Giornate degli Autori: cinema indígena Yanomami terá programação especial em mostra paralela ao Festival de Veneza 2023

por: Cinevitor
Cena do curta Mãri hi: A Árvore do Sonho, de Morzaniel Ɨramari

Criada em 2004, a Giornate degli Autori, mostra paralela ao Festival Internacional de Cinema de Veneza, foi inspirada na Quinzena dos Realizadores, de Cannes, com o objetivo de chamar a atenção para um cinema de alta qualidade, sem qualquer tipo de restrição, e com um cuidado especial em inovação, pesquisa, originalidade e independência.

Nesta 20ª edição, que acontecerá entre os dias 30 de agosto e 9 de setembro, o cinema brasileiro marca presença com foco na produção cinematográfica indígena Yanomami no país. A Isola Edipo, uma associação cultural, em parceria com a Giornate degli Autori, reservou um dia especial para o cinema indígena Yanomami. Em 4 de setembro, acontecerá o Gli occhi della foresta, Olhos da Floresta, que exibirá filmes Yanomami na Sala Laguna. Será um dia dedicado ao primeiro cineasta yanomami, Morzaniel Ɨramari, e ao cinema indígena Yanomami no Brasil.

O evento da Isola Edipo, por ocasião da 80ª edição do Festival de Veneza, faz parte do foco anual Cinema da Inclusão entre Visão e Formação (Il cinema dell’Inclusione tra visione e formazione), que está em sua sétima edição. A programação especial pretende valorizar o olhar direto de uma das populações indígenas mais conhecidas da Amazônia e sua centralidade no cenário cinematográfico internacional. Um ato político que devolve à floresta seus olhos, seus corpos e suas vozes, e que leva ao foco de uma reflexão sobre a proteção do pulmão verde da terra, a questão ambiental e cultural dos Yanomami. O evento contará com a presença de Morzaniel Ɨramari e dos produtores e diretores Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha.

A seleção traz Mãri hi: A Árvore do Sonho, de Morzaniel Ɨramari, eleito o melhor curta documental no Festival É Tudo Verdade deste ano, que já o qualifica como um concorrente ao Oscar 2024. O filme conta com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que conduz tal experiência apresentando o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos: “Este filme vai ajudar a fazer com que os não-indígenas conheçam o povo Yanomami, conheçam as nossas imagens. Assim todos podem conhecer como nós vivemos na nossa casa e como nós sonhamos, como os xamãs sonham”, disse Morzaniel.

Yuri u xëatima thë: A Pesca com Timbó também será exibido

A programação exibirá também Thuë pihi kuuwi: Uma Mulher Pensando e Yuri u xëatima thë: A Pesca com Timbó, ambos de Aida Harika, Roseane Yariana e Edmar Tokorino. Estes são os primeiros filmes dos cineastas e estão entre os primeiros filmes dirigidos por mulheres Yanomami, que farão sua estreia em um festival internacional.

O registro dos três filmes foi feito na grande casa coletiva de Watorikɨ, na região do Demini (TIY), produzidos pela Aruac Filmes durante as filmagens do longa-metragem A Queda do Céu, filme livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Em 2022, a Aruac organizou junto à Hutukara Associação Yanomami (HAY) e ao Instituto Socioambiental (ISA) uma oficina de montagem audiovisual, que ensejou a produção dos três curtas. Além disso, também será exibido o média-metragem Urihi Haromatipë: Curadores da Terra-Floresta, de Morzaniel Ɨramari, realizado em 2014. 

“Nós, Yanomami, somos habitantes da floresta Amazônica. No Brasil, somos quase 30 mil pessoas. A terra-floresta é nossa mãe e cuida do povo Yanomami. Desejamos viver em paz, com alegria e fazendo nossas festas. Os napë pë (brancos, inimigos) gostam de destruir a floresta e pegar as riquezas da terra. Hoje, o garimpo ilegal invadiu nosso território. Estamos tristes por perder tantos parentes e ver nossas crianças morrendo por doenças. Nosso rio está sujo de lama e mercúrio, mas nosso território é forte por dentro. Com a árvore do sonho, nós sonhamos longe e os xamãs sonham ainda mais longe, conhecem o canto e a dança dos espíritos, o sonho do rio, o sonho do mundo”, disse Morzaniel Ɨramari, que também promoverá uma masterclass no evento.

Os três curtas são uma produção Aruac Filmes com coprodução da Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes. Os títulos contam com o apoio institucional do Instituto Socioambiental e apoio de uma rede de fundações e instituições internacionais que trabalham diretamente com a Amazônia Brasileira.

Fotos: Divulgação.

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