Festival de Berlim 2023 anuncia novos filmes; títulos brasileiros são selecionados

por: Cinevitor
Patricia Saravy e Larissa Siqueira no longa brasileiro O Estranho

O Festival Internacional de Cinema de Berlim revelou nesta segunda-feira, 16/01, novos filmes selecionados para sua 73ª edição, que acontecerá entre os dias 16 e 26 de fevereiro. Neste anúncio, o cinema brasileiro marca presença com dois títulos.

Na mostra Forum, o Brasil aparece com O Estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon, uma coprodução com a França. Realizado no Aeroporto de Guarulhos e arredores, o filme retrata o cotidiano de trabalhadores e as camadas históricas desse território. O elenco conta com Larissa Siqueira, Antônia Franco, Rômulo Braga, Patrícia Saravy, Laysa Costa e Thiago Calixto. O longa é uma produção Lira Cinematográfica e Enquadramento Produções em coprodução com Pomme Hurlante Films, Filmes de Abril e Ipê Branco Filmes; a distribuição é da Embaúba Filmes

A sinopse diz: em um território indígena funciona o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Centenas de milhares de passageiros o atravessam diariamente e 35.000 trabalhadores apoiam sua operação. O Estranho retém seu olhar não sobre aqueles que passam, mas sobre o que ali permanece. Seguimos personagens cujas vidas se cruzam no dia a dia do trabalho neste chão. Alê, uma funcionária de pista cuja história familiar foi sobreposta pela construção do aeroporto, nos conduz por encontros através dos tempos. As memórias e o futuro dela e de seus companheiros estão permeados por uma questão comum: rastros de um passado em um território em constante transformação.

O principal cenário de O Estranho é o Aeroporto de Guarulhos, um símbolo de progresso e um monumento do mundo globalizado, mas também um marco do agressivo processo de colonização e ocupação do território. Embora seja um lugar onde as pessoas transitam o tempo todo, o filme joga seu olhar para aqueles que ficam, cujas vidas se cruzam naquele solo onde trabalham.

Filmando no próprio aeroporto e seus arredores, Dias e Mallon definem o processo do filme como uma total imersão no território de Guarulhos: “Pesquisa, preparação e filmagem nos levaram a perceber sua realidade como algo essencialmente heterogêneo e múltiplo. Quanto mais orientamos nosso olhar (e câmera) para os espaços e para as rotinas diárias dos trabalhadores do aeroporto, mais essa realidade se tornou rica e surpreendente. Ao lado do aeroporto encontramos bairros urbanos populosos, mas também comunidades rurais, sítios arqueológicos escondidos, e tribos indígenas em processo de retomada”.

Segundo Flora Dias: “O Estranho é um trabalho de muitos anos e de muitas pessoas. Um estreia como essa em Berlim é uma janela importante pra todas essas energias colocadas no filme. O filme teve e continua tendo uma guiança espiritual muito forte, e eu sinto que os caminhos dele estão sendo abertos pelos ancestrais que o filme reverencia. Além disso, me sinto muito grata de poder levar para o festival, especialmente este ano, um filme que honra essas múltiplas ancestralidades brasileiras. Temos mais uma chance agora, como sociedade, de amplificar nossas histórias indígenas e diaspóricas. E eu espero que O Estranho possa contribuir para isso”.

Juruna Mallon complementa: “Eu vejo O Estranho como um filme de encontros. Foram esses múltiplos encontros que, ao mesmo tempo, se tornaram a própria matéria prima do filme e que definiram a trajetória que o filme iria percorrer. Eles foram os pés e a terra dessa longa caminhada que o filme se propôs a fazer. Num primeiro momento, o encontro se deu com o território de Guarulhos, os trabalhadores do aeroporto, os estudantes e habitantes dos seus bairros. Em seguida, ele se traduziu nas parcerias com equipe e personagens que foram brotando e nos ajudando a lidar cinematograficamente com aquela rica e complexa realidade. A participação neste festival é um início especial para uma nova série de encontros no caminho desse projeto, agora entre o próprio filme e o público”.

Já na mostra Forum Expanded, os filmes e as instalações que compõem a programação giram em torno de legados políticos e pessoais, que muitas vezes estão em frangalhos. Diversificadas em suas formas e temas, as obras compartilham um vínculo afetivo, que serve para mantê-las nas órbitas atípicas que percorrem. Com seus criadores interessados em experimentação artística, eles inspecionam, sondam e examinam; suas descobertas os impulsionam em trajetórias surpreendentes e em constante mudança.

Aqui, o Brasil ganha destaque com o curta-metragem A Árvore, de Ana Vaz, uma coprodução com a Espanha. A sinopse diz: um filme-meditação em sequências de 30 segundos sobre o pai da artista que liga geografias, tempos, vivos e mortos com uma espada de metal; rodado ao lado de Bruce Baillie.

Conheça os novos filmes selecionados para o 73º Festival de Berlim:

FORUM

Allensworth, de James Benning (EUA)
Anqa, de Helin Çelik (Áustria/Espanha)
Arturo a los treinta, de Martin Shanly (Argentina)
Being in a Place – A Portrait of Margaret Tait, de Luke Fowler (Reino Unido)
Cidade Rabat, de Susana Nobre (Portugal/França)
De Facto, de Selma Doborac (Áustria/Alemanha)
Ein Herbst im Ländchen Bärwalde, de Gautam Bora (Alemanha)
El rostro de la medusa, de Melisa Liebenthal (Argentina)
Gehen und Bleiben, de Volker Koepp (Alemanha)
Între revoluții, de Vlad Petri (Romênia/Croácia/Qatar/Irã)
Ishi ga aru, de Tatsunari Ota (Japão)
Jaii keh khoda nist, de Mehran Tamadon (França/Suíça)
Le Gang des Bois du Temple, de Rabah Ameur-Zaïmeche (França)
Notre corps, de Claire Simon (França)
O Estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon (Brasil/França)
Onun Haricinde, İyiyim, de Eren Aksu (Alemanha/Turquia)
Or de vie, de Boubacar Sangaré (Burkina Faso/Benin/França)
Ordnung, de Sohrab Shahid Saless (Alemanha)
Subete no Yoru wo Omoidasu, de Yui Kiyohara (Japão)
The Bride, de Myriam U. Birara (Ruanda)
Unutma Biçimleri, de Burak Çevik (Turquia)
Uriwa sanggwaneopsi, de Yoo Heong-jun (Coreia do Sul)
W Ukrainie, de Tomasz Wolski e Piotr Pawlus (Polônia)

FORUM EXPANDED

A Árvore, de Ana Vaz (Espanha/Brasil)
Achala, de Tenzin Phuntsog (EUA)
AI: African Intelligence, de Manthia Diawara (Portugal/Senegal/Bélgica)
Black Strangers, de Dan Guthrie (Reino Unido)
Borrowing a Family Album, de Tamer El Said (Egito)
Dancing Boy, de Tenzin Phuntsog (EUA)
Der frühe Regen wäscht die Spreu weg vor dem Frühlingsregen, de Heiko-Thandeka Ncube (Alemanha)
Desert Dreaming, de Abdul Halik Azeez (Sri Lanka)
Dreams, de Tenzin Phuntsog (EUA)
Exhibition, de Mary Helena Clark (EUA)
Home Invasion, de Graeme Arnfield (Reino Unido)
If You Don’t Watch the Way You Move, de Kevin Jerome Everson (EUA)
Mangosteen, de Tulapop Saenjaroen (Tailândia)
Pala Amala, de Tenzin Phuntsog (EUA)
Revolver, de Crystal Z Campbell (EUA)
Sahnehaye Estekhraj, de Sanaz Sohrabi (Canadá)
Simia: Stratagem for Undestining, de Assem Hendawi (Egito)
Summer Grass, de Tenzin Phuntsog (EUA)
Tartupaluk (Prototype), de Laakkuluk Williamson Bathory (Canadá/Dinamarca)
The Man Who Envied Women, de Yvonne Rainer (EUA)
The Time That Separates Us, de Parastoo Anoushahpour (Canadá)
Time Tunnel: Takahiko Iimura at Kino Arsenal, 18. April 1973, de Takahiko Iimura (Japão)
Trip After, de Ukrit Sa-nguanhai (Nova Zelândia/Tailândia)
Tsumikh, de Taus Makhacheva (Emirados Árabes/Rússia)
Zwischenwelt, de Cana Bilir-Meier (Alemanha)

*Clique aqui e confira os primeiros filmes anunciados nas mostras Forum e Forum Expanded.

Foto: Divulgação.

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