Elenco e equipe reunidos na coletiva de imprensa.
Foi exibido na manhã de segunda-feira, 06/10, em São Paulo, em uma sessão especial para a imprensa, o filme Na Quebrada, dirigido por Fernando Grostein Andrade. O longa, inspirado em histórias reais, mostra a vida de jovens moradores da periferia de São Paulo. Os personagens foram inspirados em alunos da ONG Instituto Criar.
Após a exibição, integrantes da equipe e do elenco conversaram com a imprensa. O diretor Fernando Grostein Andrade falou de como surgiu a ideia para fazer o filme: “O pessoal do Instituto Criar me convidou para fazer um documentário sobre os dez anos da ONG. Falei que estava um pouco cansado de fazer documentários, mas, que eu adoraria fazer um filme de ficção inspirado em histórias reais. Eles toparam e foi aí que nasceu o trabalho. Começamos a pesquisar histórias dentro do Instituto. Depois disso, escrevi o argumento e chamei o Marcelo Vindicatto [roteirista do filme O Palhaço] para fazer um primeiro roteiro. A gente fez um filme de ficção, na toada de documentário. Todo o processo começou meio documental. Na ilha de edição era que nem documentário. Tínhamos muitas horas de material, tanto que o nosso editor, André Finotti, acabou virando também roteirista do projeto”.
Fernando também falou sobre como foi dividir a direção com Paulo Eduardo, que se formou na primeira turma de Oficina de Edição do Instituto Criar: “Chamei o Paulo Eduardo pra codirigir para dar autenticidade ao filme. Quando chegamos no set, o roteiro era só uma carta de intenções e a gente meio que refez tudo na hora. Além disso, o Paulo serviu de inspiração para a criação do personagem Zeca [interpretado por Felipe Simas]”.
Paulo Eduardo, Fernando Grostein Andrade e Luciano Huck durante a coletiva.
Luciano Huck, um dos produtores do longa, e também irmão do diretor, falou sobre sua participação no projeto: “O Instituo Criar, nesses dez anos, me ensinou muita coisa. Desde o começo eu queria que a gente de fato formasse mão de obra capacitada para a indústria do cinema, televisão e novas mídias que foram aparecendo ao longo desses anos. A ideia inicial, para comemorar esses dez anos, era fazer um documentário e pesquisar qual foi o impacto que a gente teve na vida dessas pessoas. Mas, o Fernando apresentou outras ideias e as coisas foram realmente se encaixando. O mérito de estarmos aqui hoje é resultado do esforço de muita gente. Dar visibilidade a essas pessoas que estão fazendo coisas muito legais nas periferias e nos presídios e trazer para a grande tela, num lançamento comercial, é uma mistura muito interessante. Estou muito orgulhoso de lançar esse filme”.
Elenco: Jean Luis Amorim, Felipe Simas, Jorge Dias, Domenica Dias e Daiana Andrade.
Jean Luis Amorim, que interpreta o personagem Junior, falou sobre a experiência de atuar no filme e elogiou o diretor: “Meu primeiro trabalho como ator foi no filme Capitães de Areia. Dois anos depois eu recebi o convite do Fernando pra fazer o Na Quebrada e fiquei bastante contente. A preparação foi muito boa e a gente viveu muito o filme. O Fernando é um ótimo diretor, bem paciente e trabalhou com a gente o tempo inteiro durante as preparações”. Felipe Simas, que interpreta o Zeca, também era só elogios: “Esse filme foi meu primeiro contato com o cinema e a preparação fez toda a diferença. A gente não se preocupou muito com texto e sim, mais com a história, com o que estava acontecendo no momento. A história do filme modificou todos nós artisticamente e politicamente também. Eu saí do filme com outra cabeça”.
As meninas Domenica Dias e Daiana Andrade, que interpretam, respectivamente, as jovens Mônica e Joana, falaram muito bem do preparador de elenco Márcio Mehiel: “O Márcio foi muito bom e muito paciente. Aprendemos muitas técnicas que eu acrescentei no teatro também”, disse Domenica. “Tenho formação técnica em artes dramáticas, mas o Márcio mostrou outras técnicas para o cinema, então foi uma nova experiência. Pra mim, o longa foi um aprendizado geral”, revelou Daiana.
Jorge Dias, filho do cantor Mano Brown, vocalista do Racionais MC’s, e irmão da atriz Domenica Dias, interpreta o jovem Gerson e estampa o pôster do filme: “Foi meu primeiro contato com cinema e como ator. Eu e minha irmã recebemos o convite do Fernando pra fazer alguns testes e depois fomos para a preparação. O Márcio [preparador de elenco] foi muito bom e deixou todo mundo tranquilo. Foi uma experiência muito legal”.
Emerson Ferreira e Anderson Lima: dos presídios para os cinemas.
O grupo teatral Do Lado de Cá, que realiza atividades artísticas dentro da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, SP, teve um papel importante no filme. Muitos detentos que participam das aulas atuaram no filme. Igor Rocha, um dos fundadores do projeto, falou da importância da parceria com o Instituto Criar: “A chegada do Instituto foi um oxigênio dentro do cárcere. A partir deste momento eu comecei a acreditar na recuperação do ser humano. De todos que trabalharam no nosso projeto de teatro, nenhum voltou pro crime”.
Emerson Ferreira e Anderson Lima, ex-presidiários que fizeram parte do grupo Do Lado de Cá, estavam muito contentes com suas participações no filme: “Eu fiz parte da primeira turma do grupo teatral Do lado de Cá e foi muito interessante. Uma experiência completamente inovadora. E participar desse filme é uma satisfação imensa”, contou Emerson. “Saí da cadeia na quarta-feira passada, depois de sete anos. Pra mim tá sendo tudo novo. Não tenho nem palavras pra explicar o que eu sinto nesse momento. O Fernando é uma pessoa maravilhosa que entrou na minha vida no momento que eu mais precisava. Eu não acreditava na minha recuperação. Hoje eu posso dizer que sou uma pessoa recuperada e que tenho um objetivo. Minha vida não foi muito fácil, mas não justifica ter entrado pro crime. É muito difícil você se recuperar dentro do cárcere. É uma batalha enorme. Comecei a fazer teatro dentro do cárcere, mesmo com preconceito, mas, a mudança tem que partir de nós mesmos. Se eu não querer mudança, ninguém vai querer. Essa oportunidade do filme que apareceu na minha vida está sendo maravilhosa. Nasci de novo!”, revelou Anderson.
Os irmãos Fernando Grostein Andrade e Luciano Huck.
Questionado sobre quais cenas foram mais difíceis de filmar, Fernando destacou algumas situações que aconteceram dentro do presídio: “Uma delas foi montar a cena da rebelião. Já tínhamos usado os atores principais do grupo de teatro em outras cenas, então faltava ator. Por isso tivemos a ideia de montar a rebelião com os detentos que não tinham passado pelo processo de teatro. Conversamos com todo mundo e fizemos um exercício com quem quis participar da cena. Foi difícil porque a equipe de filmagem estava reduzida e todo mundo estava com medo de rodar essa cena”, disse ele. “Uma outra cena difícil foi quando precisamos usar uma criança. Não tínhamos conseguido autorização do juiz pra levar o menor de idade pra dentro do presídio. Então, primeiro rodamos com um boneco, que não ficou muito legal. Quando saiu a autorização, a gente quis refazer. Mas o juiz só autorizou se tivesse a presença da Trope de Choque. Como atrasou, na hora em que fomos filmar ficamos sabendo que estava na hora do almoço dos presos. Então eu fui conversar com eles e perguntei se topavam atrasar o almoço por vinte minutos, só pra fazer a cena. Eles aceitaram e me pediram pra que, quando ficasse pronto, eu mostrasse o filme pra eles. E deu certo. Nesta quarta, vamos fazer uma pré-estreia lá dentro do presídio”, finalizou o diretor.
Na Quebrada entra em cartaz no dia 16 de outubro. Assista ao trailer do filme:
Fotos e texto: Vitor Búrigo.