em película; cinco latas de negativos 35mm em perfeitas condições. Apesar disso, parte da obra de Glauber foi perdida no incêndio que atingiu um dos galpões da Cinemateca, em São Paulo, em julho de 2021.

Segundo longa de Glauber Rocha, considerado um marco do Cinema Novo, Deus e o Diabo na Terra do Sol foi lançado nos cinemas brasileiros em julho de 1964, logo depois da exibição em Cannes, e mescla influências literárias de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Os Sertões, de Euclides da Cunha. O legado do diretor inclui longas-metragens como Terra em Transe, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e Di Cavalcanti, premiados em Cannes; e também Barravento, O Leão de Sete Cabeças, entre outros.

Para esta edição, a abertura do programa Cannes Classics será com o francês A Mãe e a Puta, de Jean Eustache, que recebeu o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio FIPRESCI no festival, em 1973. A seleção traz também o clássico Cantando na Chuva, que faz parte da celebração de 70 anos do musical, entre outros títulos consagrados.

O festival também divulgou os filmes selecionados para a mostra Documentários 2022, com produções inéditas, e um destaque para a cinematografia da Índia, o País de Honra desta edição. E mais: a programação exibirá dois títulos que celebram o trabalho cinematográfico do Comitê Olímpico Internacional.

Conheça os novos filmes selecionados para o Festival de Cannes 2022:

CANNES CLASSICS

A Mãe e a Puta ( La maman et la putain), de Jean Eustache (França) (1973)
As Pequenas Margaridas (Sedmikrásky), de Vera Chytilová (República Checa) (1966)
Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen (EUA) (1952)
Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha (Brasil) (1964)
Itim, de Mike De Leon (Filipinas) (1976)
O Processo (Le procès), de Orson Welles (França/Alemanha/Itália) (1962)
O Último Concerto de Rock (The Last Waltz), de Martin Scorsese (EUA) (1978)
Pinga Fogo (Poil de Carotte), de Julien Duvivier (França) (1932)
Pratidwandi, de Satyajit Ray (Índia) (1970)
Si j’étais un espion, de Bertrand Blier (França) (1967)
Thampu, de Aravindan Govindan (Índia) (1978)
Vítimas da Tormenta (Sciuscià), de Vittorio De Sica (Itália) (1946)
Viva a Morte (Viva la muerte), de Fernando Arrabal (França/Tunísia) (1971)

DOCUMENTÁRIOS

Gérard Philipe, le dernier hiver du Cid, de Patrick Jeudy (França)
Hommage d’une fille à son père, de Fatou Cissé (Mali)
Jane Campion, Cinema Woman, de Julie Bertuccelli (França)
L’Ombre de Goya par Jean-Claude Carrière, de José Luis Lopez-Linares (França/Espanha/Portugal)
Patrick Dewaere, mon héros, de Alexandre Moix (França)
Romy, A Free Woman, de Lucie Cariès (França)
The Last Movie Stars, de Ethan Hawke (episódios 3 e 4) (EUA)
Tres en la deriva del acto creativo, de Fernando Solanas (Argentina)

ESPECIAL | COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL

Official Film of the Olympic Games Tokyo 2020 Side A, de Naomi Kawase
Visions of Eight, de Miloš Forman, Youri Ozerov, Claude Lelouch, Mai Zetterling, Michael Pfleghar, Kon Ichikawa, Arthur Penn e John Schlesinger

Foto: Divulgação.

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